O beisebol no país que era só do futebol

Graças a funcionários de empresas estrangeiras e, depois, à imigração japonesa, o beisebol chegava ao Brasil. Paraná e São Paulo largaram na frente – e, hoje, o país até exporta jogadores

Aproveitando a quarentena, há quem tenha procurado matar uma velha charada, tremenda charada para ele: decifrar o beisebol. Afinal, hoje em dia a TV não se limita a passar jogos de futebol. E foi em frente. O objetivo no beisebol, claro, é somar mais pontos – ou runs. Num campo em forma de semicírculo, duas equipes, cada uma com 9 jogadores. Dentro, há um quadrado com quatro bases, uma em cada ponto de encontro com o circulo.

O tempo de jogo? É determinado por turnos. Nove ao todo, já que são alternados entre ataque e defesa. Um turno termina quando os três batedores do time não marcam pontos e são substituídos.  

Bola pro mato…  

O lançador (pintcher) arremessa a bola para o batedor, ou runner, três vezes. Atrás do batedor fica o apanhador do mesmo time do lançador, o catcher. Quando o batedor manda a bola para a longe (no nosso futebol seria bola pro mato que o jogo é de campeonato), ele deve percorrer todas as bases. Pode parar em uma delas ou correr para a próxima.  

O batedor não pode estar correndo quando os interceptadores, os fielders, relançarem a bola para uma base. O objetivo do grupo adversário é que alguém do time apanhe a bola antes do runner chegar a um destino. Se ele conseguir passar por todas as bases, é computado um ponto. Caso a bola vá para fora do estádio, há um home run, que vale um ponto. Mas, segundo os cobras no assunto, caso do Flavio Stege, do Luzitano com Z, essa é uma jogada bastante difícil de acontecer.  

Em busca da origem  

De onde veio o beisebol? Não se sabe exatamente. Segundo pesquisadores, é provável que tenha derivado de outros esportes em que se lança uma bola. Assim como existiram diversos esportes que antecederam o futebol, o mesmo teria ocorrido com o beisebol – a partir dos antigos jogos praticados na França. Há quem cite um manuscrito em francês, do século XIV, que traz ilustrações de uma competição muito parecida com a partida de beisebol.  

Em relação ao esporte como é conhecido hoje, o registro mais antigo é de 1744 – no Reino Unido. Ainda dos historiadores: muito provavelmente o beisebol foi levado para os Estados Unidos por imigrantes britânicos. Sabe-se também que o esporte moderno é uma evolução dos jogos de rounders, muito popular na Irlanda e na Grã-Bretanha. Esse jogo também chegou aos Estados Unidos graças aos europeus.  

E é provável que na metade do século XVIII já houvesse basebol no país do Tio Sam. Há relatos da prática de esportes parecidos em diversos pontos do país. Existe uma versão que declara Abner Doubleday como o criador do jogo. Ele teria inventado o beisebol em 1839, na cidade de Cooperstown, Nova Iorque.  

O verdadeiro pai  

Ainda dos estudiosos do assunto: o verdadeiro pai do beisebol moderno é Alexander Cartwright, um bombeiro de Nova Iorque. Ele criou o primeiro grande clube do esporte no país: o Knickerbocker Base Ball Club Of New York, fundado no dia 23 de setembro de 1845, para definir as bases do esporte. As primeiras 20 regras do esporte foram escritas e desenvolvidas por Cartwright, que as batizou de Knickerbocker rules.  

É provável que em 1791 tenha acontecido a primeira partida de beisebol da história americana. Há registros que indicam que esse jogo foi em Pittsfield, no estado de Massachusetts. Outra referência do século XVIII é um livro alemão, que data de 1796, com registros de uma partida, disputada entre duas equipes, chamada baseball.  

A contribuição japonesa  

Estádio Municipal de Beisebol Mie Nishi, em São Paulo.

No Brasil, o esporte foi bastante praticado por descendentes de japoneses, mas foram os norte-americanos que trouxeram o beisebol. Em 1850, trabalhadores de empresas estrangeiras que residiam no Brasil, caso da Light Companhia Telefônica, e de funcionários do consulado americano começaram a praticar o esporte.  

E há registros que, em 1910, foram organizadas partidas no Mackenzie College, em São Paulo.  

Entre as décadas de 1910 e 1920 foram disputadas muitas partidas. E, então, começaram a surgir equipes esportivas. Eram ligadas a agremiações de trabalhadores das empresas americanas. A primeira liga amadora provavelmente surgiu na década de 20, comandada por um funcionário de uma companhia telefônica, provavelmente a Light.  

Paraná, São Paulo e o futuro  

Com a vinda de japoneses, para trabalhar em lavouras, a partir de 1908 o beisebol foi conquistando novos adeptos, principalmente em regiões do Paraná e São Paulo. Em 1936 aconteceu o primeiro campeonato no Brasil. Em seguida, foi criada a Federação Paulista de Beisebol e Softbol. A partir de 1946, ela organizaria os campeonatos. Em 2003, tal tarefa passou para a Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol.  

Localizado no bairro Bom Retiro, região central da capital paulista, o Estádio Municipal de Beisebol Mie Nishi foi inaugurado em 21 de junho de 1958 – em comemoração ao cinquentenário da imigração japonesa no Brasil. O primeiro do esporte no país e já visando se tornar palco para os Jogos Pan-Americanos de 1963, que o Brasil iria sediar. Um estádio com capacidade para 2.500 pessoas.  

E hoje, como estamos? Segundo a Major League Baseball, maior liga profissional do mundo, o Brasil é o novo grande celeiro de talentos a ser explorado. Muitos brasileiros já jogaram ou jogam atualmente na MLB.  

Há quem diga, por pura maldade, que eram cabeças de bagre do nosso futebol. Cabeça de bagre porque o peixe tem um cérebro pequeno e uma cabeça muito grande, desproporcional em comparação ao seu corpo.  

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