LXX
Vai, livrinho, fazer a saudação em meu lugar,
Vai sem demora ao lindo lar de Próculo.
Qual o caminho? Fácil: passe pelo templo de Cástor,
Cruze a antiga casa das Virgens Vestais,
Depois suba o sagrado monte Palatino,
onde brilham as estátuas do sumo imperador.
Não perca tempo admirando o Colosso,
que deixa no chinelo a obra em Rodes.
Vire quando avistar o telhado do bêbado Baco,
siga até a cúpula de Cíbele decorada de Coribantes.
Bem à sua esquerda fica a fachada esplêndida
e o majestoso pórtico da casa que o espera.
É só chegar, não tenha medo de esnobarem você.
Ali as portas estão sempre abertas,
Nunca houve um lar tão caro a Apolo e suas irmãs.
Se Próculo disser: “Por que ele não veio em pessoa?”,
Saia com essa: “Porque se ele viesse
Não poderia ter escrito este poema”.
***
Marco Valério Marcial
(c. 38-104)
Em Epigramas. Ateliê Editorial, 2018. Tradução: Rodrigo Garcia Lopes.
Notas
Salutatium: a saudação matinal que os clientes (como Marcial) deviam fazer a seu(s) patrono(s). Marcial tinha vários, por isso reclama que o tempo roubado por esses afazeres poderia ser dedicado à escrita, como o epigrama que ele envia.
Procule: C. Julis Proculus, amigo e provável patrono de Marcial.
Marcial nos leva, tendo seu epigrama como guia, a um verdadeiro tour por Roma antiga, num itinerário que começa em sua casa, passa por templos como os de Vestal e de Cástor, o fórum e o monte Palatino, passa pelo Colosso, templo de Cíbele, só terminando na casa do anfitrião-patrono.
Penates: deuses do lar, na mitologia romana, cujas imagens eram colocadas em altares na entrada das casas.
Sobre o/a autor/a
Rodrigo Garcia Lopes
É escritor, tradutor e compositor. Nascido em Londrina (PR), publicou 18 livros de prosa e poesia, incluindo “O Enigma das Ondas” (Iluminuras, 2020).