A melhor conversa entre amigos

Já fiz o Conversa entre Amigos para grupos bem pequenos e para centenas de pessoas reunidas em um teatro

Quero contar para vocês o que tenho feito para incentivar a leitura como instrumento de mudança para uma sociedade mais ética e virtuosa.

Há 16 anos comecei a pensar como eu poderia ser uma ponte entre os livros e as pessoas.

Eu estava lendo “Felicidade”, de Eduardo Gianetti. O livro fala sobre um grupo de pessoas que se conheceu no tempo de escola e que decide reconstruir a amizade que um dia os uniu. Passam a se reunir para conversar sobre temas que interessam a todos. Claro que as coisas não funcionam tão bem e eles precisam ir reorganizando os encontros: cortam as bebidas alcoólicas durante as conversas, delimitam o tempo dos debates e preparam antecipadamente os temas a serem abordados. Concordam que, antes do encontro, todos leiam um mesmo texto, que será o ponto de partida. Dessa leitura me veio a inspiração para o nome: Conversa entre Amigos.

Eu estava me reunindo com 12 colegas do Detran (na época eu dirigia o órgão) para falarmos de um livro que eu sugeria. A “conversa entre amigos” estava rolando e não parou mais.

Desde então o grupo cresceu, mas o funcionamento continua assim: compro algumas dezenas de livros, distribuo para um grupo de pessoas e dali a uns 45 dias nos reunimos em uma livraria, um café, na sala de uma escola ou em um teatro. Conversamos entre nós sobre o que lemos ou ouvimos o próprio autor, se ele estiver presente. O formato desse encontro depende do livro e, principalmente, se consigo trazer o autor para conversar conosco.

Já fiz o Conversa entre Amigos para grupos bem pequenos e para centenas de pessoas reunidas em um teatro.

Uma vez fui até Campo Mourão, em uma viagem de 450 quilômetros, para debater sobre um romance. Ao chegar lá, encontrei apenas oito pessoas me esperando. Pensei até que era uma “pegadinha” dos organizadores locais, mas não era. Só tinham aparecido mesmo oito leitores. Então fiz de conta que havia diante de mim uma plateia de uma centena de pessoas e dei o meu melhor.

Em outra ocasião, depois de ler “Rota 66” e “Abusado”, de Caco Barcellos, resolvi trazê-lo a Curitiba para um bate-papo. Apareceram 414 pessoas que lotaram a plateia de um teatro. Tanto conversar com oito pessoas em Campo Mourão quanto ouvir o Caco Barcellos junto com mais 414 convidados foram experiências inesquecíveis.

Outro caso que vale a pena contar foi a Conversa entre Amigos com o moçambicano Mia Couto. Depois que encerramos a conversa, ninguém ia embora, ninguém saía. Ele é genial.

E teve o dia em que convidei o Francisco Azevedo. Diante do autor do romance “O Arroz de Palma”, a emoção tomou conta dos presentes. Eles se emocionaram de ler e ouvir Francisco e eu me emocionei ao assistir aquele encontro.

Também já houve Conversa entre Amigos com Carola Saavedra, Milton Hatoum, Fernando Morais, a espanhola Maria Dueñas, o sul-africano J.M. Coetzee, e tantos outros.

Hoje tenho um grupo na Aliança Francesa, outro em Araucária e um terceiro no TRE apenas para funcionários do Tribunal. No próximo ano, sonho em expandir o projeto. Quem sabe vou te ver entre os participantes do Conversa entre Amigos?

Antes de me despedir, aí vão os livros que li no mês de outubro e que recomendo, ambos da Editora Rádio Londres: “Canto da Planície”, de Kent Haruf; e “Butcher’s Crossing”, de John Willians.

Felicidade. Eduardo Gianetti. Companhia das Letras. 232 págs.

Canto da Planície. Kent Haruf. Rádio Londres. 320 págs. Tradução de Alexandre Barbosa de Souza.

Butcher’s Crossing. John Willians. Rádio Londres.  336 págs. Tradução de Alexandre Barbosa de Souza.

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