Do VAR à moedinha

Desde 1863 o jogo de moeda decide qual equipe vai começar uma partida de futebol

Quem acompanha o futebol já está acostumado com novidades. O exemplo mais recente é o uso do VAR (sistema de vídeo arbitragem, em inglês video assistant referee – ou árbitro assistente de vídeo). Mas, como futebol continua sendo uma caixinha de surpresas, ainda há quem fique espantado com o que vê. Quando da partida Porto x Liverpool, no dia 17, um cidadão, bem acomodado no boteco, saboreando uma cervejinha e de olho na TV, aguardava o apito inicial.

Árbitro consulta o VAR para decidir sobre lance duvidoso.

No círculo central, Sua Senhoria, o árbitro, chama os capitães e, ato contínuo, exibe uma moeda. Cara ou coroa? O time que levar a melhor escolherá o lado do campo e dará o pontapé inicial.

O cidadão da cervejinha fica espantado: moedinha, cara ou coroa? Que coisa estranha…

Pois é. Terminado o jogo – e o precioso líquido das garrafas -, trata de decifrar a charada. Em casa. E fica sabendo, graças ao blog Cara ou Coroa – de Felipe Branco Cruz, em texto postado dia 28 de novembro de 2017, a origem das coisas. Ou da coisa:

– Desde 1863 é este jogo de moeda que decide qual equipe vai começar uma partida de futebol. O jogo teria surgido na Roma Antiga e era conhecido como “navio ou cara” (navia aut caput), em referência às moedas mais antigas do período. De um lado, elas traziam a imagem do deus Jano (que tinha duas faces, uma delas olhava para frente e a outra, para trás), que os romanos acreditavam ter sido o primeiro a cunhar moedas de bronze. Do outro lado, havia desenhos de embarcações, já que Jano também teria sido o inventor dos navios. Daí o nome “navio ou cara”. Não à toa, o nome desta clássica disputa foi o escolhido para batizar este blog de numismática…

O jogo teria surgido na Roma Antiga e era conhecido como “navio ou cara” (navia aut caput), em referência às moedas mais antigas do período.

Embora as regras do cara ou coroa sejam as mesmas em qualquer lugar do mundo, cada lugar batizou o jogo de acordo com suas tradições. Na Espanha, por exemplo, é “cara o cruz“, já que o país sempre foi muito católico. De um lado havia o rosto do rei e do outro, a cruz católica. No México, se chama “aguilla o sol” (águia ou sol) e no Peru é “cara o sello” (cara ou brasão).

Nos países de língua inglesa também há vários termos para o jogo. O mais famoso é “heads or tails” (cabeças ou caudas). De um lado está a cabeça da rainha (ou do rei) e, no outro, o brasão da monarquia britânica, que tem um leão com o rabo levantado. Ainda em inglês, o jogo também é chamado de penny flipping ou coin tossing (algo como moedas girando). Em português, a expressão vem das antigas moedas de Portugal. De um lado, elas traziam a face do rei (cara) e do outro, a coroa. No Brasil, o nome foi mantido, embora não existam mais coroas.

As partes em disputa decidem qual face da moeda corresponderá a cada uma delas. Se o primeiro escolher uma das faces, ao outro, necessariamente, corresponderá a face oposta. Em se tratando de um processo de escolha, a pessoa designa, a seu critério, qual das alternativas atribuirá a cada um dos lados da moeda. A moeda é então lançada ao ar, de modo que gire em torno de seu próprio eixo, e sua queda é aparada com as mãos. Em alguns casos, pode-se preferir esperar que a moeda chegue ao chão. Vence a parte que escolheu a face da moeda que ficou voltada para cima. No caso de um processo de escolha, decide-se pela opção anteriormente designada àquele lado da moeda.

Moeda derrota o Brasil

E, para lamentar, ficou sabendo que Copa América de Futebol de 1975 teve de ser decidida no cara ou coroa. Brasil e Peru empataram em todos os critérios de desempate. Para decidir quem iria disputar a final foi preciso uma disputa de cara ou coroa. Conta-se que, ao apito final, os capitães dos dois times foram chamados pelo árbitro, como no início de um jogo qualquer. Um escolheu cara, outro coroa, e a moeda foi lançada no ar. E assim foi que Peru “derrotou” o Brasil e se classificou para a partida final da competição.

 

Leia mais artigos de Francisco Camargo

https://www.plural.jor.br/sr-vandalo-sera-que-funciona/

 

https://www.plural.jor.br/e-pode-ficar-pior%EF%BB%BF/

 

 

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Mentiras sinceras me interessam

Às vezes a mentira, ao menos, demonstra algum nível de constrangimento, algum nível de percepção de erro. Mas quando a verdade cruel é dita sem rodeios, o verniz civilizatório se perde

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima