Na falta de revisor, haja revizão…

Francisco Camargo mostra exemplos de como a ausência de revisores faz muita falta ao jornalismo nacional

Poeta, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Ferreira Gullar, na verdade José Ribamar Ferreira, já tinha sentenciado: a crase não foi feita para humilhar ninguém. Poder-se-ia (opa! olha a mesóclise aí, gente!) alegar qualquer coisa para justificar certas mancadas dos jornais. A pressa ao redigir um texto, fechar uma página, cumprir o horário de fechamento, passar a informação adiante, mas uma coisa é certa: antigamente, e não tão antigamente assim, existia, ao lado da profissão jornalista, a dos revisores. O repórter e o editor podiam mandar bala porque contavam com uma retaguarda para evitar um impactante 7 a 1 na palavra escrita.

Breves exemplos: achar que roubo e furto significam a mesma coisa; igualmente rapto e sequestro. Ainda bem que havia o que se poderia chamar de beque de espera. Bons tempos. Em Curitiba, tínhamos revisores como o Adamastor Marques, Ruy Staub, “seu” Fontes e muitos outros cobras no domínio do português.

Quem de fato caiu do cavalo

Sobre o revisor na imprensa, ou a falta de, há um episódio histórico, envolvendo Dom Pedro II. Ao cair do cavalo durante um passeio, o imperador provocou uma onda de boatos na Corte e na cidade do Rio de Janeiro. Para demonstrar que estava bem, resolveu dar uma banda pelo Paço Imperial. Aí, o jornal Aurora Fluminense publicou que o Imperador reapareceu sorridente e foi visto amparado por duas maletas. Isso mesmo: maletas. Para consertar a mancada, o jornal fez a correção quanto ao “lamentável equívoco”. Pior a emenda do que o soneto: Dom Pedro II estaria amparado não em duas maletas, mas em duas mulatas…

Estônia ou Letônia?

E por aí vai – ou vamos. Nas Eliminatórias da Copa 2018 – Europa, a seleção portuguesa aplicou uma goleada de 4 x 1. Mas, para muitos torcedores no Brasil, ficou uma dúvida: quem era de fato o adversário – Estônia ou Letônia? É que um jornal de esportes (cujo nome traz um ponto de exclamação) andou trocando as bolas: tascou no título da matéria sobre o jogo que Portugal enfrentaria a Estônia, mas, no decorrer do texto, a Estônia virou Letônia.

Além dos leitores, a outra vítima de fato da goleada foi a Letônia.

Mais recentemente, para não dizer agora, tivemos outros tropeços: um jornal de Curitiba tascou com destaque que “garotada do Athletico foram”… E, voltando ao jornal com ponto exclamação no nome, tivemos na segunda-feira (dia 11), logo abaixo de uma matéria sobre a rodada de domingo do campeonato paranaense (a goleada de 8 a 2 do rubro-negro sobre o Toledo), que o Cuca venceu o Cianorte por 4 a 0. Cuca, por supuesto, era Coxa… De Coxa só acertaram a primeira e a última letra.

Um revisor, como bom beque de espera, sempre atento, não deixaria sua equipe tomar um frango desses.

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