Estamos no futuro?

Reflexões sobre o tempo presente e as exposições de Aricia Machado

O humano e a natureza sempre foi tema para a arte, aliás, a arte sempre teve apenas alguns grandes temas principais que atravessaram todos os artistas desde que começamos a criar para além das palavras ditas. Afinal, a experiência humana é marcada pelas mesmas pautas que se traduzem de forma peculiar ao tempo e cultura de cada geração.  As formas de amar podem ter mudado, mas o espaço para o amor ainda está lá. Da mesma maneira estão as formas de sofrer e doer. Não se dói da mesma maneira como antigamente, mas a dor sempre esteve em pauta equivalida pelas novas normas sociais, metaforizada em outros contextos ou metonimizada para um novo calendário. Conforme aquilo que se traduz em atualidade corrente acontece o ser humano aprofunda questões sem necessariamente deixá-las para trás.

O psicanalista Jacques Lacan comenta sobre a passagem da revolução copernicana na qual a ciência mudou do paradigma do universo girando ao redor da Terra para o fato de que é na verdade nós que rotacionamos ao redor do sol.  Discutiram muito para debater a cerca  de um centro para ser orbitado. Aquilo que se pensava no centro mudou, mas a ideia de um centro simbólico não, comenta Lacan.

Eis aí onde a arte sempre consegue se espremer pelas frestas daquilo ao qual não queremos ver. O que são hoje as questões que nos delimitam? Artistas podem sentir sobre isso e materializar através do que produzem enquanto espelham o mundo que habitam.

O quadro O Lavrador de Café (1934) de Portinari mostra uma cena com uma árvore cortada. Um simbolismo todo diferente era aquele inerente ao pintor, que se afasta muito da análise que temos hoje pautada em uma preocupação constante com a natureza. Nada está mais lá. O trem, a plantação, a inchada ou o trabalhador. Mas a natureza ainda está, assim como as relações de produção e a alteração da natureza pelo homem. Olha lá  mais uma vez os temas que se repetem.

O Museu Municipal de Arte de Curitba (MuMA) abre duas exposições (Natura in Data e Noite Ciborgue ) da artista Aricia Machado, ambas neste mês de dezembro, as duas exposições contrapõem uma indagação a cerca daquilo que ainda estará lá quando lá chegarmos. Um exercício de análise do ser humano e da natureza projetados para o futuro. A artista e pesquisadora tem na pauta as ciências biológicas e também as artes visuais — Aricia tem formação acadêmica nas duas — e suas materializações fazem imaginar carcaças de silício e seres cibernéticos transformados por aquilo ao qual ainda não passamos.

Como serão as questões que nos atravessarão no futuro? Me parece que a única constância serão o fato de existirem questões e também aquilo pelo qual ser atravessado. Como é bom ter a arte para pensar nisso. 

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