Romance policial

As pistas estão em toda parte, em seu diário

A lanterna da lua banhava o morto.

No rosto do detetive, nenhum sopro

A não ser o ar pesado do mangue, o corpo

Caído, espesso sangue, e o pouco

Dito pelo policial com cara de mau

Que agora segurava um castiçal

Interrogando a loira de olhos negros

Que trabalhava em um restaurante grego

Da grana e dos bilhetes estranhos no porta-luvas,

Do estranho esgar de sorriso, do sangue em sua luva.

E antes que a canção no rádio acabe

Ele diz: “Para salvá-la, só um milagre”.

Nas mãos, a carta rasgada ao meio, garrafa de uísque

Pela metade. Mas ainda é cedo para que ele se arrisque.

Nada ficou claro nos depoimentos, de como essa sereia

Foi encontrada pela estrada à lua cheia:

“Do que não se pode falar, deve se calar”,

Ela disse, bem no momento dele virar

E ser beijado por seus lábios fatais.

A lua aumentava seus cristais.

Seguiu-se um minuto de silêncio

E os grilos pontuavam um indício. Ela disse:

“As pistas estão em toda parte, em seu diário,

No dia dezesseis em vermelho no calendário”.

Enquanto o detetive revistava a lua

A loira derramou uma poção branca na sua

Garrafinha de uísque. “Nessa profissão, é preciso jeito

Para resolver este quase crime perfeito”.

Ela não dizia nada, ou quase nada, só o olhava

Sabendo que a verdade estava em cada palavra.

A esta altura, tudo parecia bem nítido

E agora ele a forçava a beber o líquido.

***

Poema de Estúdio Realidade (Editora 7Letras, 2013).

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