Pronto para utilizar a arma do cidadão?

Já que a democracia é um longo aprendizado, é preciso identificar os políticos picaretas e, por sucessivas eliminações, abatê-los na urna a golpes de cidadania

Por conta do clima pré-eleições, há quem tenha retirado dois livros da (improvisada) estante: Superstição no Brasil, de Luís da Câmara Cascudo, Global Editora, 2015, e Ideias para Acabar Com os Picaretas – Cidadania Ativa e Poder Legislativo, de Chico Whitaker, Editora Paz e Terra, 1994.  

Breve trecho do primeiro, que estava devidamente sublinhado a lápis:  

– Certas coisas são altamente previsíveis. Uma delas: no dia das eleições, muitos candidatos vão pular da cama com o pé direito. É o tal pé direito que dá sorte.  

Do segundo:  

– Picaretas não faltam no Brasil – ninguém pode negar. Mas estão longe de ser a maioria do povo brasileiro. O mesmo não acontece no Congresso, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores.  

Ainda sobre os incorrigíveis adeptos da picaretagem na política: como abatê-los?  

– A golpes de cidadania.  

 Já que a democracia é um longo aprendizado, o livro traz uma contribuição singela, mas extremamente importante:  

– Trata-se de um manual para ensinar o eleitor a identificar os políticos “picaretas”, para abatê-los, sem piedade, a “golpes de cidadania”.  

Ao sugerir trabalho por etapas, Chico recomenda que o cidadão “deve se limitar ao que se pode conhecer”, até chegar a uma lista final. E dá a receita:  

1) Proceder por eliminações progressivas.  

2) Excluir os candidatos “laranjas” (“candidatos que não perdem nada porque não pretendem gastar muito dinheiro em suas campanhas; muitas vezes até ganham alguma coisa, aliciados como cabos eleitorais pelo candidato ao Executivo”).  

3) Excluir os candidatos de partidos picaretas (“há pequenos partidos com propostas sérias e pequenos partidos sabidamente montados com objetivos de picaretagem”).  

4) Analisar os partidos (“Nesse ponto, a lista já deve ter começado a emagrecer”).  

5) Separar novos candidatos de candidatos à reeleição (“Será mais fácil – para separá-los – conhecer os candidatos à reeleição: sua atuação no mandato”).  

6) Analisar a atuação parlamentar dos candidatos à reeleição (“Para pontos negativos está a apresentação de projetos oportunistas, clientelistas, suspeitos… Mais o crescimento de seu patrimônio pessoal…”).  

7) Analisar as histórias de vida (no caso dos picaretas, “sua entrada na política não pretende senão uma promoção – a maior – na carreira da picaretagem”).  

8) Analisar os gastos de campanha (“Campanhas milionárias são facilmente detectáveis – outdoors são caros, um número muito elevado de muros pintados, às vezes exatamente com a mesma técnica, denota trabalho profissional bem pago e prováveis pagamentos também aos donos dos muros”… “o terreno da tia que foi vendido também não justificará muitos gastos”; “campanhas muito caras têm bastante probabilidade de serem financiadas com dinheiro obtido pelo candidato mediante manipulações indevidas de recursos públicos, pessoalmente ou por meio do partido que o financia – não é outra a tradição brasileira. Se isso não ocorreu, será preciso demonstrá-lo de maneira convincente”).  

9) Analisar o conteúdo da campanha (“As propostas, sua maneira de ver o trabalho parlamentar, a maneira como pretende se relacionar com seus eleitores no cumprimento do mandato”).  

10) Analisar o candidato como pessoa (“O que pode ser feito pela observação ou entrevista direta”).  

11) Elaborar e – se possível – divulgar uma lista final.  

12) Escolher o nosso candidato pessoal (“Cada um de nós terá sua preferência a partir dos próprios valores e opções políticas locais”).  

Pressão que vem de fora  

Recado do Chico Whitaker:  

– Os parlamentares não mudarão sem uma pressão que venha de fora, da própria sociedade que representam. O primeiro tipo de pressão possível é sobre a sua composição, que resulta do processo eleitoral. Continuemos afinando a pontaria. Os candidatos em geral e os picaretas em particular não estão acostumados com isso.  

Conclusão: é preciso insistir, caprichar na pontaria. A arma é o voto.  

Ainda sobre vitória e derrota:  

– O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer.  

Abraham Lincoln.  

– A vitória tem mil pais, mas a derrota é órfão.  

John Kennedy.  

– Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam.  

Platão.  

E, para encerrar, o poetinha:  

– A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida…  

Vinícius de Moraes.  

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima