P*t#s da cara do mundo, uni-vos!

Quem não está p*t# é porque ainda não entendeu

Essa semana fiquei dividido sobre qual assunto escrever para esta coluna. Não por falta de tema, pelo contrário, mas por uma crescente sensação indeterminada, algo entre estar feliz e estar puto da cara. Nessas horas acho que a poesia fala mais que a prosa.

Digo assim, pois tenho certeza de que quem não está puto é porque ainda não está sabendo ou ainda não entendeu.  Putos da cara do mundo, uni-vos!

Sim, há ainda espaço para a felicidade. Tem a minha cadela me lambendo a cara pela manhã para me acordar, tem a moto para pegar a estrada, o beijo da namorada, o cafézinho virtual com os amigos. Tem também a farsa da lava-jato sendo escancarada e a CPI da pandemia – que, naturalmente, só levam felicidade a quem é pró-democracia e pró-ciência.

Mas também têm o neo-fascismo brasileiro, as ânsias totalitárias, o ataque ignorante à ciência pautada na intelectualidade desonesta, a tentativa de inflar os ânimos para uma luta armada preconizada pelo discurso do presidente da República e, claro, o imenso vexame internacional que o Brasil está passando e que me faz ter um pouco de vergonha de ligar para os amigos europeus, já que vou ter que explicar a fala bizarra do embaixador neofascista brasileiro na França, dizendo que a culpa das mortes em nosso país é da esquerda e do Superior Tribunal Federal (STF).

Parece que estar puto da cara virou uma atitude subjacente, assim, já sob a pele e que deixa a gente em dúvida sobre o que deveríamos combater primeiro. Seria a atual política genocida? A incompetência dos ministros? A crescente onda bolsonazista? A gangue do escritório do ódio e suas fake news? A má gestão federal diante de uma catástrofe sanitária mundial?  O preço da carne no supermercado?

Me parece que não.

Nós, os putos da cara por legitimidade devemos estar sofrendo de outra coisa. Digo “coisa” pela possibilidade de ser algo da ordem do não dito, daquilo que não tem palavra ainda. Tentamos por meio da razão, de exemplo e de dados argumentar com quem não acredita em nada disso. E isso é frustração garantida.

Não vejo saída para o impasse, a não ser caminharmos em direção daquilo que ainda não somos, mas ainda viremos a ser. Construídos por uma ética ainda melhor, pautada na possibilidade de materializar saídas concretas.

Qualquer totalitarista em essência não aguenta nem a liberdade da transformação, nem a possibilidade de se reinventar, pois para se tornar um totalitário é necessário a crença de que o mundo já está pronto e nada de novo vai acontecer.

Isso é também poesia, e eles não suportam poesia.


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