E o PIG “ganhou” o Prêmio Esso…

A reportagem, que não tinha passado nem pelo primeiro crivo, ganhou o prêmio. Como pode?

Muita gente (ainda) acredita que tudo o que sai no jornal é verdade. E chega a ser definitivo ao tascar a velha máxima “eu li no jornal”…

Não é – e nunca foi assim. Como em qualquer ramo de atividade, temos bons, medianos e maus profissionais. Basta ver: o Sindicato dos Jornalistas Profissionais conta com uma comissão de ética; o cidadão dispõe do direito de resposta e existe a retificação quando o próprio veículo reconhece ter pisado na bola. Por descuido ou segundas intenções. E por aí chegamos ao PIGPartido da Imprensa Golpista, expressão cunhada pelo saudoso jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog Conversa Afiada.

Politicalha por trás

Em março de 2008, PHA escrevia, sobre o processo de limpeza ideológica, que até políticos teriam passado a fazer parte do PIG: “O partido deixou de ser um instrumento de golpe para se tornar o próprio golpe. Com o discurso de jornalismo objetivo, fazem o trabalho não de imprensa que omite; mas que mente, deforma e frauda”.

Ainda de PHA sobre o PIG: “O termo é utilizado para classificar um amplo espectro de publicações, com apoio a diferentes interesses, tendo em comum as características conservadoras e uma união contra os interesses do Partido dos Trabalhadores, segundo os proponentes do termo”.

“Ora, não leve as coisas a sério”

Ainda a propósito do PIGum certo jornalista de Curitiba participou três vezes da comissão nacional do Prêmio Esso de Jornalismo. A premiação era uma espécie de Oscar da imprensa brasileira.

No caso de matérias, cada membro da comissão recebia com a devida antecedência 25 trabalhos inscritos, dos quais deveria selecionar 3 e defendê-los para a premiação. Ele, o tal jornalista, seguia para o Rio de Janeiro e, em um hotel em Copacabana, cumpria o restante de sua pauta. Mas, entre os trabalhos inscritos para concorrer ao Esso de Jornalismo de 2005, isso mesmo, constava a matéria O mensalão do PT, publicada na Folha de S. Paulo. Quem assinava o texto era uma então jovem repórter, que recém ingressara no jornal. E que, ato seguinte, após a premiação, foi para a Globo.

Acontece que existia o Observatório da Imprensa, uma iniciativa do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo e projeto original do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Um veículo jornalístico focado na crítica da mídia, com presença regular na internet desde abril de 1996.

E, sem que provocasse desmentido ou mesmo algum questionamento, o OI tinha feito a denúncia: quem assinava a matéria sobre o mensalão não escrevera o texto, ou seja, apenas emprestara seu nome.

Assim sendo, o tal jornalista da capital da terra dos pinheirais, não indicou a tal matéria. Afinal, poderia sepultar a seriedade do Prêmio Esso e desmerecer o trabalho honesto de todos os demais participantes, premiados ou não. E qual não foi a sua surpresa: a tal matéria, não indicada por quem deveria fazê-lo, conquistou o então prêmio máximo do jornalismo brasileiro. Mais do que surpreso, estarrecido, ele tentou fazer a denúncia do trambique, sem sucesso, porém. O jeito foi aceitar o convite para participar (mais uma vez) do Prêmio Esso, no ano seguinte. E, no Rio de Janeiro, face a face com os responsáveis pela premiação da fraude, poderia tirar as coisas a limpo, dar o troco, um tapa de luva, já que uma bifa não seria recomendável.

Pior a emenda do que o soneto: o chefão do Prêmio Esso, ao ouvir a queixa/denúncia, não deixou por menos:

– Ora, Camargo, não leve as coisas a sério…

– A questão é que eu levo a sério a minha profissão. E respeito os profissionais que, realmente, participaram e fizeram jus ao Prêmio. Tchau, passar bem.

E botou a viola no saco, tirou o time, retornando a Curitiba. Já estava em andamento o que se revelaria um amplo complô contra o PT e seus líderes. Se fosse outro partido, o crime seria o mesmo. Do mesmo modo teria a reação do tal jornalista, um capiau que exercia sua profissão fora do eixo Rio/São Paulo. Restou a ele recorrer a Gabriel García Márquez, jornalista e escritor.

– A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro.

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