LADO B #01

Uma coluna que revela, a cada 15 dias, uma pessoa e um lugar que valem a pena descobrir, conhecer e frequentar. E ainda: cinco perguntas - que nenhum repórter costuma fazer - para figuras da política, empresárias ou empresários.

Uma coluna que revela, a cada quinzena, uma pessoa e um lugar que valem a pena descobrir. E ainda: cinco perguntas – que nenhum repórter costuma fazer – para figuras da política, empresárias ou empresários.


Uma pessoa: Rafael Silveira, artista visual

Ele é mestre numa categoria artística ainda não muito conhecida: surrealismo pop. Ou surrealismo retrô. As obras de Rafael Silveira têm muita – muita mesmo – personalidade. As figuras de sonho (ou pesadelo) que Silveira produz possuem vida própria.

Rafael Silveira no Centro Cultural Fiesp. Crédito: Cecília Miranda

“É como se minha mente fosse um porto onde as ideias vão atracando constantemente”

Recentemente ele expôs individuais no MON, e ainda na galeria Choque Cultural, e no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo. E ainda faz uma parceria com a mulher, Flavia Itiberê. Ela produz bordados incríveis sobre obras de Silveira, que prepara agora uma pintura sobre óleo, para uma coletiva em Londres.

A tua arte vem evoluindo e hoje você tende a usar cores mais vivas, figuras bem definidas, no lugar de traços mais fluidos. Você acredita que é uma fase que vai permanecer?

Tenho pensado, sim, em algo mais fluido. Meu processo tem um caráter de experimentação constante, mas sem abandonar a produção anterior. Uma nova “fase”, como você comentou, não se sobrepõe as outras, se soma a elas e vão seguindo paralelamente. Essas pesquisas vão ampliando o meu universo e o tornando cada vez mais complexo. 

Quando você começou a carreira?

No campo das artes gráficas. Ilustrava revistas, trabalhava também com design e publicidade. Cheguei a ganhar prêmios. Em 2004 comecei a me interessar por pintura e o circuito de galerias e museus. Em 2008 pintei uma série que virou capa e encarte de um álbum da banda Skank: foi um divisor de águas. Em 2009 entrei para a galeria Choque Cultural, em São Paulo, e desde então trabalho com eles. 

Pintura Oásis (óleo sobre tela, acervo do artista)

Demorou para você poder viver da sua arte?

Fiquei cerca de 10 anos trabalhando no circuito da publicidade/design/ilustração. Aprendi muito e conheci muita gente bacana. Depois de um tempo trabalhando só como artista, confesso que a galeria ajudou bastante a consolidar o meu nome entre o público mais especializado.

O casamento com a Flavia resultou numa parceria artística. Como é trabalhar com a própria mulher e ainda conviver com ela?

Temos uma sintonia muito boa, algo raro, que nos permite conviver intensamente, e pensar de forma parecida e complementar. Vivemos em uma espécie de processo criativo ininterrupto, as ideias vão surgindo naturalmente durante as conversas do dia a dia. 

Na expo que você fez na Choque e no  MON você trabalhou com objetos. Você pretende continuar?

Creio que é parte da minha pesquisa artística essa experimentação entre os planos 2d e 3d. Certamente haverá novas obras com esta característica. 

Qual trabalho agradou mais ao público?

“O Sorvete”, instalação com um sorvete gigante derramado, fez muito sucesso no MON e também em São Paulo, no Centro Cultural Fiesp. 

Instalação “O Sorvete” no MON. Crédito: Ernst Photography

Como é o reconhecimento local para você e tua arte?

A exposição no MON foi incrível, 100 mil visitantes. Me sinto bem acolhido no circuito das artes da cidade, embora enxergo ainda muito espaço para ser conquistado. Eu atuo muito em São Paulo e no exterior, espero num futuro próximo poder fazer mais exposições na cidade. 

Eu sei que é lugar-comum perguntar isso, mas vamos lá: de onde vem a inspiração?

Vem de um conjunto grande de fatores. A vivência se soma com a pesquisa, vai criando um repertório, uma bagagem. Mas confesso que muito da inspiração vem também de um processo bem orgânico. É como se minha mente fosse um porto onde as ideias vão atracando constantemente. São muitas, o tempo todo, fico até confuso. O que faço é uma espécie de imigração: escolho quais delas vão migrar do mundo das ideias para o mundo das artes.

O quê você está preparando para a expo em Londres? 

O tema da coletiva em Londres é “Mother and Child”, um clássico da pintura, mas que a curadoria quer revisitar em uma visão mais humana e contemporânea. Minha obra vai ser uma pintura óleo sobre tela com referências de pintura clássica, mas com elementos insólitos que levam o espectador a um mergulho profundo pelo mente do personagem, em uma alegoria onírica repleta de narrativas paralelas. 


Um lugar: Horta do Jacu

Espaço público e comunitário, onde se planta, se colhe, se aprende, e todo mundo se respeita.

Mutirão inaugural. Crédito: Arquivo Horta do Jacu

Tudo começou com o Parque Gomm e a horta de lá, feita pelos ativistas que batalharam pela criação do espaço público. O que acendeu uma luz para a Horta Comunitária do Bom Retiro – que, por sua vez, gerou a iniciativa para a Horta do Jacu. 

A diferença em relação às irmãs “mais velhas” é que o Jacu não tinha espaço definido – as duas hortas urbanas nasceram a partir de um local que já havia sido ocupado por cada turma. 

A Horta do Jacu começou quando os principais integrantes da iniciativa se conheceram na horta do Bom Retiro, e constataram que todo mundo morava perto. E então se deu a busca por um terreno.

Crédito: Newton Goto

Quase que foi num outro espaço ali pertinho. Ainda bem que não – o proprietário já demonstrou interesse em construir lá. O terreno do Jacu é da Prefeitura. É enorme, abriga até um rio e uma pequena nascente. E, graças às iniciativas anteriores, houve mudança da legislação urbana municipal em relação às hortas. Assim surgiu a Horta do Jacu, há pouco mais de um ano.

Os integrantes da turma dizem que ali tudo é experiência. Desde o manejo da terra e as formas de plantar – diversas técnicas de agricultura orgânica e agroflorestal vão sendo testadas – até as regras de convivência. Ou seja: nenhuma.

“A gente costuma dizer, desde a horta do Bom Retiro, que as plantas trazem pessoas, e as pessoas trazem plantas “, diz Newton Goto. A liberdade é total, o portão nunca se fecha e cada um que frequenta o lugar traz alguma coisa para somar. Ou diminuir. “A gente sabe que tem gente que vêm aqui e colhe muita coisa”, fala. “Ao mesmo tempo, olha ali, recebemos não sei de quem essas plantas aí. É comum acontecer isso”.

Plantas que foram deixadas ali por alguém. Crédito: Vicente Moraes

Ou não traz nada além da presença. Chega ali pra conhecer.

E assim segue o baile, sempre verde. Tem balanço feito de pneu. Tem banquinhos, feitos por todo mundo, pra namorar, prosear ou descansar. Tem o que colher – mais de 100 espécies diferentes de plantas, que à primeira vista não se mostram, mas com tempo e orientação, dá pra enxergar e descobri-las.

Já teve festa junina. Uma feira batizada de Jacutroca (sim, era de trocas!). Sessão de cinema. Show musical no Jacupalco – que, por sinal, estava encondido entre plantas crescidas quando a Lado B esteve lá. Já teve mutirão – uns ensinam, vários aprendem, todo mundo põe a mão na terra. E já teve muita gente subindo no JacuPicchu – um morrinho que fica atrás da horta em si.

Uma sessão do JacuCine. Crédito: Newton Goto

Acreditem: é divertido, é saudável e sinaliza uma mudança grande de comportamento. Curitibanos conhecendo os vizinhos. Curitibanos mudando a maneira de se alimentar e resepensando a forma de tratar a terra, por menor que seja o terreno disponível.  Curitibanos respeitando as diferenças e colaborando entre si. Certo – precisa tempo e mais iniciativas como essa, ou suas irmãs, pra trazer mais transformações. Mas é, ou não é, INCRÍVEL?


Cinco perguntas para… Ricardo Arruda

Deputado estadual (PSL), missionário da Igreja Mundial e reeleito para seu segundo mandato.

Crédito: Assembleia Legislativa do Paraná

Como é um dia típico na sua vida? 

Acordo às 6:30 e faço meu treino; após o banho, tomo o meu café da manhã e vou para o gabinete, geralmente já tem várias pessoas para atender. Às vezes tenho alguma agenda de trabalho fora, secretarias de estado ou visita em bairros ou municípios. Sigo uma alimentação saudável. Depois do almoço temos o plenário da Assembleia e ainda, reuniões e atendimentos públicos. Fico até 21 ou 22h no gabinete. Geralmente, quarta-feira à noite ou quinta de manhã, fazemos viagens para o interior, visitando os municípios para ver as suas demandas. E posso afirmar que são muitas, sem falar do descaso do governo com as estradas e com esse abusivo e corrupto pedágio.

Que livro o sr. recomenda?

Além da Bíblia Sagrada, aconselho a todos terem a Constituição Federal, que poderá ser muito útil. Mas o livro que, ao meu ver, continua atual é Fahrenheit 451.

O sr. tem arma? 

Tenho arma, sou atirador e totalmente favorável à liberação de armas ao cidadão/ã de bem, respeitando os critérios, que são fundamentais.

O sr. é vaidoso? 

Veja, gosto de me cuidar, vejo isso como algo saudável, e acredito que boa parte das pessoas gostem de se cuidar. Corto cabelo e barba no Rei da Barba, e uso perfume. Não me preocupo com grifes de roupa.

O sr. foi presidente de uma instituição financeira. O que recomenda para aplicar o dinheiro? 

Fui presidente de banco, tenho 30 anos de trabalho no setor financeiro. Sou gestor financeiro, graduado em finanças. Ao vir para a política, foi um choque para mim ver tamanha falta de responsabilidade, honestidade e ética, um atraso gigante em comparação com o setor privado. Mas acredito em um novo e correto Brasil, com uma política honesta, competente e ética. 

Aplicar o dinheiro? Após 14 anos de um governo corrupto e incompetente, fica difícil ter dinheiro para aplicar, porém, aplicação segura deve ser feita em bancos chamados de primeira linha, os de grande porte. Mercado de ações? Tem que se tomar muito cuidado, ter conhecimento. Eu pessoalmente prefiro aplicar em bancos e setor imobiliário, lógico, após uma boa análise.

O Brasil terá uma grande evolução na economia. O que ainda vai demandar tempo é a educação; vamos precisar de muitos anos e investimentos para consertar o estrago feito pelo governo do PT, que esculachou a educação e os valores morais. Mudar a cultura de um povo demanda tempo, investimento, dedicação e leis rígidas.

Sobre o/a autor/a

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