Outras proezas – dignas da cápsula do tempo…

Sobre o Athletico tricampeão, numa final incrível, a começar pela Covid-17, vale lembrar os 4 gols de Ziquita em 12 minutos e a cápsula do tempo do NYT

– Certas coisas só acontecem com meu time…  

Não era uma queixa de torcedor, muito pelo contrário. E se tratava, evidentemente, de um atleticano. Estava se referindo à conquista do tricampeonato, na quarta-feira passada, em pleno Couto Pereira, quando a partida caminhava para a decisão nos pênaltis.  

No primeiro jogo da final do campeonato, o Athletico venceu por 1 a 0. O rubro-negro só precisava, então, de um empate para ficar com o título. O Coritiba dependia de uma vitória por dois gols de diferença. Se ganhasse por um gol, a decisão seria nos pênaltis. E era o que o placar indicava até os 46 minutos do segundo tempo, quando Khellven, de longa distância, marcou um golaço. E o espanto aumentou no minuto seguinte: numa reposição de bola, Muralha acabou dando um belo passe para Nikão, na intermediária, que chutou dali mesmo, encobrindo o goleiro: 2 a 1 – coisas do Sobrenatural de Almeida, como diria Nelson Rodrigues.

O que existia no planeta  

Ainda de fatos inesperados. A iniciativa foi do jornal The New York Times. Preservar numa cápsula “alguns objetos que representassem o que existia no planeta no ano 2000 da Era Cristã”. Coisas a serem guardadas até o ano 3000. Dentre os objetos devidamente selecionados está uma camisa do então Atlético Paranaense. 

Em janeiro de 2017, em Nova Iorque, uma cerimônia marcou o fim da exibição da cápsula do tempo, que foi, então, recolhida ao Museu de História Natural, preservando vários objetos colhidos nos quatro cantos do mundo.  

É que, em 2001, graças a um motorista de táxi, Clóvis Gonçalves, que transportou em Curitiba Simon Romero, correspondente do The New York Times, o então Atlético romperia fronteiras. O detalhe: na conversa com o jornalista, este perguntou a Clóvis o que ele indicaria como algo “realmente representativo para ser selecionado para a cápsula do tempo”.  

Não deu outra:  

 – A camisa do Atleticão…  

A notícia sobre a escolha mereceu amplo registro da imprensa. A diretoria rubro-negra gostou da ideia e propôs o case Atlético 3000 – Paixão Eterna. E, como prêmio, Clóvis ganhou um título de sócio construtor da Arena da Baixada. Detalhe: uma família vem cuidando da cápsula, passando de geração a geração até a chegada do ano 3000.  

Mas, como sempre, há quem tenha lamentado:  

– Pena que não faça parte do acervo os quatro gols do Ziquita…  

“São Ziquita”, o salvador  

Foi no dia 5 de novembro de 1978. O então Atlético recebia na Baixada o (também) então Colorado. Por conta de Ziquita, o jogo se transformou em um dos capítulos mais incríveis da história do futebol paranaense, e, quiçá, do futebol mundial: o centroavante fez quatro gols em 12 minutos.  

Na partida, válida pela segunda rodada do Grupo F (um quadrangular semifinal), cerca de 8 mil torcedores acompanharam o clássico, que era tido por muitos como decisivo para a escolha de um dos finalistas do estadual. O Colorado, arrasador, meteu 2 gols no primeiro tempo. No segundo, continuou o massacre. Em poucos minutos o Colorado vencia por 4 a 0. Parte da torcida atleticana começou a deixar o estádio, cabisbaixa.  

Mas, aos 30 minutos, o centroavante Ziquita cabeceou para diminuir a vantagem adversária. Aos 34, dominou a bola de costas para o gol e, de virada, balançou as redes coloradas pela segunda vez. Quem insistiu em ficar no estádio cruzava os dedos. Aos 36, Ziquita, novamente de cabeça, marcou seu terceiro gol. Alguns torcedores, com o ouvido colado nos radinhos de pilha, trataram de retornar ao estádio. E o herói rubro-negro fez seu quarto gol aos 43 minutos. Logo em seguida, Ziquita mandou uma bola que carimbou o travessão colorado. O quinto gol não saiu, mas Ziquita acabara de colocar seu nome para sempre na história do (então) Atlético e da Baixada.  

Como registrou a imprensa, “um massacre anunciado acabou se transformando em um empate com sabor de goleada”. E houve quem abrisse manchete a “São Ziquita”. Do lado do time adversário, o técnico Avelino Mosquito não resistiu e pediu demissão.  Coisas do Atlético de ontem, do Athletico de hoje e dos atleticanos de sempre.

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