Lá no Japão – quando (quase) tudo era festa

Na terra dos terremotos e tsunamis, o pesadelo passou a ser outro, a Covid-19 – mas vale lembrar o clima festivo de 2008, quando do centenário da imigração japonesa no Brasil

Acompanhando os resultados de alguns jogos olímpicos em Tóquio, há quem tenha achado estranho: Olimpíada de 2020 em 2021? Mas, como há quem acredite que a Terra é plana e que a Covid-19 não passava de uma gripezinha, concluiu que tudo é possível. Mas tratou de buscar mais informações a respeito. Até porque, quando esteve no Japão, levou alguns sustos e voltou meio espantado.

Da Agência Brasil, na sexta-feira da semana passada: Os olhos de boa parte da população mundial estarão voltados para a cidade de Tóquio. Após o adiamento de um ano por causa da pandemia da Covid-19 e ameaças de cancelamento, a 32ª edição da Olimpíada de verão terá a abertura oficial a partir das 8h (horário de Brasília) no Estádio Olímpico de Tóquio (também chamado de Estádio Nacional).

Das guerras ao vírus

– Pela primeira vez na história, as cerimônias de abertura e encerramento, assim como as competições na capital do Japão, não terão a presença de público. A decisão de proibir espectadores foi tomada por conta da decretação do estado de emergência em Tóquio até o final das competições, dia 8 de agosto, e em meio a críticas de autoridades de saúde do país e rejeição da população à competição.

A 32ª edição das Olimpíadas é a primeira da Era Moderna a ser adiada – outras três foram canceladas por guerras. Apesar do adiamento para 2021, o nome dos Jogos Olímpicos de Verão continuará como Tóquio 2020. É a segunda vez que Tóquio recebe uma edição da Olimpíada – a primeira foi em 1964.

Abertura dos Jogos Olímpicos de 1964, em Tóquio. Foto: COI.

O outro lado da moeda

“Kimi ga Yo”, geralmente traduzido como Reino Imperial, é o hino nacional do Japão, e também um dos hinos nacionais mais curtos do mundo ainda em uso. A letra é baseada num poema Waka escrito no Período Heian (de autor desconhecido), enquanto que a melodia foi composta na Era Meiji, também de autor desconhecido.

Apesar do“Kimi ga Yo”ser há muito tempo o hino de fato do Japão, somente foi legalmente reconhecido como tal em 1999, após passar por um conselho que decidiu pela adoção do hino. Há uma teoria de que essa letra era uma vez um poema de amor:

Possa o reinado do meu senhor,
Prosseguir durante uma geração,
Uma eternidade,
Até que seixos
Surjam das rochas,
Cobertas de musgo verde claro.

O termo kimi é uma antiga e pouco utilizada palavra que significa “nosso senhor” e se refere ao Imperador do Japão. A ideia de que seixos pudessem crescer de rochas era popular no domínio Heian do Japão. Mas durante este mesmo período (e quando a letra foi escrita), kimi significa meu amado ou simplesmente você, que é o atual significado.

O rubro-negro em cena

Jogadores do Athletico comemoram título conquistado no Japão, em 2019.

Como se sabe, e sem provocações, em 2019 o Athletico Paranaense conquistou no Japão o título da J.League YBC Levain Cup/Conmebol Sudamericana Championship. O Furacão goleou o Shonan Bellmare por 4 a 0 na final, a maior goleada da história da competição. E pipocaram no noticiário coisas como os adversários paralelos: o forte calor e a adaptação ao fuso horário.

Para quem já esteve no Japão, nada de novo quanto ao fuso horário – ou confuso horário para muitos, ou o calor. Faltou lembrar que o Japão é a terra dos terremotos. Parte do continente asiático, com uma área de 377.801 quilômetros quadrados, está num dos pontos mais sísmicos do planeta – na beirada da placa tectônica Euroasiática, zona de convergência de placas tectônicas, o chamado Círculo do Fogo do Oceano Pacífico.

Assim, terremotos e tsunamis são fenômenos relativamente comuns no Japão – dois em cada dez terremotos no mundo com magnitude superior a 6 graus na escala Richter atingem o país. Em 1923, um tremor de magnitude de 8,1 graus atingiu a região de Tóquio, causando a morte de mais de 3 mil pessoas. No dia 11 de março de 2011, às 14h46 (2h46 minutos em Brasília), o país foi atingido por um terremoto de magnitude de 9 graus na escala Richter, segundo informações do Serviço Geológico dos Estados Unidos. Foi pior terremoto do Japão e o quarto pior já registrado no mundo.

A corda de alpinismo urbano

Destruição causada por terremoto n o Japão.

Hoje, o Japão dispõe de avançados sistemas de defesa civil e conta com moderníssima tecnologia na estrutura de construções. Daí um caboco de Curitiba, anos atrás, confortavelmente instalado em um quarto de hotel em Tóquio, no oitavo andar do prédio, foi dormir. Mas, curioso, quis saber o que havia no armário. E levou um susto. Encontrou uma lanterna, uma machadinha e uma corda de alpinismo. Isso mesmo. O que o remeteu às (tentativas) de escalada do Pico do Marumbi, em Morretes.

Custou a pegar no sono. No dia seguinte, quis saber o motivo do aparato, recorrendo a um intérprete, que o acompanhava, já que estava no Japão a convite do governo, dentro das comemorações do centenário da emigração japonesa rumo ao Brasil.  

Resposta, meio nocauteante: em caso de terremoto e de queda de energia, o jeito era improvisar. Lanterna acesa, machadinha para derrubar a porta do quarto e, com o elevador desligado, amarrar uma ponta da corda em um ponto bem firme e, a outra, enrolar em torno do peito e, aí, detonar a janela e descer ao solo pelo lado de fora… Como tinha sido marumbinista, dormiu um pouco mais tranquilo.

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