Do retrato às fotos de primeira página

Francisco Camargo relembra histórias de grandes fotógrafos e de fotos que marcaram época

Sobre fotografia, os leitores do Plural foram brindados com (mais) um tremendo texto de Silvio Eduardo Crisóstomo: O fim da fotografia e ascensão das imagens. Silvio é fotógrafo, artista visual, cineasta, coach para fotografia, arte visual e vídeo e life coach para jovens e adultos. Seus filmes foram exibidos na França, Espanha, Inglaterra, Índia e Brasil. Tem trabalhos fotográficos publicados em livros e revistas na Itália, França, Polônia e Inglaterra. Foi curador no Museu da Fotografia de Curitiba. Trabalhos fotográficos expostos em galerias no Brasil e Alemanha.

Trechos da matéria:

– O século 21 marca a despedida da fotografia profissional, sem deixar herdeiros ou novas perspectivas. O fotojornalismo mudou de mãos. Sem critério formal algum qualquer pessoa é um “jornalista cidadão”, tendo como objetivo (consciente ou não) o registro em vídeo da vida mundana em tempo real. Transformaram-se em produtores independentes de conteúdo para grandes veículos de comunicação (e seus filhotes independentes). Do povo, pelo povo e para o povo, como diria Lincoln.

– Lembrando que a etimologia da palavra “jornalismo” vem do latim diurnalis, que significa “relativo ao dia”, “diário”. Portanto é legítimo que o cidadão seja um foto-jornalista amador. A liberdade da comunicação para todos se completa finalmente: escrita, oral e visual.

Da agressão à explosão

Depois de ler (e curtir) o texto, há quem tenha voltado ao glorioso tempo do jornal papel e, claro, das fotos de primeira página, como se dizia nas redações. Alguns exemplos: a foto de Mario Nunes, flagrante de um policial agredindo um preso, e que ganhou o Prêmio Esso Nacional de Fotografia em 1976.

A explosão, em Curitiba, de um caminhão que transportava 1 tonelada e meia de dinamite, no dia 2 de setembro de 1976. Orlando Kissner, da Tribuna do Paraná, foi rápido no clic e pegou o momento da explosão – uma bola de fogo tomando conta da Rua São Luiz, no Cabral, ao desintegrar o veículo que estava parado a cerca de 50 metros de um estabelecimento comercial. “Escutei um barulho ensurdecedor e vi um cogumelo de chamas”, contaria mais tarde o repórter fotográfico.

A explosão abriu uma cratera de 4 metros de diâmetro por 2 de profundidade, nas proximidades da Avenida Anita Garibaldi. Além da loja, outras 90 casas, localizadas nas quadras ao redor, também foram afetadas.

Estilingue contra a cavalaria

Já o repórter fotográfico Edson Jansen, com passagens pelos jornais Gazeta do PovoO Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, ganhou o prêmio Esso de Jornalismo em plena ditadura civil/militar. E a foto, de 1968, entraria para a história da imprensa brasileira: registra o momento em que o estudante José Ferrreira Lopes (depois, já médico, ficaria conhecido como dr. Zequinha) de estilingue na mão enfrentando a cavalaria da PM durante a invasão do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, no Jardim das Américas.

Estudante enfrenta policiais com estiligue no campus da UFPR, em 1968. Crédito da foto: Edson Jansen.

O homem pisando na Lua

Já por conta dos altos avanços da tecnologia, O Estado do Paraná foi o primeiro jornal paranaense a implantar o sistema de radiofotos, ou seja, a receber fotografias enviadas pelo sistema de radiodifusão. E teve muita sorte logo na estreia: a descida da Apolo 11 na Lua, dia 20 de julho de 1969. E o momento histórico foi a primeira radiofoto publicada pelo jornal. A pauta de fotos do dia vinha pelo teletipo, enviada pela UPI (United Press International) aos jornais assinantes. Detalhe: a agência de notícias estadunidense foi fundada em 1907, com sede em Boca Raton, no estado da Flórida. Até a década de 1990, ao lado da Associated PressReuters e France-Presse, foi uma das quatro principais agências de notícias do mundo.

Fotos via orelhão

Ainda por iniciativa do saudoso jornalista Mussa José Assis, O Estado do Paraná e a Tribuna também inovaram por nossas bandas ao adotar a telefoto – envio de fotografias pelo telefone. Bastava fazer a ligação para o departamento fotográfico do jornal e, ato seguinte, retirar o bocal do telefone e acoplar um fio do aparelho transmissor. O fotógrafo Orlando Kissner, o nosso estimado Polaco, aliás, tem uma história ótima: em Goiânia, certa vez, enviou da rua as radiofotos de um jogo de futebol. Utilizou um orelhão – para espanto dos frequentadores de um boteco próximo, que nunca tinham visto algo parecido. A começar pelo barulhinho contínuo, intermitente, do aparelho. As fotos, é claro, foram reveladas no hotel. Mas, como o bar mais próximo era atraente e contava com um orelhão no meio-fio…

Foto genial… Quem será que bateu?

Um registro importante: no Paraná, os jornais estampavam fotos na primeira página sem o devido crédito, ou seja, o nome do autor. Aí, o chefe de redação de O Estado do Paraná e, depois, da Tribuna (quem seria, hein?), resolveu imitar o Jornal do Brasil, o JB do Rio de Janeiro, que identificava o autor do trabalho. Consultado a respeito, o Mussa, diretor de redação dos dois veículos, aprovou de pronto a iniciativa. E os dois jornais passaram a indicar os autores das fotos da primeira página e das páginas internas. Não demorou muito e os demais jornais paranaenses passaram a fazer o mesmo.

PS – ainda por conta do Silvio Eduardo: nada de reclamações saudosistas. A imagem digital é uma evolução lógica no processo histórico do registro de imagens por meio de máquinas. Chegaríamos nisso mais cedo ou mais tarde.


Paraná – 1977

A fotografia de Mario Nunes que quase foi censurada na 1.ª Mostra, e depois ganhou o Prêmio Esso Nacional, virou cartaz no ano seguinte.

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