Setembro Verde: a importância da acessibilidade e da inclusão da pessoa com deficiência nos museus

Museus são espaços que promovem a cultura e o aprendizado, portanto, deveriam estar preparados para receber e proporcionar uma experiência agradável e acessível para todos

Humanizar a história do Holocausto não é tarefa óbvia. Personificar, trazendo rosto e nome, faz parte da proposta pedagógica do Museu do Holocausto de Curitiba, ao abordar a vida e seus mais variados formatos, cores e origens nas visitas. Compreender a pluralidade de sujeitos, no entanto, deve significar também um processo de inclusão de todos os visitantes, respeitando as suas particularidades e desafios. Por esse motivo, tornam-se urgentes as propostas que visam tornar o espaço do museu um local verdadeiramente acessível para todos os públicos. A missão de humanizar deve estar atrelada à missão de incluir. 

Os museus são espaços que promovem a cultura e o aprendizado, portanto, deveriam estar preparados para receber e proporcionar uma experiência agradável e acessível para todos. Essa é a opinião da professora e psicóloga Maria Eduarda Tramontina, entrevistada pelo Museu do Holocausto de Curitiba para tratar da inclusão da pessoa com deficiência.

O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência é celebrado em 21 de setembro, sendo escolhido este o mês para promoção da Campanha Setembro Verde. A psicóloga chama atenção para seu principal enfoque, que é a conscientização acerca da necessidade de acessibilidade e inclusão social das pessoas com deficiência nos diferentes espaços, criando justamente um cenário de mesmos direitos e oportunidades para toda a população.

De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), a pessoa com deficiência seria aquela que tem alguma restrição de longo prazo, seja física, intelectual, mental ou sensorial. Dessa forma, é essencial pensar em estratégias para a verdadeira inclusão de todos os públicos na sociedade, algo que demanda esforços institucionais, políticos, financeiros, sociais e de recursos humanos.

Para a profissional, o tema da acessibilidade em museus é de extrema importância. A pessoa com deficiência tem o direito de vivenciar tudo o que o espaço cultural tem a oferecer, da melhor maneira possível, sem que se sinta excluída ou prejudicada quando se trata da temática atinente ao museu.

A professora ressalta que as crianças devem se sentir parte do grupo. A atenção, em uma visita, por exemplo, não deve ser voltada com preferência ao jovem com alguma deficiência, pois agir assim seria ir contra a ideia de acessibilidade e inclusão. Maria Eduarda Tramontina reforça que a adaptação do espaço museal facilita a percepção e compreensão do conteúdo que está em exposição, mas sem a intenção de que este seja o foco principal.

No tocante ao contato com a pessoa com deficiência no espaço do museu, a profissional ressalta a questão do respeito e da consideração com as particularidades de cada situação. Não ignorar, conversar de maneira natural e amistosa, não superproteger e dar autonomia nas atividades são alguns pontos importantes a serem considerados. Além disso, é de extrema relevância não subestimar a inteligência da pessoa com deficiência intelectual, pois apesar de levarem mais tempo para aprender certas informações, sempre podem adquirir muitas habilidades intelectuais e sociais.

Nessa toada, o Museu do Holocausto de Curitiba tem pensado em iniciativas que promovam a inclusão e a construção de um espaço verdadeiramente acessível. Uma destas é a criação de novos cartões de identificação (prática já adotada no museu) que sejam voltados para jovens diagnosticados com transtorno do espectro autista. Assim, a proposta de humanizar a história do Holocausto ganha novos formatos e configurações, que possibilitam a real inclusão destes jovens na visita ao espaço.

Segundo o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de interação social, comunicação, aprendizagem e pelo desenvolvimento de comportamentos repetitivos e restritos. É dividido em 3 graus de gravidade, variando as características ditas acima. A participação ativa de indivíduos com o transtorno do espectro autista em visitas a museus, exposições e outras atividades é mais do que necessária, sendo estes ambientes agradáveis e favoráveis ao desenvolvimento cognitivo e social da pessoa com tais diagnósticos.

Visando incluir de forma efetiva os jovens que visitam esses espaços culturais, a profissional lista alguns parâmetros a serem adaptados no museu. Entre eles, estão: o uso de sinalização com imagens para que o indivíduo tenha noção de onde está e de onde vai entrar; placas com imagens disponíveis para os profissionais que guiam as visitas; antecipação das atividades que serão realizadas durante a visitação, por auxílio de imagens; utilização de tom de voz suave, com volume baixo, evitando ruídos dispensáveis e altos; e evitar contato físico, pois alguns indivíduos com autismo podem ser sensíveis ao toque. Em se tratando de crianças, é recomendável que o guia ajoelhe para ficar à sua altura e estabeleça um contato visual com o “pequeno” visitante; entretanto, se não acontecer uma conexão, não é necessário forçá-la. 

A criança dentro do espectro autista, quando inserida no meio social, tende a ter uma melhora no quesito socialização, comunicação e aprendizagem de maneira geral, desde que essa inserção ocorra de forma adequada a seus cuidados e limites. Para a psicóloga, quanto mais projetos como este forem sendo implantados em museus e outras instituições culturais, mais a inclusão será priorizada nas vistas e as pessoas com deficiência vão também se sentir mais pertencentes ao grupo, reduzindo o preconceito e a intolerância com o espectro autista.

Alguns museus já são espaços mais atrativos para crianças do espectro, por serem recheados com obras de artes, esculturas e imagens. No entanto, ainda apresentam uma enorme variedade de estímulos sensoriais, de iluminação, por vezes com muito conteúdo escrito, como é o caso do Museu do Holocausto de Curitiba, suscitando assim a implementação dos cartões de identificação acessíveis.

Por fim, Maria Eduarda Tramontina reforça que essa será a peça-chave de suporte para esse público, auxiliando a entender, em especial, o que acontecerá em cada etapa da visita, proporcionando uma organização espacial necessária e uma visita ao museu mais efetiva e agradável.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima