Uma pessoa: Ricardo Ramos Ganharani

Bia Moraes entrevista Ricardo Garanhani, carnavalesco da Mocidade Azul

Bailarino, cenógrafo, aderecista e carnavalesco da escola de samba Mocidade Azul

Ele tem 29 anos no Ballet Guaíra – nos anos mais recentes, faz parte da G2, companhia master do Guaíra, que reúne bailarinos com muita experiência de palco e de dança. A cenografia sempre foi um sonho de vida: trabalhar com cenários, figurino e adereços de teatro. Ricardo cursou Arquitetura na UFPR e sempre fez dança, então teve a melhor escola para se tornar cenógrafo, que é o Teatro Guaíra. Já o Carnaval….

Desde quando você se dedica ao Carnaval?
Ah, sempre esteve na minha vida. Desde criança eu sempre gostei do Carnaval. Milhões de vezes eu fui assistir o Carnaval do Rio. Até que um dia eu fui encontrar com a Rosa Magalhães, (colaboradora do Ballet e do Teatro Guaíra) na Imperatriz Leopoldinense. Ela me convidou para ficar lá e trabalhar. Resultado: durante três anos eu fui pro Rio trabalhar, de “peão” mesmo, na Imperatriz. Mas diretamente com a Rosa, então eu acompanhei toda a magia que envolve o Carnaval carioca.

E a Mocidade Azul?
Alguém me indicou pra Mocidade Azul porque, afinal, eu era “o cara que fazia Carnaval no Rio” (risos). A escola estava parada há tempo, precisando recomeçar, isso foi há dez anos. Eu fui lá pra Fazendinha, me perdi…eu não conhecia ninguém! Mas misturou o sonho de fazer Carnaval e a paixão imediata que eu senti pelas pessoas, pela escola. E estou aí, fazendo o meu décimo Carnaval com a Mocidade!

Por que a Mocidade?
Eu não consigo me imaginar em outra escola de samba. É destino. Nesses dez anos eu tive as maiores alegrias e tristezas da vida, eu aprendi muito, e tive tanto retorno dessas pessoas… Reconstruímos a escola e conseguimos juntos fazer a Mocidade crescer muito! Eu me tornei carnavalesco na Mocidade, eu me inventei carnavalesco na Mocidade. Eu me envolvi demais com a comunidade. Meu sangue é azul!

É de que região a Mocidade?
A escola tem muita gente da Fazendinha. A sede da Mocidade Azul fica na rua Valdemar Cavanha, 660. Mas tem também pessoas de todo lado, de diversos bairros.

Como está a questão de verbas? A prefeitura contribui com quanto esse ano?
Esse é o segundo ano em que a escola recebe a verba em outubro. É uma maravilha, porque a gente já recebeu verba quinze dias antes do Carnaval! É um avanço! Recebemos R$ 80 mil pra este ano. Muita gente diz “Nossa pra que tanto”. Quem vê o tanto de trabalho e de gente, o tamanho do espetáculo, o quanto o público espera da escola… Eu tenho a maior responsabilidade com essa verba, que é pública. É um trabalho lindo que a gente faz com o samba. Tem gente aprendendo a costurar, a desenhar, a pintar, a ter um novo parâmetro estético. Amplia o horizonte dessas pessoas.

O que a Mocidade prepara para o desfile desse ano?
Ô abre alas que eu quero passar, Carnaval é Ubuntu, uma grande causa pra sambar”. É uma filosofia africana que fala de solidariedade e de relações entre as pessoas. Ubuntu fala de uma família alargada, que abraça a natureza, a comunidade, o sagrado e os antepassados. Com muito respeito. É um tema lindo e atual, pois a gente precisa acreditar na solidariedade. “Eu sou porque nós somos”, é isso. A escola vai vestir a nossa África, com uma estética diferente de tudo que a Mocidade já apresentou.

Você realmente vive a comunidade, não é?
Sentimento de pertencimento é tão importante pro ser humano, né? E te faz ter tolerância, respeito… A gente desfila com quase 600 pessoas, e todas elas estão lá, comprometidas com uma coisa que é maior que elas; e ao mesmo tempo é uma festa, um espetáculo para o público. A realização desse trabalho é uma felicidade imensa. Joãosinho Trinta falava disso: o poder revolucionário da festa popular, do Carnaval. Pra mim isso tudo é lindo.

“Meu sangue é azul”, diz Ricardo. Foto: Keila Santiago.

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