Do café solúvel ao pré-sal

A nova batalha do petróleo já vem sendo travada em gabinetes

Depois de ler o noticiário sobre o ataque na Arábia Saudita, que provoca o maior corte de produção de petróleo da história(cerca de 5,7 milhões de barris deixaram de ser produzidos – volume que supera as quedas ocorridas na década de 1970), há quem tenha ficado (mais) preocupado com o pré-sal.

O petróleo (para consumo futuro) é nosso. A conquista não foi fácil e é preciso estar alerta, permanentemente, contra os inimigos internos e externos, sempre solertes – tanto ontem como hoje e, certamente, amanhã e depois de amanhã.

Basta lembrar o que ficou conhecido como a guerra do café solúvel. Título de um livro de Hélio Duque, deputado federal (1978-1991), doutor em ciências pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autor de vários trabalhos sobre economia brasileira.

Na abertura da obra, editora Leitura, janeiro de 1970, Duque cita um presidente dos EUA, John Foster Dulles (25 fevereiro 1888/24 maio 1959):

– Uma nação não tem amigos: tem interesses.

Pressão dos gringos

Em 1967, recorda Hélio Duque, Horácio Coimbra, proprietário da Companhia Cacique Café Solúvel, de Londrina, era presidente do Instituto Brasileiro do Café (IBC). Era. Perdeu o cargo por conta da pressão norte-americana para que o Brasil não passasse de mero exportador de café à condição de exportador de café solúvel. Seria algo como exportar borracha para depois comprar pneus importados.

Mesmo sob o terrorismo oficial, o temido AI-5 em plena vigência, em 1970 o então deputado Helio Duque denunciou o caso do que bem classificou de “protecionismo infamante”. Afinal, a simples transformação do café para solúvel, incluindo mais trabalho no valor do produto, já era “um elemento de combate ao subdesenvolvimento”.

Detalhe: o café industrializado valia, então, 20 vezes mais do que o produto em grão.

Prática nociva à industrialização

Em maio de 2007, Hélio Duque voltaria ao assunto:

– No passado, o café foi riqueza que instrumentalizou a industrialização brasileira. Por mais de um século respondeu por dois terços do total das exportações nacionais. De meados do século XIX até a década de 60 do século XX, a economia cafeeira foi o polo dinâmico responsável por um crescimento integrador de vastas áreas do território brasileiro. Do Paraná e São Paulo a outros estados.

– No mundo globalizado, o protecionismo e a geração de barreiras tarifárias vêm sendo uma prática comum utilizada pelos países desenvolvidos. Agora é um bloco econômico com mais de duas dezenas de nações que impõe essa prática nociva contra os países em desenvolvimento. Aceitar sem luta essa prática é deixar o caminho aberto para a sua ampliação, em detrimento dos interesses e do desenvolvimento nacional.

A nova batalha do petróleo já vem sendo travada: em gabinetes aqui e acolá, mesmo que a riqueza esteja a milhares de metros do nível no mar. É o pré-sal, o futuro já presente.

Ameaças a caminho

Ainda a propósito de economia, o site Conversa Afiada do dia 4 deste mês  traz um alerta do professor Marcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado inicialmente no portal Rádio Peão Brasil:

Brasil tende à estagnação econômica. Economia mundial caminha para novo tsunami financeiro.

– Quase onze anos após o começo da crise que abalou a globalização neoliberal, anuncia-se novamente o retorno possível da recessão mundial. Não apenas os indicadores financeiros nos Estados Unidos, como a inversão da trajetória das taxas de juros de curto prazo acima das de longo prazo, mas a desaceleração no ritmo da produção em vários países, inclusive na China, e o desempenho negativo na Alemanha apontam para reversão da economia mundial.

Para concluir: não é por falta de alerta – o problema é o governo que faz questão de continuar pisando em cascas de banana.

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