E o nosso Trump não tem jeito mesmo

Vale lembrar que é lamentável quando a democracia acaba abrindo as portas para políticos populistas, ofensivos, brutos e violentos

No início da semana, ao ouvir (sem querer) uma conversa entre bolsonaristas arrependidos, há quem tenha recorrido a velhos ditados populares: a mentira tem perna curta. E não foi por falta de aviso. Velhos, mas que continuam aplicáveis.

E lembrou, por exemplo, que o The New York Times, quando da eleição no Brasil, chegou a tachar Bolsonaro de o Donald Trump brasileiro. Candidato do PSL derrotou o petista Fernando Haddad no segundo turno, com 55% dos votos válidos, tornando-se o 38.º presidente do Brasil. E deu no que deu e, infelizmente, continua dando.  

Tanto que Conversa Afiada, do saudoso PHA, Paulo Henrique Amorim, registrou a denúncia do jornal norte-americano, segundo a qual Trump comprou todas as vacinas contra Covid-19 de Pfizer e BioNTech – 100 milhões de doses. E que o Ministério da Saúde do desgoverno Bolsonaro gastou somente 29% da verba emergencial prevista para combater o vírus, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), conforme a Folha de S.Paulo. Dos R$ 38,9 bilhões prometidos por meio de uma ação orçamentária, R$ 11,4 bilhões saíram efetivamente dos cofres federais até 25/VI.  

E tem mais:  

– Tanto as despesas feitas diretamente pela pasta (11,4%) como as realizadas por meio de transferência a estados (39%) e municípios (36%) ficaram muito abaixo do prometido.  

Nada de novo, posto que, para ele, já se tratava de uma gripezinha…  

Tema de editorial do NYT  

Ainda dos arquivos do Conversa Afiada, agora um texto às vésperas da eleição. Título: “Imprensa internacional rejeita Bolsonaro”. É a tradução de parte do editorial do New York Times. Como se dizia antigamente vale a pena ler de novo.

A triste escolha do Brasil  

Jair Bolsonaro é um brasileiro direitista que tem visões repulsivas. Ele disse que se tivesse um filho homossexual, preferiria que ele morresse; que uma colega no Parlamento era muito feia para ser estuprada; que os afro-brasileiros são preguiçosos e gordos; que o aquecimento global equivale a “fábulas”. Ele sente saudades dos generais e torturadores que governaram o Brasil por 20 anos. No próximo domingo, no segundo turno da eleição, o sr. Bolsonaro provavelmente será eleito Presidente do Brasil. Por trás dessa perspectiva amedrontadora, há uma história que se tornou assustadoramente comum entre as democracias do mundo. Os brasileiros estão desesperados por mudanças.  

Contra esse pano de fundo, as opiniões grosseiras de Bolsonaro são interpretadas como francas, sua carreira obscura como congressista é vista como a promessa de um forasteiro que limpará os estábulos e sua promessa de um punho de ferro é tida como esperança de um basta na média recorde de 175 homicídios por dia no ano passado. Evangélico, ele prega uma mistura de conservadorismo social e liberalismo econômico, embora confesse ter apenas uma compreensão superficial da economia. Soa familiar? Ele é o mais recente de uma longa lista de populistas que surfaram em uma onda de descontentamento, frustração e desespero rumo ao mais alto cargo em cada um de seus países. Não é surpresa que ele seja frequentemente descrito como o Donald Trump brasileiro.  

Pulmão da Terra? Já foi…  

E se ele chegar ao Palácio, um dos perdedores será o meio ambiente e, especificamente, a Floresta Amazônica, às vezes chamada de “o pulmão da Terra”, por seu papel na absorção de dióxido de carbono. Bolsonaro prometeu acabar com muitas das proteções sobre as florestas tropicais para abrir mais territórios para o poderoso agronegócio brasileiro. Ele levantou a perspectiva de se retirar do Acordo Climático de Paris, de desmantelar o Ministério do Meio Ambiente e de impedir a criação de reservas indígenas – tudo isso em um país até recentemente elogiado por sua liderança na proteção do meio ambiente.  

E finaliza: é triste para a democracia quando a confusão e o desapontamento distraem os eleitores e abrem as portas para populistas ofensivos, brutos e violentos.  

PS: Nada a acrescentar. Só a lamentar. 


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