Pra quem não leu…

Francisco Camargo reproduz editorial do New York Times, que durante o período eleitoral de 2018, apresentou a essência de Jair Bolsonaro aos americanos

Saiu publicado no Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, mais precisamente no dia 22 de outubro do ano passado, com o título “Imprensa internacional rejeita Bolsonaro”É a tradução do editorial do New York Times. Como se dizia antigamente, vale a pena ler de novo:

A triste escolha do Brasil

Jair Bolsonaro é um brasileiro direitista que tem visões repulsivas. Ele disse que se tivesse um filho homossexual, preferiria que ele morresse; que uma colega no Parlamento era muito feia para ser estuprada; que os afro-brasileiros são preguiçosos e gordos; que o aquecimento global equivale a “fábulas”. Ele sente saudades dos generais e torturadores que governaram o Brasil por 20 anos. No próximo domingo, no segundo turno da eleição, o Sr. Bolsonaro provavelmente será eleito presidente do Brasil. Por trás dessa perspectiva amedrontadora, há uma história que se tornou assustadoramente comum entre as democracias do mundo. O Brasil está emergindo de sua pior recessão de todos os tempos; uma ampla investigação chamada Operação Lava Jato revelou um esquema de corrupção no governo; um ex-presidente popular, Luiz Inácio Lula da Silva, está preso por corrupção; sua sucessora, Dilma Rousseff, sofreu impeachment; o sucessor dela, Michel Temer, está sob investigação; o crime violento é desenfreado. Os brasileiros estão desesperados por mudanças.

Contra esse pano de fundo, as opiniões grosseiras de Bolsonaro são interpretadas como francas, sua carreira obscura como congressista é vista como a promessa de um forasteiro que limpará os estábulos e sua promessa de um punho de ferro é tida como esperança de um basta na média recorde de 175 homicídios por dia no ano passado. Evangélico, ele prega uma mistura de conservadorismo social e liberalismo econômico, embora confesse ter apenas uma compreensão superficial da economia. Soa familiar? Ele é o mais recente de uma longa lista de populistas que surfaram em uma onda de descontentamento, frustração e desespero rumo ao mais alto cargo em cada um de seus países. Não é surpresa que ele seja frequentemente descrito como o Donald Trump brasileiro.

Se ele chegar ao Palácio, um dos perdedores será o meio ambiente e, especificamente, a Floresta Amazônica, às vezes chamada de “o pulmão da Terra”, por seu papel na absorção de dióxido de carbono. Bolsonaro prometeu acabar com muitas das proteções sobre as florestas tropicais para abrir mais territórios para o poderoso agronegócio brasileiro. Ele levantou a perspectiva de se retirar do Acordo Climático de Paris, de desmantelar o Ministério do Meio Ambiente e de impedir a criação de reservas indígenas – tudo isso em um país até recentemente elogiado por sua liderança na proteção do meio ambiente. Não é apenas a mensagem “carne, Bíblia e bala” que trouxe o sr. Bolsonaro à tona. O popular sr. (Luiz Inácio Lula) da Silva continuou sendo um forte candidato, apesar de ter sido preso, até que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu, em agosto, que ele estava inelegível. Para o lugar dele, o Partido dos Trabalhadores (PT), de esquerda, voltou-se para Fernando Haddad, ex-professor, ministro da Educação e prefeito de São Paulo. Embora Haddad tenha sobrevivido ao primeiro turno, ele não conseguiu superar a associação do seu partido com a corrupção e a má administração, que alimentou um espírito de “qualquer um, menos o PT”. As pesquisas mostram que ele está muito atrás de Bolsonaro no segundo turno.

A escolha está nas mãos dos brasileiros. Mas é um dia triste para a democracia quando a confusão e o desapontamento distraem os eleitores e abrem as portas para populistas ofensivos, brutos e violentos.

 

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