A importância do ensino do Holocausto para crianças

A empatia, o respeito, o cuidado com o outro, a tolerância e a ajuda mútua são alguns exemplos dos valores que podem ser extraídos

Em 12 de outubro, comemora-se o Dia das Crianças no Brasil. Nosso país foi um dos primeiros a celebrar essa data e, desde 1924, o calendário brasileiro tem um dia especialmente dedicado a elas. A partir do século 18, as primeiras teses da pedagogia moderna começaram a pensar a criança de acordo com suas singularidades físicas, cognitivas e sociais. Sendo assim, é natural que, com o passar dos tempos, infinitas iniciativas e projetos educativos colocam a importância de cuidar e planejar o ensino levando em conta suas particularidades. O Museu do Holocausto de Curitiba também considera que este tema tão árido e difícil que é o Holocausto deve ser transmitido e adequado a elas.

O historiador Bodo Von Borries afirma que um aprendizado significativo sobre a história só é possível se novas perspectivas puderem ser conectadas com as antigas, se ela estiver conectada a emoções, sejam elas positivas ou negativas, e, por fim, se o fato histórico estudado for relevante para a vida. No caso das crianças, o ensino de fatos históricos perpassa pelo que chamamos de empatia e alteridade. Isto é, ao perceberem que situações que vivenciam hoje como brincar, ir à escola, viver em família, entre outras coisas, também aconteciam no passado, sua atenção e curiosidade se voltam para conhecer ainda mais sobre essa história de pessoas que viveram em outros tempos, e absorvem delas práticas para o seu dia a dia. Nesse aspecto, o ensino da história do Holocausto representa um dos muitos caminhos pelos quais, ao entrar em contato com a trajetória de outras pessoas que viveram nesse recorte temporal, as crianças possam aprender sobre si mesmas e refletir sobre seus próprios contextos.

Não se trata da utilização de relatos pessoais como fonte primária, mas sim os valores e as lições que estas histórias trazem. A empatia, o respeito, o cuidado com o outro, a tolerância e a ajuda mútua são alguns exemplos dos valores que podem ser extraídos dessas narrativas.

É claro que ao se pensar no ensino da história do Holocausto para os pequenos, não se pretende apresentar os horrores dos fuzilamentos, ou das pilhas de corpos, ou das câmaras de gás. O que se almeja é estabelecer um “diálogo” entre histórias de pessoas que passaram esse momento quando crianças, ou até mesmo quando adultos, com as vivências das crianças de hoje. Falar dos dilemas do Holocausto é pensar nas crianças que ainda passam fome, é discutir o fato de estarem fora da escola porque precisam trabalhar (mesmo o trabalho infantil sendo proibido na atualidade), é refletir sobre as pessoas que precisam sair de suas casas por diversos motivos e residir em outros locais, e tantas outras questões que permitem relacionar essa história às discussões de assuntos de cidadania presentes hoje.

Não são raros os relatos de trabalhos desenvolvidos com estudantes das séries iniciais do Ensino Fundamental, que chegam ao conhecimento do Museu do Holocausto de Curitiba. São práticas pedagógicas que envolvem o uso da literatura, de produções artísticas (desenhos e poemas) desenvolvidos por crianças durante o Holocausto, trechos de filmes, entre outros subsídios, na tentativa de levar os jovens estudantes a pensar o seu próprio entorno, o seu cotidiano e, principalmente, sua relação com o outro. São atividades realizadas dentro da perspectiva da Educação em Direitos Humanos e que ecoam na identidade e história pessoal dos estudantes.

São ações como essas, de professoras e professores, que impulsionam o museu a insistir em iniciativas relacionadas ao ensino da história do Holocausto para crianças. São formações, propostas de atividades, indicações de livros, construção e organização de materiais pedagógicos que visam instrumentalizar os docentes nessa prática, que é desafiadora e, ao mesmo tempo, tão rica de possibilidades. Há que se pensar nos pequenos estudantes como indivíduos curiosos e que se interessam pelo modo de viver e pelas histórias de outras pessoas, sejam do seu tempo ou de outro.

Pensar na possibilidade do uso de recortes da história do Holocausto no ensino de crianças menores é pensar na possibilidade de trabalhar com narrativas que não são “contos de fadas”, mas que trazem em si o mesmo encantamento, porque usam relatos de pessoas reais, cujos descendentes estão, muitas vezes, entre os próprios alunos. Esse movimento da escolha do recorte “ideal” perpassa pela ideia do professor pesquisador. Ao considerar as características de sua turma, as necessidades de aprendizagem e as discussões que deseja suscitar, o docente se torna o protagonista desta ação pedagógica e, consequentemente, desenvolve o pensamento autônomo e crítico dos alunos.

Aventurar-se nesse ensino é saber que a competência dos pequenos estudantes para raciocinar sobre essa temática está diretamente ligada ao quanto o recorte da história utilizado é relevante para eles. O que significa dizer, em outras palavras, que a questão mais importante não é o que se ensina às crianças, mas como se ensina.

Programação especial

Em outubro de 2021, o Museu do Holocausto de Curitiba promove uma programação especial em suas redes sociais para comemorar o Mês da Criança. São diversas ações que têm a infância como foco. Tratam-se de contações de histórias, animações que retratam narrativas de sobreviventes, indicações de livros, poemas e desenhos produzidos por crianças que viveram o período do Holocausto, sugestão de artigos e filmes, além de eventos virtuais, transmitidos pelo Zoom.

Confira a programação:

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