As 21 de 2021

No momento em que não consigo deixar de ouvir os primeiros acordes de “Tempo Perdido” na interpretação da banda cover, decido que está na hora de meter meus fones de ouvido e partir para mais uma pernada

Do sofá de casa, sábado à tarde, escuto o som embolado e distante de uma banda tocando “Lourinha Bombril” numa dessas comemorações de fim de ano. Até entendo, mas não compartilho dessa disposição em comemorar o término de 2021. Todos sabemos que foi um ano trágico e difícil, mas ainda não me vejo frequentando lugares em que não posso ter certeza de que as pessoas se comportarão com cautela e respeito. Em nome da minha saúde mental, vou desviando.

Aliás, praticar caminhadas duas ou três vezes por semana me ajudou a manter a saúde em níveis aceitáveis nesses últimos tempos. No momento em que não consigo deixar de ouvir os primeiros acordes de “Tempo Perdido” na interpretação da banda cover, decido que está na hora de meter meus fones de ouvido e partir para mais uma pernada.

Sigo na Alberto Folloni e desço a Mario de Barros ao som de(1) Pino Palladino e Blake Mills, cruzo a rotatória, onde vejo as costas da estátua de Confúcio, que parece não se incomodar com a banda que toca nos fundos do Museu. Percebo a proximidade por que os graves que vêm do sistema de som atrapalham o groove de Anderson .Paak que segura um soul-pop no projeto (2) Silk Sonic com seu novo amigo, Bruno Mars. Ao cruzar o Rio Belém, avisto a estátua de Manoel Ribas em frente à igreja redonda, o ruido do museu já ficou para trás e toca (3) Wheather Station. Meu trajeto segue pelos bairros do Centro Cívico, Bom Retiro e Vista Alegre.

Cruzo o Rio Pilarzinho (4) War On Drugs

Subo a Henrique Itiberê da Cunha (5) Sleaford Mods & Amy Taylor.

Desço para a bica do bosque Gutierrez (6) Arlo Parks.

Atravesso o bosque e avisto o casarão da rua Virgínia Bressan (7) Thiago França & A Espetacular Charanga do França

Alcanço o Jardinete Benedito Nicolau dos Santos Filho, paro para me alongar nos brinquedos do parquinho. Deste ponto, consigo avistar as serras do Marumbi e do Ibitiraquire (8) Tom Jones interpreta Bob Dylan.

Entro no mercadinho e compro uma água Serra da Graciosa (9) Sons of Kemet.

Subo e desço as pirambeiras da Vista Alegre pela rua Carlos Leinig Junior (10) Sharon Van Etten & Angel Olsen.

Pego a rua Frédéric Chopin, que me leva ao Oratório Bach (11) Mdou Moctar.

Acesso a passarela da Torre dos Filósofos (12) Lucy Dacus.

Hoje é sábado, o bosque alemão está cheio, desço as escadarias desviando de fotógrafos que capricham nos ângulos para o book das clientes grávidas em vestes coloridas e esvoaçantes, mas que as permitem exibir seus barrigões para as carícias dos jovens maridos com barbas delineadas. Um desses casais se deita na passarela em uma pose ousada, mas que dificulta a circulação dos transeuntes (13) Kings of Convenience & Feist.

A Casa das Bruxas continua seguindo os protocolos, mas isto não acontece com boa parte dos visitantes (14) Little Simz.

Deixo o bosque e sigo em direção à avenida Hugo Simas (15) Billie Eilish.

Desço a rua Ângelo Zeni (16) Caetano Veloso.

Passo a Horta do Jacu (17) Jards Macalé & João Donato.

Contorno a Escola Israelita, que tem matrículas abertas (18) Elbow.

Cruzo novamente o rio Belém pela ponte de madeira no fim da Euclides Bandeira, percebo que estou cruzando o rio por cima da foz do Rio Pilarzinho, que a essa altura já não vê mais a luz do dia (19) Paul Weller.

No estacionamento vazio da Praça Nossa Senhora de Salete, crianças e adultos aprendem a andar de bicicleta com instrutores especializados, algumas das crianças já conseguem pedalar e passam rápidas e orgulhosas entre os aprendizes (20) Genesis Owusu.

Ao lado do Palácio, O mural de Rogério Dias retrata a descoberta das Cataratas do Iguaçu pelo explorador espanhol Cabeza de Vaca. Curiosamente, as águas dos rios e nascentes que acabei de cruzar atravessarão centenas de quilômetros e terminarão desabando naquelas quedas (21) Makaya McCraven.

Retiro os fones de ouvido e paro para atravessar a rua, olhando de frente a estátua de Confúcio, que foi fundida na China e veio parar, meio que por por acaso, numa triste rotatória perto de casa. Leio a placa de inauguração, que tem a data, o nome do prefeito e a seguinte frase do sábio chinês: Ver o bem e não fazê-lo é sinal de covardia. Me pergunto se o prefeito leu a placa que desfraldou. Dos fundos do museu, ouço agora uma banda que interpreta uma canção de Tim Maia em ritmo de pagode. Tira o pé do chão, grita o vocalista.

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