Sylvio Back e as parcerias com Jaime Lerner

Cineasta recorre ao Plural para lamentar a morte do ex-prefeito e ressaltar iniciativas que ajudaram transformar Curitiba na área cinematográfica

Recebi na quinta-feira a mensagem que se segue: Prezado Camargo, boa e triste tarde… Se possível, como desconheço o endereço para enviar condolências, solicito que você, por favor, repercuta o texto abaixo, que escrevo bastante triste. Desde já, gracias a la vida.  

Abraço afetuoso do Back.  

Isto posto segue na íntegra o texto de Sylvio Back:  

Que viva Jaime Lerner!  

Contemporâneo de uma Curitiba que, cada um a seu jeito, amamos nos anos 1970 e 1980, estou muito triste com a morte de Jaime Lerner, querido amigo e belo, então, prefeito, sempre bem humorado e grande causeur (aquele que desenvolve conversa brilhante, sedutora), feitor de lindas calçadas, praças e parques como ninguém com tamanha paixão e talento.  

Nunca Curitiba foi a mesma, antes e depois dele.  

Não é porque nos deixou que, súbito, me tornei seu best friend. Mas, sim, o frequentei como cineasta e roteirista (além de companheiro de caipirinhas & feijoadas), tanto que fiz dois documentários sobre e em torno das transformações urbanísticas e arquitetônicas naquela Curitiba generosamente provinciana que filmei desde os meados da década de 1960. Cinéfilo de carteirinha, e como os filmes eram “encomendados”, coube ao próprio Jayme Lerner, após projeção da primeira montagem no Cine Lido, dar seu OK, com aquele “sorriso de chinês”, aos curtas-metragens Curitiba, uma Experiência em Planejamento Urbano (1974) e A escala do Homem (1982), ambos misto de panegírico, testamento e prestação de contas. Jayme Lerner, eis um amante de Curitiba que deixa muitas e inexcedíveis saudades, um nome em forma de marca que perpetuamente será referência por dotar a cidade, tanto de uma qualidade de vida invejável no país e mundo afora, como, igualmente, robustecer sobremaneira a autoestima do curitibano.  

Sylvio Back  

E também vale lembrar  

Sylvio Back, 83 anos, cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de imigrantes da Hungria e Alemanha, nascido em Blumenau, recebeu no ano passado o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade Federal de Santa Catarina por sua obra literária e cinematográfica dedicada à cultura e a arte brasileiras.  

Ex-jornalista e crítico de cinema, em 1962 inicia-se na direção cinematográfica, tendo escrito, realizado e produzido 38 filmes – curtas, médias e 12 longas-metragens. A saber:  

Lance Maior (1968), A Guerra dos Pelados (1971), Ale-luia, Gretchen (1976), Revolução de 30 (1980), República Guarani (1982), Guerra do Brasil (1987), Rádio Auriverde (1991), Yndio do Brasil (1995), Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro (1999), Lost Zweig (2003), O Contestado – Restos Mortais (2010), e O Universo Graciliano (2013).  

Tem publicados 26 livros (poesia, contos, ensaios) e os argumentos/roteiros dos filmes: “Lance Maior” (Fundação Cultural de Curitiba (PR), 1975; Imago, Rio de Janeiro, 2008), “Aleluia, Gretchen” (Fundação Cultural de Curitiba, 1976; Movimento, Porto Alegre (RS), 1978; Imago, RJ, 2005), “República Guarani” (Paz e Terra, Rio de Janeiro/São Paulo, 1982), “Sete Quedas” (Casa Romário Martins, Curitiba (PR), 1980), “Vida e Sangue de Polaco” e “O Auto-Retrato de Bakun” (Umuarama, Curitiba (PR), 1982/1985), “Rádio Auriverde” (Secretaria de Cultura do Paraná, 1991), “Zweig: A Morte em Cena” (Instituto Goethe do Rio de Janeiro, 1995), “Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro” (tetralíngue; 7 Letras, Rio de Janeiro, 2000), “Lost Zweig” (bilíngue; Imago, RJ, 2007) e “A Guerra dos Pelados” (Annablume, São Paulo, 2008).  

Poesia: “O Caderno Erótico de Sylvio Back” (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, MG, 1986), “Moedas de Luz” (Max Limonad, SP, 1988), “A Vinha do Desejo” (Geração Editorial, SP, 1994), “Yndio do Brasil” (Poemas de Filme) (Nonada, MG, 1995), “boudoir” (7Letras, RJ, 1999), “Eurus” (7Letras, RJ, 2004), “Traduzir é poetar às avessas” (Langston Hughes traduzido) (Memorial da América Latina, SP, 2005), “Eurus” bilíngue (português-inglês) (Ibis Libris, RJ, 2006), “Kinopoems” (@-book) (Cronópios Pocket Books, SP, 2006). “As mulheres gozam pelo ouvido” (Demônio Negro, SP, 2007), “H2Horas” – antologia e DVD, org. Pipol (Dulcinéia Catadora, SP, 2010), “Quermesse” – obra erótica reunida (Topbooks, RJ, 2013), “Kinopoems” (Editora Universidade Federal de Santa Catarina, 2014); “Antologia da Poesia Erótica Brasileira” (Ateliê, São Paulo, 2015); “Musas de carne e osso” (Editora YiYi Jambo, Assunção, Paraguai, 2017); “Musa fugidia – A poesia para os poetas”; organização Edson Cruz (Editora Moinhos, MG, 2017) e “Silenciário” – obra reunida (Editora Universidade Federal de Santa Catarina, 2021).  

Contos: “7 de Amor e Violência” (obra coletiva; edição dos autores, Curitiba (PR), 1965)/Reedição (Edições Criar, Curitiba (PR), 1986), “Guerra do Brasil” (Topbooks, Rio de Janeiro, RJ, 2010), “O himeneu” (Kötter Editorial, Curitiba, PR, 2019), e “Antifascistas: contos, crônicas e poemas de resistência” (Antologia; Editora Mondrongo, Itabuna, BA, 2020).  

Ensaios: “Um cinema polêmico” (edição Cinema Riviera, Curitiba (PR), 1967). “Cinema paranaense?” (obra coletiva; edição dos autores, Curitiba (PR), 1968), “Por um cinema desideologizado” (Fundação Cultural de Curitiba (PR), 1987), “No cinema inoculado” (Umuarama, Curitiba (PR), 1988/1990), “Pensar es insalubre” (Imago, Rio de Janeiro (RJ), 1989), “Sylvio Back – Filmes noutra margem” (Secretaria de Cultura do Paraná, 1992), “Guerra do Brasil” por Sylvio Back” (Cadernos Cineamericanidad/Fundação Cultural de Curitiba (PR), 1992), “It’s All Brasil” (Fundação Memorial da América Latina, São Paulo (SP), 1995/2004), “Docontaminado” (Secretaria de Cultura do Paraná, 2001), e “letras e/& artes” (edição fac-similar dos cinquenta anos do suplemento homônimo, 1959/1961), Secretaria de Cultura do Paraná, 2011.  

Com 78 láureas nacionais e internacionais, Back é um dos mais premiados cineastas do Brasil. Sua obra poética, em especial, com dicção erótica, coleciona vasta fortuna crítica.  

2007: Medalha do Mérito Cultural Cruz e Sousa pelo governo de Santa Catarina.  

2011: Insígnia de Oficial da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores pelo conjunto da obra cinematográfica e de roteirista.  

2012: Eleito para o PEN Clube, tornando-se o primeiro cineasta brasileiro a integrar o prestigioso organismo internacional.  

2013: Comenda de Cavaleiro da Ordem do Mérito Palmares do Governo de Alagoas pelos “relevantes serviços prestados à sociedade brasileira no campo cultural”.  

2015/2018: Eleito/reeleito presidente da DBCA – Diretores brasileiros de Cinema e do Audiovisual, sociedade de gestão coletiva pela defesa dos direitos autorais do diretor.  

2020: Recebe o título de “Doutor Honoris Causa”, concedido pela Universidade Federal de Santa Catarina, pelo conjunto de sua obra literária e cinematográfica dedicadas à arte e à cultura catarinenses e brasileiras.  

2021: “Prêmio Othon Gama D’Eça – pelo conjunto da obra no ano do Centenário”, outorgado pela Academia Catarinense de Letras.  

PS: o texto ficou meio longo, ou longa-metragem, mas vale pelos registros.  

Para ir além

Jaime Lerner, o arquiteto de Curitiba, morre aos 83

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima