Lado B: Cinco perguntas para Cris Betina Schlemmer

Coluna entrevista a diretora da peça O Caderno Rosa da Senhora H

Por que montar Hilda Hilst, e por que “O Caderno Rosa de Lori Lamby” especificamente?

Esta escolha aconteceu em 2014. Na época, eu estava pesquisando vozes femininas da literatura brasileira com o objetivo de montar um espetáculo teatral a partir de um texto literário, para ser adaptado em forma de monólogo. Recolhi algumas indicações e, entre elas, estava o nome de Hilda Hilst, uma autora até então desconhecida para mim. Entre todos os textos que li na época, “O Caderno Rosa de Lori Lamby” foi o que mais mexeu comigo. Ele era forte, ousado, e ainda contava com a maestria da escrita de Hilda. Como éramos uma companhia iniciante, eu também estava à procura de um texto que pudesse chamar a atenção para nosso trabalho. O “Caderno Rosa”, então, reunia todas essas características. 

Como foi a reação do público na primeira temporada? 

A reação do público foi maravilhosa. Tivemos todas as sessões lotadas durante nossa temporada no Teatro Novelas Curitibanas no começo deste ano, e uma ótima divulgação boca a boca: algumas pessoas assistiram à peça duas vezes, e muitos outras chegaram a conseguir ingresso somente na terceira tentativa (nossa sessão é limitada para um público de 20 pessoas). Acredito que hoje em dia as pessoas estão indo mais preparadas para o teatro. Muitas pessoas também já conheciam a autora e o texto, e estavam curiosas para conferir a adaptação. 

Na era Bolsonaro, você tem sentido mais dificuldades na aprovação de projetos ou na divulgação?

Este ano tivemos mudanças de governo na esfera federal e na estadual que impactam diretamente no (r)estabelecimento de políticas públicas para a Cultura. Assim, tudo fica mais difícil e moroso, principalmente no que diz respeito ao lançamento de novos editais e na confiança das empresas em incentivar projetos. Não vejo dificuldades com relação a divulgação e público. Hoje em dia, redes sociais são grandes aliadas na divulgação e compartilhamento das informações. Já há algum tempo, graças a essas políticas públicas e o desenvolvimento da economia criativa, temos um bom público consumidor de cultura e que ainda tem ainda um grande potencial de crescimento. 

Teve alguma dificuldade na preparação e na direção da atriz? 

Eu e a Thyane Antunes, atriz do espetáculo, trabalhamos juntas desde 2010. Nós temos uma comunicação afinada, e por isso trabalhamos de uma maneira muito produtiva. Nossos ensaios aconteceram em dezembro e janeiro. Antes disso, trabalhamos junto com o Lucas Komechen na adaptação do texto, o que deu um ganho imenso na hora de ir para os ensaios, pois já estávamos imersas nos universos de Lori e da escritora, que também é personagem da peça, na nossa versão. Assistimos documentários sobre Hilda Hilst, vídeos de entrevistas, lemos entrevistas compiladas e a biografia da escritora para nos inspirar. Também tivemos um trabalho de preparação corporal com a Natália Drulla, que procurou despertar o corpo e a memória afetiva e infantil da atriz, para a composição de Lori. 

Você consegue viver só dos projetos?

Não sei se isso é possível. Talvez somente uma pequena parcela da classe artística, com mais visibilidade e tempo de estrada, consiga. Sou da opinião que devemos distribuir os “ovos” em diferentes “cestas”. Além disso, não basta apenas você ser somente atriz ou somente diretora. É importante desenvolver outras habilidades para assumir outras funções dentro do próprio projeto e ter a possibilidade de aumentar seu rendimento. Além de diretora, também sou produtora cultural, contadora de histórias e professora universitária.


Serviço

O Caderno Rosa da Senhora H
De 25 de julho a 11 de agosto
Teatro José Maria Santos
Apresentações às 20h, de quinta-feira a sábado, e às 19h aos domingos.

Sobre o/a autor/a

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