Para ele, Covid continua uma gripezinha…

Como registrou o Plural, somente em Curitiba o total de internados por Covid-19 em maio é quase o dobro de fevereiro - de 641 passou para 1199, mas há quem defenda o direito de ir e vir...

Notícia do Estadão: Crítico a medidas de isolamento social adotadas por governadores, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 5, que avalia editar um decreto para garantir a “liberdade de culto, de poder trabalhar e o direito de ir e vir”. De acordo com o presidente, a medida “não poderá ser contestada por nenhum tribunal. Não podemos continuar com essa política de feche tudo, fique em casa”, disse.  

Ainda do jornal: O chefe do Poder Executivo também falou sobre os atos em favor dele realizados no último sábado, dia 1.º, e comparou a lealdade do povo brasileiro à das Forças Armadas. “Os militares, quando se tornam praça, juram dar a vida pela pátria. Os que tiveram nas ruas nesse 1.º de maio, bem como outros milhões que não puderam ir às ruas, darão sua vida por liberdade”.  

Aí, pensando com seus botões, há quem tenha lembrado que o Bolso/naro foi expulso do Exército. Isso mesmo. E não foi 1.º de abril – foi no dia 19 de abril de 1988, quando, por unanimidade, o Conselho de Justificação Militar (CJM) considerou que ele era culpado e que fosse “declarada sua incompatibilidade para o oficialato e consequente perda do posto e patente, nos termos do artigo 16, inciso I da Lei n.º 5.836/72”.  

Ainda voltando no tempo  

E, nesses tempos (cada vez mais) sinistros, cabe imaginar a reação do saudoso Stanislaw Ponte Preta, o Lalau, diante das seguidas mancadas do Bolnossauro e seus bagrinhos. Certamente teríamos (seguidas) edições do FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assola o País – em versão ampliada devido às contribuições quase que diárias.  

Sérgio Marcus Rangel Porto (Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1923 — 30 de setembro de 1968) foi um cronista, escritor, radialista, comentarista, teatrólogo, jornalista, humorista, ex-funcionário do Banco do Brasil e compositor brasileiro. Era mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta.  

Já no início do golpe civil-militar de 64, Lalau não deixava por menos: batizou de “a redentora” a autoproclamada revolução de 31 de março/na verdade um tremendo 1.º de abril. E, com a edição dos primeiros Atos Institucionais (“que tinham a sugestiva sigla de AI”), os donos do poder decidiram “mandar prender o autor grego Sófocles, que nos deixou há séculos, por causa do conteúdo subversivo de uma peça encenada na ocasião”. Tratava-se de Electra.  

A peça de Sófocles retrata polarizações políticas e questões referentes ao exercício do poder. Após o assassinato de Agamêmnon, a rainha Clitemnestra reina no palácio com seu amante Egisto. Com o retorno de Orestes, filho do rei morto, há o confronto, incitado por Electra, sua irmã, e se consumam o matricídio e a recuperação do poder legítimo sobre a cidade.  

Censores da ditadura queria prendes Sófocles.

O início e o fim da jornada  

Foi para satirizar o colunista Jacinto de Thormes (pseudônimo de Manoel Antonio Bernardez Muller, mais conhecido como Maneco Muller, precursor do colunismo social no Brasil), Stanislaw criou a seção As Certinhas do Lalau, onde apresentava uma musa da temporada, geralmente atrizes e vedetes do teatro rebolado.  

Com uma jornada diária de trabalho nunca inferior a 15 horas, conforme seus biógrafos, Sérgio Porto adotou o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta (Lalau para os amigos) em homenagem a Serafim Ponte Grande, personagem do escritor Oswald de Andrade (1890-1954). Atuando também no rádio e na TV, além de escrever livros e colunas para revistas e jornais, Sérgio Porto morreu de infarto em 1968, aos 45 anos.  

Sérgio estudou arquitetura até o terceiro ano. Largou o curso ao ingressar no Banco do Brasil, onde trabalhou por 23 anos. Foi nesse mesmo período que iniciou a carreira de jornalista, passando pela Tribuna da ImprensaDiário da NoiteO JornalA Carapuça e revistas como O CruzeiroMancheteFatos & Fotos e Mundo Ilustrado.  

Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta.

Afirmativas sempre atuais  

Alguns dos fulminantes comentários do Lalau:  

– A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento.  

– Basta ler meia página do livro de certos escritores para perceber que eles estão despontando para o anonimato.  

– Lavar a honra com sangue suja a roupa toda.  

– Pelo jeito que a coisa vai, em breve o terceiro sexo estará em segundo.  

– Política tem esta desvantagem: de vez em quando o sujeito vai preso em nome da liberdade.  

– Uma feijoada só é realmente completa quando tem uma ambulância de plantão.  

– Às vezes eu tenho a impressão de que meu anjo da guarda está gozando licença prêmio.  

– Imbecil não tem tédio.  

– O sol nasce para todos. A sombra para quem é mais esperto.  


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