O cinema e o tiroteio sem fronteiras

Do faroeste, gênero clássico do Tio Sam, chegamos ao spaghetti western e, incrível, até o bangue-bangue vermelho patrocinado por Moscou

Como noticiou o Plural, começou na sexta-feira (28) e vai até o dia 10 de setembro, a 8½ Festa do Cinema Italiano em versão on-line. Serão 20 filmes produzidos na Itália entre 2017 e 2020, nove deles inéditos no circuito brasileiro – uma safra novíssima do cinema feito na terra de Federico Fellini (cujo clássico, , dá nome ao evento).  

Todos os filmes ficarão disponíveis, de graça, dentro da plataforma Looke, na web e no aplicativo. O interessado só precisar fazer um cadastro rápido (com nome e e-mail, cria uma senha e confirma o cadastro pelo celular) para abrir uma conta e acessar a programação.  

O mocinho x bandidos  

E, sobre o fascínio do cinema sem fronteiras, há quem tenha sacado de seus arquivos alguns registros. Um deles: a tentativa soviética (então, soviética) de produzir filmes de bangue-bangue, um decalque do western, o nosso faroeste, gênero clássico do cinema norte-americano, segundo texto de Paulo Virgílio – da Agência Brasil, anos atrás.  

– Uma filmografia rara e inédita no Brasil pode ser vista em uma mostra retrospectiva na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. São 17 filmes produzidos ao longo do século 20 em países do então bloco soviético com as mesmas características do western, gênero clássico do cinema norte-americano.  

A mostra O faroeste vermelho, organizada com a colaboração do Festival Internacional de Roterdã, na Holanda, reuniu produções soviéticas da Mosfilm, da DEFA, estúdio da extinta Alemanha Oriental, de outros países do leste europeu, como Hungria e a então Tchecoslováquia, e da Ásia Central.  

Além da programação de filmes, a mostra promoveria debates. Após a exibição das duas partes do épico Siberíada (1979), de Andrei Konchalovsky, um dos mais importantes cineastas russos, o historiador Daniel Aarão Reis falaria sobre revolução e cultura popular na União Soviética.  

A inversão ideológica  

Cena de O Sol Branco do Deserto, de Vladimir Motyl.

Embora influenciados pelo western, esses filmes faziam uma inversão ideológica das figuras do cowboy do Velho Oeste e do indígena. Caso de O Sol Branco do Deserto, de Vladimir Motyl, produção soviética de 1969, em que o mocinho é um soldado soviético no leste europeu, e Os Filhos da Grande Ursa, de Josef Mach (Alemanha Oriental, 1966), no qual “o índio é apresentado como protagonista da luta contra o imperialismo”.  

Ainda da Agência Brasil: de acordo com Pedro Henrique Ferreira, os filmes que integram a mostra diferem das demais produções soviéticas exibidas no Brasil no século passado.  

– Não imaginamos uma produção mais popular quando pensamos em arte soviética de modo geral. São bangue-bangues aventurosos, que lembram filmes americanos e italianos. Eles tinham uma plena consciência do que acontecia cinematograficamente no resto do mundo.  

Nazismo em ascensão  

E, sobre o cinema com segundas e terceiras intenções, há que se citar Helene Bertha Amalie – a Leni Riefenstahl. Cineasta alemã representante dos ideais da estética nazista. Suas obras mais famosas são os filmes de propaganda que ela realizou para o Partido Nazista alemão, levando Hitler ao poder. Conforme a revista História em Foco, número 2, da Alto Astral Editora, 2019, “em 1933, ano anterior à ascensão de Hitler como führer, foi criada a Câmara de Filmes do Reich – o Partido Nazista foi o primeiro a estabelecer um departamento de cinema”.  

PS: hoje, como se sabe, o perigo está nas mídias (anti)sociais.  

PS-2: Por que sétima arte? A numeração das artes vem do hábito de estabelecer números para designar determinadas manifestações artísticas. Assim, o cinema ficou em sétimo, conforme Ricciotto Canudo, no Manifesto das Sete Artes, de 1912 (mas só publicado em 1923).

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