Nesses tempos (cada vez mais) sinistros, há quem imagine a reação do saudoso Stanislaw Ponte Preta, o Lalau. Diante das mancadas do Bolnossauro e seus bagrinhos no governo, teríamos seguidas edições do FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assola o País – em versão ampliada devido às contribuições diárias.
Já no início do golpe civil-militar de 64, Lalau não deixava por menos: batizou de “a redentora” a autoproclamada revolução de março/1º de abril. Com a edição dos primeiros Atos Institucionais (“que tinham a sugestiva sigla de AI”), os donos do poder decidiram “mandar prender o autor grego Sófocles, que morreu há séculos, por causa do conteúdo subversivo de uma peça encenada na ocasião”. Tratava-se de Electra.
O início da batalha
Foi para satirizar o colunista Jacinto de Thormes (pseudônimo de Manoel Antonio Bernardez Muller, mais conhecido como Maneco Muller, precursor do colunismo social no Brasil), Stanislaw criou em seus trabalhos a seção As Certinhas do Lalau, onde apresentava uma musa da temporada, geralmente atrizes e vedetes do teatro rebolado.
Com uma jornada diária de trabalho nunca inferior a 15 horas, conforme seus biógrafos, Sérgio Marcus Rangel Porto, nascido no Rio de Janeiro, adotou o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta (Lalau para os amigos) em homenagem a Serafim Ponte Grande, personagem do escritor Oswald de Andrade (1890-1954). Atuando também no rádio e na TV, além de escrever livros e colunas para revistas e jornais, Sérgio Marcus Rangel Porto morreu de infarto em 1968, aos 45 anos.
Sérgio estudou arquitetura até o terceiro ano. Largou o curso ao ingressar no Banco do Brasil, onde trabalhou por 23 anos. Foi nesse mesmo período que iniciou a carreira jornalística, passando pela Tribuna da Imprensa, Diário da Noite, O Jornal, A Carapuça e revistas como O Cruzeiro, Manchete, Fatos & Fotos e Mundo Ilustrado.
Nada passava batido
Alguns dos comentários fulminantes do Stanislaw:
– A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento.
– Basta ler meia página do livro de certos escritores para perceber que eles estão despontando para o anonimato.
– Lavar a honra com sangue suja a roupa toda.
– Pelo jeito que a coisa vai, em breve o terceiro sexo estará em segundo.
– Política tem esta desvantagem: de vez em quando o sujeito vai preso em nome da liberdade.
– Uma feijoada só é realmente completa quando tem uma ambulância de plantão.
– Às vezes eu tenho a impressão de que meu anjo da guarda está gozando licença-prêmio.
– Imbecil não tem tédio.
– O sol nasce para todos. A sombra para quem é mais esperto.