Dando uma banda pelo Juvevê, de máscara, já que não dá para ignorar a tal gripezinha, até mesmo vacinado, e de guarda-chuva, uma vez que bem conhece a cidade, a começar pelo tempo com as traquinagens de São Pedro endereçadas a Curitiba, há quem tenha viajado no tempo. E por conta de uma camisa, mais precisamente pela sua estampa bem visível. Ou seja, resultado de um processo de impressão que utiliza fotolitos e telas, dando ao tecido plena resistência quando é jogado numa máquina de lavar ou mesmo em um velho tanque de concreto ou num balde. E quem vestia a camiseta era uma mulher.
A estampa:
– Sou a favor do contrário de tudo que está por aí!
E o nosso anônimo, que, é claro, está longe de ser o veneziano, o anônimo maestro Enrico do filme escrito e dirigido pelo ator italiano Enrico Maria Salerno, em 1970, em sua estreia como diretor, não se conteve: deu um sorriso de aprovação. Mas, em seguida, lamentou a falta do devido crédito ao autor da frase/convocação: Luis Fernando Veríssimo. Ele mesmo. Escritor, humorista, cartunista, tradutor, roteirista de TV, autor de teatro e romancista, hoje aos 85 anos – 86 em setembro. Sem deixar de lado seu trabalho como publicitário, revisor de jornal e criador de personagens como A Velhinha de Taubaté, Ed Mort e O Analista de Bagé, entre outros. Não bastasse (tudo) isso, mereceu aplausos como músico, portando um saxofone em alguns conjuntos.
Suas sentenças para a história:
– Os americanos salvaram o mundo… E ficaram com ele.
– Não duvido que São Francisco de Assis conversava com os pássaros, eu só me admiro de eles terem tido assunto. Se a comunicação entre animais da mesma categoria já é difícil, imagine entre espécies diferentes.
– Não deixe que a saudade o sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
– A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.
– Dedico-me aos clássicos: Sófocles, Virgílio, Shakespeare e ao picolé de côco (coco após a reforma ortográfica…)
Confissões e + confissões
– Comecei a escrever profissionalmente aos 30 anos, quando fui trabalhar na imprensa, depois de tentar outras coisas que não deram certo.
Da Arca de Noé ao Titanic
Veríssimo ainda com a palavra (ou melhor, texto): Na época, não se precisava ter diploma para começar no jornalismo. Comecei como copidesque e, eventualmente, passei a ter um espaço assinado e me tornei cronista. Antes, além de umas traduções do inglês, nunca tinha escrito nada, e não tinha ideia de ser escritor.
– Se o fato de ter um pai escritor me inibiu? Conscientemente, não. Inconscientemente, talvez. Às vezes, fico tentado a inventar algum grande drama edipiano entre meu pai e eu para satisfazer a expectativa das pessoas, mas nunca houve isso.
– Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais o Titanic.
– O mundo não é ruim, só está mal frequentado.
– A força mais destrutiva do universo é a fofoca.
E, nestes tempos mais do que sombrios, por conta do desgoverno federal, vale um repeteco em CAIXA ALTA e negrito:
– A DIFERENÇA ENTRE O BRASIL E A REPÚBLICA CHECA É QUE A REPÚBLICA CHECA TEM O GOVERNO EM PRAGA E O BRASIL TEM ESSA PRAGA NO GOVERNO.