Vogais

Um poema de Arthur Rimbaud, em tradução de Rodrigo Garcia Lopes

A preto, E branco, I rubro, U verde, O azul: vogais,
Um dia desvendo seus nasceres latentes:
A, corpete peludo de moscas luzentes
Que zumbem ao redor de fedores brutais,

Golfos de sombras; E, vapor de tendas quentes,
Lanças de gelo, reis brancos, frissons de flores;
I, ruge, cuspe de sangue, riso de amores,
Lábios irados ou mil porres penitentes;

U, ciclos, vítreas vibrações que o mar regouga,
A paz dos pastos e animais, a paz das rugas
Que a alquimia imprime na fronte e em seus fólios;

O, Clarim Supremo de estranhos desarranjos,
Silêncios perpassados por Mundos e Anjos:
— Oh!, Ômega, raio violeta dos Seus Olhos!

***

Voyelles

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,

Je dirai quelque jour vos naissances latentes :

A, noir corset velu des mouches éclatantes

Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d’ombre ; E, candeurs des vapeurs et des tentes,

Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d’ombelles ;

I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles

Dans la colère ou les ivresses pénitentes ;

U, cycles, vibrements divins des mers virides,

Paix des pâtis semés d’animaux, paix des rides

Que l’alchimie imprime aux grands fronts studieux ;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,

Silences traversés des Mondes et des Anges :

— O l’Oméga, rayon violet de Ses Yeux !

Jean Nicolas-Arthur Rimbaud (Charleville, França, 20 de outubro de 1854 – Marselha, França, 10 de novembro de 1891).

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