Uma Pessoa: Ana Wanke

A curitibana Ana Wanke nasceu para viajar – e fazer os outros pegarem a estrada junto com ela. A história de Ana lembra o começo da autora de Comer, Rezar, Amar. Assim como a americana Elizabeth Gilbert, ela resolveu viajar logo depois de uma separação. “Naquela época estava começando a internet, nem sabia como fazer buscas, mas acabei chegando na Chapada Diamantina com uma mala de rodinhas, tailleur e sapato de salto. Parecia um filme de comédia”, conta.

Lá, foi convidada para fazer uma travessia de 4 dias pelo Vale do Paty, dormindo no chão e tomando água de rio – coisas que ela nunca tinha feito na vida. “Consegui uma mochila emprestada, comprei uma calça de trekking na cidade de Lençóis mesmo, e fui! Descobri um mundo novo e me joguei de cabeça.” 

Assim, Ana fez a descoberta que se transformou, mais tarde, na agência que ela abriu: “Caminhar é atividade física mais democrática que existe, e também é a melhor maneira de se conhecer qualquer lugar, seja na cidade, seja na natureza”, diz.

Ela batalhou muito para deixar a carreira de engenheira elétrica e consolidar a sua agência. Para Ana, é uma fábrica de realizar sonhos. “Não só os meus, mas o de muitas outras pessoas.” Os roteiros de aventura na natureza abrem caminho para uma outra aventura, que ela considera a mais difícil de todas. “Sair da individualidade e de sua zona de conforto, para experimentar a vida em grupo, a prática da solidariedade e da tolerância.”

Como você começou a agência de viagens?

Quase todo mundo já passou por um momento de inquietação ou insatisfação. Eu passei por essa situação há alguns anos. Tinha uma carreira estável e bem sucedida como engenheira, sentia que algo me faltava, mas não sabia o que era. Foi então que procurei a ajuda profissional de um coach para me recolocar no mercado. Na primeira sessão tive que descrever o emprego dos meus sonhos. Achei que fosse uma tarefa fácil. Depois, surpreendi-me ao reler a minha resposta. Eu já sabia qual era o trabalho dos meus sonhos. Quando voltei à segunda sessão eu mudei radicalmente o meu objetivo e me direcionei. E o que era uma recolocação no mercado de engenharia passou a ser a construção de um legado.

Não foi fácil sair da zona de conforto. Tive medo, dor de barriga, noites de insônia e enfrentei muitas outras dificuldades, mas acreditei no meu sonho e fui à luta. Fiz cursos, contratei consultoria, fiz um planejamento estratégico, defini meu público alvo. Hoje a empresa Ana Wanke Turismo de Aventura é uma realidade. 

Quantas viagens você já fez?

Não sei, mas tenho a certeza que não pararei nunca! A satisfação que tenho com experiências tem muito mais valor do que a aquisição do carro do ano e ou bens de consumo como celulares. Tenho notado que é cada vez mais fácil encontrar pessoas, assim como eu, que reconheçam que suas experiências em viagens foram as mais marcantes de sua vida e trouxeram muito mais felicidade.

Você faz desde passeios de um dia até viagens longas como o Caminho de Santiago, a Provence e a Patagônia. Como você escolhe os roteiros?

Os roteiros às vezes nascem de sonhos e devaneios… Pesquiso lugares pela internet e vou in loco sempre, antes testar o roteiro. Algumas vezes não dá certo, as outras… Ah! Vem aquele brilho nos olhos e temos mais um roteiro novo. Eu viajei muito antes de abrir a agência e isso me trouxe certa bagagem. Mesmo assim sempre estou em busca de novos roteiros, como El Bolson, na Argentina. Poucos ouviram falar, mas é um lugar belíssimo no qual pretendo fazer uma caminhada de inverno no gelo este ano.

Você passou por algum perrengue grave viajando? 

Há quatro anos, no dia 25 de abril, eu guiava nosso penúltimo dia de trekking nas montanhas do Himalaia, no Nepal. Estávamos em 20 brasileiros e quase o mesmo número de pessoas da equipe técnica, entre guias locais e carregadores. Já era a reta final de uma série de 9 dias de caminhada, que tinha como um dos objetivos principais alcançarmos o Acampamento Base do Annapurna. Naquele dia fomos surpreendidos por um forte tremor. Frações de segundo se passaram até que eu entendesse o que estava acontecendo: um terremoto! Avisei minha família e postei nas redes sociais quase em tempo real que havíamos passado por um “pequeno” terremoto. Se eles ouvissem qualquer informação a respeito, podiam ficar tranquilos, pois todos da equipe estávamos bem e seguros. Ao longo dos dias que seguiram ao terremoto, dei muitas entrevistas para jornais e televisões para tranquilizar as famílias dos brasileiros que me acompanhavam. Dias se passaram até que o aeroporto abriu. Entramos em Kathmandu no dia do embarque. Posso dizer que, assim como do lodo nasce a flor de lótus, os sentimentos causados pelo terremoto fizeram nascer uma linda amizade.

A agência vem crescendo nos últimos anos. Você tem concorrência?

Estamos em uma crise econômica, mas durante muito tempo eu consegui crescer na crise. Fui pioneira em levar o profissionalismo para as montanhas do Paraná, quero dizer: levar clientes pagantes, com conforto e comodidade. Recebi muitas críticas, fui taxada de mercenária, ainda mais sendo mulher, mas hoje esses preconceitos foram superados. Tanto que muita gente resolveu seguir o meu caminho. Tenho bastante concorrência, mas posso afirmar que nossa empresa tem um produto e um serviço diferenciado. Nós tomamos toda as providências para que o nosso cliente se preocupe com o mínimo possível. 

Qual foi a viagem que mais te marcou?

Para mim um ponte de inflexão na minha vida foi meu primeiro Caminho de Santiago. Percorri os 800 km sem smartphones, WhatsApp nem redes sociais. Estava em busca da minha essência e a encontrei. Descobri que temos máscaras sociais e em uma longa (e segura) caminhada como a de Santiago de Compostela, essas máscaras caem e se chega à nossa essência. Foi transformadora e reveladora.

Como você se prepara para fazer tantas viagens? 

Sobra muito pouco tempo para a vida pessoal. Meu escritório é junto da minha casa e fica difícil separar a vida pessoal da profissional. Nas últimas semanas, eu decidi organizar melhor meu tempo com ajuda profissional. Agora tenho tempo para fazer musculação, pois só as caminhadas não são suficientes para fortalecer todos os músculos do corpo.

Que conselho você dá para quem sonha em viajar bastante?

A máxima de que a vida é curta e o tempo passa rápido é um fato. Sugiro que faça um pacto com o tempo e use-o a seu favor. Sonhe grande, trabalhe duro, invista em sua alma, insista, invista tudo que você tem naquilo que você acredita, fazendo as coisas acontecerem para a vida valer a pena. A única pessoa que pode fazer isso por você é você mesmo, acredite!  E escolha ser feliz!

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