A mulher que viajou o país em busca do direito ao voto

Bertha Lutz liderou campanha pelo voto feminino no Brasil 100 anos atrás

As lutas das mulheres hoje ainda são muitas. E a cada vez que chega o mês de março há discussões importantes sobre o quanto avançamos e sobre o quanto ainda é preciso avançar: os salários ainda são menores, ainda há preconceito e os crimes contra a mulher (estupros e feminicídio, entre outros) são uma verdadeira calamidade.

No Brasil, a primeira campanha a conquistar um direito realmente importante para as mulheres começou cem anos atrás: foi quando as brasileiras deram os primeiros passos para exigir a cidadania, a garantia ao voto. A conquista em si aconteceria uma década depois, em 1932, já sob a presidência de Getulio Vargas.

Desde 1910 já existia o Partido Reublicano Feminino – algo quase irônico, porque as mulheres não podiam disputar cargos nem votar. Foi um embrião. No começo da década de 1920, cem anos atrás, haveria um passo mais consistente, a criação da Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher.

A grande pioneira do sufragismo (nome do movimento pelo voto feminino em todo o mundo) no Brasil foi Bertha Lutz. Além de reunir interessadas na ideia por aqui, ela começou a manter contato com líderes sufragistas internacionais. Em 1922, conseguiu iniciar uma troca de cartas com uma das principais feministas do mundo no momento, Carrie Chapman Catt.

Banquete sufragista em Macaíba, no Rio Grande do Norte.

“Em 1921, a LEIM inaugurou a prática de enviar cartas e telegramas aos deputados solicitando a atenção a projetos que possibilitassem às mulheres o direito ao voto; cópias dessas correspondências eram encaminhadas também à imprensa”, diz a historiadora Maria do Carmo Rainho.

Não era fácil convencer as pessoas da necessidade do voto feminino. As próprias mulheres, depois de séculos ouvindo que seu lugar era em casa, resistiam à ideia. No mundo todo o clima ficava tenso com essas discussões: em países como Estados Unidos e Inglaterra as suffragettes eram vistas como mulheres perigosas e revolucionárias.

Por aqui, segundo a pesquisadora June Hahner, “a campanha sufragista no Brasil nunca se tornou um movimento de massas – existem poucos destes na história do Brasil -, mas, apesar disso, teve o mérito de se caracterizar por sua excelente organização, bem maior do que a da maioria dos movimentos semelhantes que a seguiram na América Latina”.

Homenagem das sufragistas à primeira eleitora brasileira: Júlia Barbosa. Foto: Acervo/Arquivo Nacional

No Brasil, a primeira chance de quebrar a barreira surgiu em 1927, quando um candidato a governador do Rio Grande do Norte aceitou encampar a causa. Juvenal Lamartine defendia em sua campanha que deveriam ter o direito de “votar e ser votados, sem distinção de sexo, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas”

Bertha Lutz participou ativamente da campanha de Lamartine e da aprovação da proposta, junto com outras mulheres do movimento que chegaram a viajar para o Rio Grande do Norte. No estado, em viagem junto com o pai, Adolpho Lutz, Bertha participou de jantares e eventos com a elite de Natal e de outras cidades do estado para fazer campanha.

A aprovação do voto feminino no Rio Grande do Norte foi um primeiro passo. As mulheres, no entanto, exigiam o voto no país todo. Bertha Lutz chegou a sobrevoar cidades importantes jogando panfletos a favor do sufrágio feminino, que viria em 1932.

Quando o Brasil aceitou o voto das mulheres, dezenas de outras nações já tinham feito esse avanço, que acabou sendo fundamental para permitir que outros direitos fossem assegurados: ao ter representação e condições de usar seu voto para pressionar candidatos, as mulheres foram aos poucos avançando na política e tornando nossa sociedade menos desigual.

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