Até mesmo amigo, que segue à risca o velho ditado não se meta na vida dos outros, ficou irritado. É que, dias depois de o vice-presidente Hamilton Mourão exaltar o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, em entrevista ao jornal Deutsche Welle, Bolsonaro comemorou, pelo Twitter, os 53 anos da morte de Ernesto Che Guevara.
– Morria na Bolívia o facínora comunista Che Guevara, cujo legado só inspira marginais, drogados e a escória da esquerda. Com seu fim, o comunismo perdia força na América Latina, mas voltaria via Foro de SP, o qual seguimos combatendo.
Aí, o tal amigo recorreu ao “Samba da Bênção”, de Vinicius de Moraes: A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. E, depois, sacou da prateleira o livro Ernesto “Che” Guevara – Obras Completas, Editora Macla, Buenos Aires, 743 páginas – 743 páginas e com um corpo (tamanho da letra) bastante reduzido. Mas, segundo ele, isso não afugenta o leitor.
Até frase incomodava
E no livro, publicado em 1997, temos a famosa frase atribuída ao revolucionário, médico, jornalista e escritor. Sim, atribuída:
– Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamas.
Mas, se não foi ele o autor, pouco importa. O que importa é a manifestação de uma vontade, um firme propósito.
Hasta la victoria siempre
Em Santa Clara, Cuba, um mausoléu guarda os restos mortais de Che Guevara e de seus 29 companheiros mortos na Bolívia, em 1967. Isso mesmo, 29.
E, ainda na estante do amigo, existe o CD (disco compacto) El Che Vive!, de 1997, gravado na França, com a participação de músicos e compositores de países da América do Sul, um tributo por conta dos 30 anos da morte del Che. Composto por 14 canções, foi organizado por Egon Kragel e gravado no Studio de la Bastille. E traz também a voz de Che. O discurso que proferiu na 19.ª Assembleia Geral da ONU, em dezembro de 1964. Sim, ele esteve lá. A Organização das Nações Unidas, uma organização intergovernamental, foi criada para promover a cooperação internacional.
E tem o Atahualpa Yupanqui
E não há como deixar de transcrever a letra de “Nada Más – Homenaje a Ernesto Guevara”, do argentino Atahualpa Yupanqui (pseudônimo de Héctor Roberto Chavero, 1908/1992), compositor, cantor, violonista e escritor, cujas composições foram cantadas por famosos intérpretes, entre eles Mercedes Sosa e Elis Regina.
Teniendo rancho y caballo
ES más liviana La pena
De todo aquello que tuve
Solo el recuerdo me queda.
Nada más… Nada más…
No tiengo cuentas com Diós.
Mis cuentas son com los hombres.
Yo rezo em el llano abierto
Y me hago león em el monte.
Nada más… Nada más…
Me gusta mirarlo al hombre
Plantado sobre La tierra.
Como uma piedra em la cumbre.
Como um faro em la ribera.
Nada más… Nada más…
Alguna gente se muere
para volver a nacer.
Y el que tenga alguna duda
que se lo pregunte al Che.
Nada más… Nada más…
– Alguma gente se muere
Para volver a nacer
Y el que tenga alguna Duda
que se pergunte al Che.
Nada más… Nada más…
Sem esquecer o MST
Ainda sobre as manifestações a respeito da morte de Guevara: o MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – prestou sua homenagem:
Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?