Lado B – Um Lugar: A Camponesa, onde ainda tem pão “bundinha”  

Bia Moraes fala de uma deliciosa tradição curitibana, o pão d'água

Tomar café com leite quente e comer um pão fresquinho com manteiga no fim da tarde é um hábito tipicamente curitibano. Ou paranaense. Mas onde encontrar o pãozinho d’água e uma xícara de café com leite? Na Camponesa!

Fornadas de pão d’água saem a toda hora, desde 7h30 da manhã. Cinco padeiros-chefes se revezam até seis e meia da tarde. E saem, os pãezinhos. Como saem.

Na Camponesa, o movimento é intenso. No fim da tarde, a partir das cinco, chega a faltar lugar no balcão para quem quer tomar o café da tarde curitibano. E as filas para comprar pão d’água também são grandes.

Por que tanto movimento numa padaria simples, com instalações modestas? A tradição explica. O pão “bundinha”, que há 30 anos era o único – ou o principal – produto vendido nas panificadoras da cidade, desapareceu. (Na Camponesa, nunca).

O “bundinha” foi engolido, junto com as padarias pequenas de bairro, pelas fórmulas prontas que a indústria da panificação começou a empurrar goela abaixo dos curitibanos. Além do francês, chegaram os croissants, pães de queijo, brioches, baguettes, australiano e uma infinidade de produtos para satisfazer o gosto de todo mundo.

Some-se a invasão dos supermercados, oferecendo diversos pães e broas industriais – alguns, até com padarias próprias –, a crescente onda fitness, e o surgimento de panificadoras gigantes, que servem até almoço, e pronto: decretou-se o fim do pãozinho d’água, adorado por quem cresceu lanchando um simples sanduíche de pão com manteiga.

Agora temos o resgate dos pães artesanais (padarias idem). Mas são caros. E poucos.

No finalzinho da tarde, quase tudo já acabou na padaria Camponesa.

Tradição e “ponto”

A tradição da Camponesa tem, ainda, a ajuda do “ponto”. No centrão de Curitiba, em frente a vários pontos de ônibus – e bem perto das praças Zacarias, Rui Barbosa e Carlos Gomes – a localização da padaria é imbatível. Socorre quem tem aquela fomezinha de fim de tarde ou quem precisa de café da manhã, e abastece aqueles que estão voltando para casa.

Ali o pão d’água é feito como sempre foi: água, farinha, fermento, sal e açúcar. Sem fórmula pronta.

A Camponesa, fundada em 1976, sofreu reforma recente. Nada que tenha desconfigurado o layout de sempre – só deu uma leve modernizada.

À frente do negócio hoje estão dois herdeiros dos fundadores. Antonio Garcia Matias Francisco, que é da primeira geração de brasileiros da família, assumiu no lugar do pai. O pai dele, junto com o cunhado, seu Garcia – recentemente falecido – vieram de Portugal na década de 1950. No lugar de Garcia, ficou a viúva.

Os dois sempre trabalharam com alimentação. Tiveram restaurante na Rua XV, outro também no Centro, e o restaurante Brasília, que ficava no mesmo lugar da Camponesa.

Em 1976, eles reformaram o local e abriram a padaria. Não sabiam, mas fundaram uma tradição na cidade.

Ali na Camponesa todo mundo se mistura. E todo mundo, independentemente do dinheiro que tem – ou não tem – compartilha o balcão, onde se come em pé mesmo. Sem frescura.

As atendentes servem pão quentinho e crocante com manteiga (bastante! Que derrete!), sanduíche de mortadela ou queijo e café com leite, rapidinho e sem distinção de freguesia.

O lanche dos curitibanos, aqui, sai rapidinho.

Outras padarias

O pão “bundinha” é encontrado em outras panificadoras. Mas nem de longe faz o sucesso igual ao da Camponesa – que tem, lógico, outros tipos de pão.

Na padaria O Forneiro, que fabrica só pães artesanais, o pãozinho d’água é produzido todos os dias. É bem bom, passado na farinha de milho fininha.

Quando pergunto quem compra, os dois sócios respondem em uníssono: “Só quem é de Curitiba!”.

Anote aí

Padaria Camponesa

Rua José Loureiro, 17 – Centro – Curitiba

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