Muito mais que títulos e gols de placa

A expressão gol de placa surgiu em 1961, com Pelé, mas o Operário Ferroviário fez história já em 1912; nasceu fazendo questão de incorporar jogadores negros

Por conta de um jogo pela Libertadores, numa partida que teve de tudo na vitória do Palmeiras sobre o Santos, e sem desmerecer o triunfo do Verdão, há quem tenha voltado no tempo. Até porque o Palmeiras foi fundado em 26 de agosto de 1914 e a glória de um time não se resume apenas na conquista de títulos. Caso do nosso Operário Ferroviário, que surgiu 2 anos antes e de modo marcante: foi um dos primeiros clubes do Brasil a fazer questão de incorporar jogadores negros.  

O último da América  

Como se sabe, o fim da escravidão no Brasil foi decretado no dia 13 de maio de 1888. A princesa Isabel, filha do imperador Dom Pedro II, assinou a Lei Áurea, mas sem nenhuma medida de compensação ou apoio aos, então, proclamados ex-escravos. O Rio de Janeiro era a capital do Império. Fomos o último país da América a acabar (no papel) com a escravidão.   

O que viria se tornar o Operário Ferroviário Esporte Clube foi fundado no dia 1.º de maio de 1912. A partir da metade da década de 1920 houve alteração do nome, para Operário Sport Club, mudança motivada para atrair um número maior de novos sócios, capitalizando recursos para se transformar também em um clube social. Somente em 1933, após a incorporação do clube social dos ferroviários, que nunca tinha entrado em atividade oficial esportivamente, chegou-se ao nome definitivo: Operário Ferroviário Esporte Clube.  

Cores que dizem muito  

Elenco que disputou a série B do Campeonato Brasileiro de 2020. Crédito da foto: André Jonsson/OFEC

Ainda do site do clube: segundo um dos fundadores, Abel Ricci, a cor do uniforme principal, não modificada até os dias atuais, foi ideia de Alberto Scarpim: “Trata-se de uma homenagem às raças branca e negra, que sempre terão vez em nossa agremiação”. Essa atitude de busca de harmonia entre todos causou imediata simpatia pelo clube, lembrando que em 1912, apenas 24 anos após a promulgação da Lei Áurea, pouquíssimos times no país aceitavam jogadores negros em suas formações.  

O Operário Ferroviário é considerado um dos pioneiros clubes no Brasil a ter tal postura civilizada. Assim, a camisa alvinegra listrada verticalmente com calções pretos aparece desde então nos campos e corações de todos nós, sem nenhuma mudança nas cores nesses cem anos de história. Posteriormente como segundo uniforme surge a camisa branca com calções brancos e mais recentemente como terceiro uniforme a camisa e calções todos pretos.  

Um Fantasma entre nós  

Time campeão brasileiro da série D. Crédito da foto: site do Operário.

O símbolo do Operário Ferroviário é o Fantasma. Esse apelido, Fantasma da Vila (Oficinas), foi dado pelo meio esportivo de Curitiba logo nos primeiros anos de jogos do Operário contra os times da capital, retornando sempre nos ressurgimentos do Alvinegro, pois se observava que os visitantes ficavam assustados com a garra do time de Ponta Grossa e geralmente perdiam as partidas em Vila Oficinas. Tanto que na sua primeira temporada de atividades regulares contra outras equipes, em 1914, o Operário Ferroviário passou o ano todo invicto. Estava consagrada a lenda do Fantasma.  

– O Operário Ferroviário é conhecido por possuir uma das maiores e mais vibrantes torcidas do sul do Brasil, estando sempre entre as melhores médias de público e renda dos campeonatos que disputa. Essa torcida apaixonada caracteriza-se por seguir o Operário Ferroviário em todas as cidades em que o time vai jogar. Antigamente a torcida saía de Ponta Grossa em vagões de trens de passageiros para ir às outras cidades acompanhar o time, ficando conhecida como torcida do Trem Fantasma.  

Conquistas/Aclamado Campeão Ponta-grossense pela invencibilidade em todo o ano – 1914. Campeão da Segunda Divisão da Liga Sportiva Paranaense; 1916 – bicampeão (invicto) da Taça Abraham Glasser – 1918/1919;  

Na época do amadorismo: Campeão da Liga Regional Ponta-grossense 23 vezes em 32 campeonatos disputados. Campeão do Interior do Torneio Estadual do Centenário da Independência do Brasil – 1922;  

Vice-campeão Paranaense do Torneio Estadual do Centenário da Independência do Brasil – 1922; Campeão do Torneio Início do Interior – 1956; Campeão do Torneio Início Profissional da Federação Paranaense de Futebol – 1927 e 1956; Campeão do Torneio Profissional Quadrangular do Interior – 1956; Campeão do Torneio Quadrangular Barros Júnior – 1964. Campeão da Taça Sul – Torneio Incentivo – 1975; Campeão do Torneio da Amizade – 1980; Campeão da Segunda Divisão Paranaense – 1969;  

Campeão do Interior do Paraná em 1923, 1924, 1925, 1926, 1929, 1930, 1932, 1934, 1936, 1937, 1938, 1940, 1947, 1958, 1990 e 1991;  

Vice-campeão Paranaense em 1923, 1924, 1925, 1926, 1929, 1930, 1932, 1934, 1936, 1937, 1938, 1940, 1958, 1961; Campeão Paranaense da Zona Sul – 1961. Campeão Paranaense – 2015; Campeão da Taça FPF Sub-23 – 2016;

Campeão Brasileiro – Série D – 2017; 

Campeão Paranaense – Segunda Divisão – 2018;  

Campeão Brasileiro – Série C – 2018;  

2018 – Campeão Paranaense – Segunda Divisão – conquista do acesso à Primeira Divisão do Campeonato Paranaense 2019; 

2018 – Campeão Brasileiro/Série C – conquista da vaga para o Campeonato Brasileiro da Série B 2019; 

PS: e vale citar Alfredo Di Stéfano Laulhé, ele mesmo, Di Stéfano:  

– Nenhum jogador é tão bom quanto todos juntos


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