Na falta de revisor, haja revizão…

Quando o programa Nota Paraná, do governo, vira Nata Paraná, creme de leite, há que se lembrar dos tempos dos revisores em jornais

Hoje, com o tal de corretor automático, as coisas mudaram, mas, e mesmo assim, as mancadas ainda marcam presença. Um exemplo bem recente, e de dias atrás: ao noticiar que a Secretaria Estadual da Fazenda alterou sorteios do programa Nota Paraná (de estímulo à cidadania fiscal, com objetivo de objetivo incentivar o consumidor a exigir o documento fiscal para acumular créditos e concorrer a prêmios em dinheiro), há quem tenha publicado, e não foi o Plural, que a secretaria alterou os sorteios do NATAParaná. Isso mesmo.  

A troca do O pela letra A poderia levar o leitor a imaginar que, agora, o que vale é a nata, o creme que vem a ser a gordura do leite – um tipo de laticínio muito utilizado em culinária e confeitaria – e também principal ingrediente da manteiga.  

E por aí vamos. Notícia sobre um acidente de trânsito em Curitiba. Ele não aconteceu: ele aconteceo na esquina da rua tal…  

O inimigo com hora marcada  

Nos tempos das redações do jornalismo impresso, algo bem distante do jornalismo digital, o maior inimigo era o relógio – ou seja, cumprir rigidamente os horários, principalmente para a entrega dos textos e fotos para a chefia e, na sequência, fazer a diagramação, passar pelo crivo da revisão, remeter o material para composição na oficina, onde eram montadas as páginas e transformadas em placas (molde de chumbo) e acopladas nas rotativas. E não só isso: rodar os exemplares de modo que chegassem aos assinantes e às bancas com a antecedência estabelecida – e também às sucursais, outras cidades, para a redistribuição, atendendo todas as fatias do público leitor.  

E, na velha redação de O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná chegou a ser instituído um troféu para quem não conseguia cumprir os horários à risca. Era o troféu Velho atrasador de jornal. Assiduamente disputado por vários profissionais.  

Afinal, a batalha era diária e em várias frentes: em caso de atrasos, o chefe da expedição cobrava do chefe da oficina que, por sua vez, cutucava o chefe de redação. E, este, fazia pressão sobre os editores e os fotógrafos. E até mesmo sobre do chefe da revisão.  

Quanto à revisão, ou falta de, temos ainda exemplos fora do jornalismo: no ano passado, quando do lançamento da Campanha do Agasalho e Cobertores, com coordenação da Fundação de Assistência Social (FAS), a prefeitura espalhou por Curitiba cartazes convocando a população para colaborar com doações – roupas, cobertores e calçados para a população carente. Mas, por conta do insidioso vírus, foi acrescentado um alerta no pé da mensagem:  

– Abrace à distância.  

Ou seja, é preciso manter uma distância de 1,5 m entre as pessoas para driblar o contágio. Alguém, um jornalista dos tempos do jornal papel, concordou com a recomendação, mas lamentou o emprego da crase. Afinal, a crase só deve ser empregada quando a distância estiver especificada.  

Revisor em jornal existia não só para corrigir erros de grafia, mas também para suprimir redundâncias ou mesmo para tornar o texto mais palatável.  

PS: aproveitando, um abrasso… epa! Desculpem, um abraço pro Adamastor Marques.


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