Quando uma graninha rende um baita susto

Por conta da automação bancária, um pequeno saque provocou algo inesperado; a máquina não se limitou ejetar notas 2, 5, 10 e 20 reais e incluiu um monte de moedinhas

Recentemente, ao fazer um saque de míseros 37 reais, no caixa eletrônico de um banco, ao final da emissão das cédulas alguém foi brindado com o despejo de 2 reais, não em cédula, mas em moedinhas de 5 centavos  – 40 delas. Tremendo susto, posto que algo totalmente inesperado, a começar pelo barulho, nada comum no equipamento tradicionalmente silencioso. Algo meio imprevisível, bem ao contrário do que acontece com o desgoverno do atabalhoado presidente. Mas, como as moedas continuam valendo, também chegam aos bancos e voltam a circular.  

Apesar do trabalho, ou atrapalho, para juntá-las, com destino ao bolsinho da calça, ao lado do isqueiro Zippo, nosso amigo ficou até meio contente, já que poderia facilitar o troco de maneira mais prolongada. É que, fumante (apesar dos avisos e alertas em contrário), o seu preferido é o tal de Parliament, que passou a custar R$ 11,25 – e, assim, haja moeda de 1 real e outra de 25 centavos – ou cinco de 5 centavos – para dispensar o troco.  

Problemas e + problemas  

O que já foi dinheiro? Como se sabe, o escambo (troca de mercadorias) surgiu há cerca de 10 mil anos, durante o período Neolítico, e foi usado por milhares de anos em todo o mundo. Ele acontecia de acordo com a necessidade de cada um – ou seja, os objetos não precisavam ter valores equivalentes. O dinheiro foi criado para facilitar as trocas comerciais quando elas se tornaram mais complexas. A princípio, as permutas eram baseadas na quantidade de tempo de trabalho gasto para produzir uma mercadoria. Exemplo: um pescador dava sua pesca do dia em troca da colheita obtida em um dia por um agricultor. Segundo o historiador grego Heródoto, foi Creso, rei da Lídia (atual Turquia), quem cunhou as primeiras moedas, entre 640 e 630 a.C.  

“Encurtando” distâncias  

Mercadores chineses começaram a usar dinheiro de papel na dinastia Tang (que se estendeu de 618 a 907 d.C.). No século XIII, o que se tornaria o famoso navegador veneziano Marco Polo levou a cabo sua aventura pela China. Couro, penas, peixe seco, sal grosso, pinga, tabaco. Tudo isso já foi moeda corrente. Mas a que deu certo levou a outra: o dinheiro falso – uma criação da Grécia Antiga que você pode até carregar na carteira até hoje.  

Depois de um tempo, houve uma padronização no formato e tamanho desses metais. Assim, seu valor era definido pelo tipo de metal da moeda. O ouro, por exemplo, e até pobre sabe, vale mais que a prata, que, como também se sabe, vale mais que o cobre. Mais tarde, as moedas passaram a ser feitas de liga metálica e níquel.  

Do metal ao papel  

Já o papel-moeda começou na Idade Média. Recibos de papel de depósitos de ouro circulavam com valor de troca. Essa era a moeda-corrente na época. As primeiras cédulas de dinheiro da Europa foram emitidas na Suécia em 1661. A origem do primeiro banco moderno, o Banco di San Giorgio, data de 1406, na Itália, com sede em Gênova. Moedas em formato de espada, escavadas no local de uma antiga fundição de bronze na província chinesa de Henan, são as moedas metálicas chinesas mais antigas conhecidas e, muito provavelmente, as primeiras do mundo.  

Já no Brasil…  

O primeiro dinheiro a circular no Brasil foram moedas-mercadoria. As moedas metálicas – de ouro, prata e cobre – chegaram com o início da colonização portuguesa. A moeda portuguesa, o real, foi usada durante todo o Período Colonial. Desse modo, tudo se contava em réis – plural popular de real.  

Quanto ao papel-moeda, é dinheiro ou moeda escritural oficial de um país. Assim, passou a ser emitida pela autoridade oficial – competente de um país, em valor impresso na forma de papel impresso emitido por um órgão denominado como banco central, autorizado pelo governo e distribuído pelos demais bancos da rede oficial de crédito. O tipo de papel usado para a emissão: camadas externas confeccionadas de pasta de madeira. A segunda camada, a chamada lâmina do meio, é 100% algodão, o mesmo material utilizado na fabricação de muitas roupas. A fibra mais curta do algodão é chamada de linter.  

Para museus e colecionadores  

A grana mais antiga e, por isso, mais valiosa do Brasil, é a Peça da Coroação, uma moeda de ouro de 6.400 réis feita em comemoração à coroação de D. Pedro 1º, em 1822. A moeda mais rara do Brasil: a de 1 real, 1998 – Declaração dos Direitos Humanos. Um total de 600.000 unidades foram cunhadas, tornando esta a mais rara e valiosa moeda comemorativa de 1 real na numismática brasileira. Custa (ou custava) de 150 a 250 reais.  

Dinheiro deriva de denarius, uma pequena moeda de prata cunhada durante a Antiga República Romana. O local onde se realizava a cunhagem era o templo da deusa Juno Moneta, a “deusa protetora dos recursos financeiros”. A palavra moeda deriva exatamente de moneta, o epíteto atribuído à deusa. E surgiram termos correlatos, como monetário e monetizar.  

Mas o dinheiro papel e em moedas está perto do fim. Na Suécia já tem data marcada: partir de março de 2023 deixará de circular. Exatos 362 anos depois de se tornar o primeiro país europeu a utilizar cédulas, em 1661, vai se tornar também o primeiro do mundo a eliminá-las. O dinheiro deve ser substituído pelos pagamentos por meio de dispositivos móveis até 2030, no máximo.  

Comentários (que não têm preço)  

– O cofre do banco contém apenas dinheiro; frustra-se quem pensar que lá encontrará riqueza.  

Carlos Drummond de Andrade  

– O dinheiro é uma felicidade humana abstrata; por isso aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira felicidade humana, dedica-se completamente a ele.  

Arthur Schopenhauer  

– O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que ela gasta.

Millôr Fernandes  

– O dinheiro não é tudo. Não se esqueça também do ouro, dos diamantes, da platina e das propriedades.

Tom Jobim  

– O dinheiro não só fala como faz muita gente calar a boca.  

– Dinheiro é um negócio curioso. Quem não tem está louco para ter; quem tem está cheio de problemas por causa dele.  

Millôr Fernandes  

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