O lado bom do tempo ruim em Curitiba

Graças ao clima, em 1944 a capital ganhou um novo aeroporto, localizado em São José dos Pinhais, em uma região caracterizada pela neblina baixa

Trancado em casa, ontem, por duplo motivo (coronavírus e o baita temporal em Curitiba), há quem tenha dispensado palavrões optando pelo lado bom do mau tempo – ou tempo maluco, com todo o respeito a São Pedro

É que, graças à neblina, a capital ganhou um novo Aeroporto Afonso Pena. Construído em 1944, era um aeródromo militar na então Colônia Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Com a II Guerra varrendo o mundo, chamou a atenção dos estrategistas militares dos EUA. Caso o conflito se estendesse para o Atlântico Sul (a Argentina estava em cima do muro), o campo de aviação seria de grande importância para atacar submarinos e navios da Alemanha nazista.

Assim, engenheiros militares americanos escolheram a dedo a região: a constante formação de névoa serviria de camuflagem em caso de ataques a serem desferidos por parte das forças aliadas. Natal, no Rio Grande do Norte, também atraiu a atenção do bondoso Tio Sam. Pela proximidade com o Norte de África.

Bis para o 14-Bis

Em janeiro de 2017, uma matéria da Agência Brasil, produzida pela repórter Camila Boehm, informava que tinha sido aberta em São Paulo uma exposição que reunia, pela primeira vez, material sobre a trajetória de um homem que se dedicou à inovação, ao design e à ciência: Alberto Santos Dumont. A mostra convidava o público a conhecer diversos lugares e momentos que fizeram parte da história do inventor da aviação, como a fazenda Cabangu, onde nasceu, e a Belle Époque francesa, em que conquistou sua fama.

E, no Itaú Cultural, foram reunidos objetos, fotos e documentos do aviador expostos com imagens que resgataram os balões, dirigíveis e aeroplanos. E, ainda, uma reprodução de sua biblioteca, com publicações que o inspiraram, além de alguns títulos de sua autoria.

Santos Dumont faz o histórico voo com seu avião 14-Bis.

Pai da Aviação

Como a inveja é uma tremenda porcaria, vale lembrar um episódio envolvendo a figura de Santos Dumont: na festa de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, a homenagem ao Pai da Aviação provocou imediata reação de alguns norte-americanos quanto à paternidade do invento. E há um belo registro da façanha do brasileiro no livro 80 Anos de Brasil, editado pela Souza Cruz em 1983.

Sob o título Uma improbabilidade técnica nos céus de Paris, temos:

– Campo de Bagatelle, arredores de Paris, 23 de outubro de 1906. Milhares de assistentes: um homem, um brasileiro (vejam só!) vai tentar voar. E, pior, num veículo que pesa muitas vezes mais do que o próprio ar.

A multidão quer assistir ao insucesso: havia 13 tentativas anteriores fracassadas. Um grande espetáculo. Lentamente, a engenhoca se move. É o 14-Bis, 10 metros de comprimento, 12 metros de envergadura, superfície total de 80 metros quadrados. O peso é de 160 quilos, que devem ser suspensos por um motor de 24 HP. Impossível!

Mas – surpresa! – a máquina começa a ser erguer. Está a dois ou três metros acima de todas as cabeças. E percorre nada menos que 60 metros no campo de Bagatelle.

E o homem conseguiu o improvável, fez o primeiro voo mecânico do mundo (devidamente homologado). Aplausos, chapéus jogados para o ar, lenços agitados – Santos Dumont é o Pai da Aviação.

Os irmãos, só de catapulta

Ainda sobre a reação norte-americana, de que foram os irmãos Wright os pioneiros no voo motorizado, em 1903, três anos antes de Alberto Santos Dumont: o primeiro voo homologado da história foi feito por Santos Dumont, que, ao contrário dos irmãos Wright, não precisou de uma catapulta.

PS: hoje, com o tempo curitibano e o Boso bajulador do Trump, o 14-Bis não subiria nem com catapulta…

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