Carta aberta aos vencedores da gastronomia curitibana: premiados, mas a que preço?

bandeira lgbtqia+
Até quando vamos deixar que nosso algoz defina nossa autoestima e autoimagem?

Não haveria como começar essa carta sem antes parabenizar aqueles que se fizeram resistentes e tiveram a fortuna de sobreviver aos tempos de pandemia que parecem finalmente esmaecer. Sabe-se da importância do trabalho individual daqueles e daquelas que constroem a nossa gastronomia citadina, seus eventos e conteúdo divulgado pela imprensa especializada. Nossos sinceros parabéns pela cena a que todos pertencemos. 

Porém, certas posições podem ter o efeito reverso e perverso sobre aquilo que se propunha a promover em primeiro momento. É muito frustrante perceber que há negócios que são aceitos e outros que não, quiçá baseado em uma agenda específica de exclusões preconceituosas. Um rol de reconhecimentos que não abarque iniciativas notórias até nacionalmente como o Bek’s Bar e a padaria O Pão Que o Viado Amassou, sofrem no mínimo de uma miopia analítica. Sem prejuízo, pode-se pensar que talvez a luta das duas iniciativas por um mundo mais igualitário, politicamente justo e menos preconceituoso tenha decretado sua sentença numa possível invisibilização. 

Vivemos em um país que nos impõe desafios mil e muitos são pura e simplesmente de ordem financeira. Não sejamos levianos. Entendemos que alguns reconhecimento comerciais sejam necessários e reflitam diretamente no faturamento de inúmeros negócios. Também entendemos que a euforia de ser reconhecido depois de tanta tristeza, luta e dificuldade possa ter ofuscado análises mais profundas. Porém, nos parece extremamente frustrante ver a chancela oriunda deste lugar de desprezo, ser celebrada como totem de validação por alguns de nós, e também excluir outros, “menos desejáveis”, através da sua lógica supressora. A quem a comenda serve, ao celebrado ou ao celebrante? 

Não se trata de querer incluir os deixados de lado sobre a métrica legitimadora de comportamentos aceitáveis, se trata de convidar aqueles que “passaram no teste”, a refletir se é essa chancela que realmente lhes interessa. É deste lugar excludente que vamos construir a validação de nosso trabalho ou podemos tomar as rédeas de nossa fortuna e começar a dizer quem somos e que mundo desejamos para nós e para todos daqui para frente? 

Até quando vamos deixar que nosso algoz defina nossa autoestima e autoimagem? No momento em que permitimos definir quais de nós somos aceitos e quais não, falhamos em nos afirmar como pluralidade. Portanto, queremos aqui deixar o convite a outros empresários que pertençam a magnífica multiplicidade não-conforme aos padrões heteronormativos para que se façam essas perguntas. E principalmente, se a fonte das comendas são dignas de nos representarem. 

Seriam esses prêmios positivos e construtivos para o mundo que nós, população LGBTQIA+, queremos ter? Enquanto não temos uma resposta única para essa pergunta, gostaríamos de parabenizar novamente a todos os nossos colegas mas também, lembrar-lhes que juntos, talvez possamos muito mais! 

Felipe Petri, Giovana Lima, Gabriel Castro.

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