Dias atrás, por conta da Secretaria Municipal de Obras Públicas, da prefeitura de Curitiba, vieram à memória de um cidadão dois poetas: o nosso Carlos Drummond de Andrade e o grego Píndaro. O primeiro, por conta, é claro, do no meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho…
O segundo, Píndaro, por descrever uma cena: pedreiros em plena labuta. Um viajante se aproxima e pergunta: o que você está fazendo?
– Estou quebrando pedras, não vê?
O segundo pedreiro responde da mesma maneira.
Mas, do terceiro pedreiro, obteve outra resposta. Uma inspirada resposta.
– Estou construindo uma catedral…
Voltando ao nosso caminhante. Como passa diariamente pela Avenida João Gualberto, acompanha atentamente a recomposição de calçadas com petit-pavê – o originalmente chamado mosaico português. Um trabalho de artistas, recuperando as imagens (bem nossas) do pinhão e da pinha.
Voltando à origem
Sobre o petit-pavé, termo de origem francesa, significa pequeno pavimento. Em 1842, no Castelo de São Jorge, uma prisão de Lisboa, o comandante militar Eusébio Furtado ordenou aos presos que cobrissem o pátio com um zigue-zague de pedras. O resultado foi tão fantástico que atraiu a atenção não só dos portugueses. E, consta, foi objeto de uma das primeiras fotografias do mundo, feita por Louis Daguerre.
Batizado de mosaico português, o trabalho deu origem a uma profissão, a de calceteiro. Vai daí que, em Portugal, surgiria em 1986 uma escola para certificação desses profissionais.
E chegou ao Brasil
Rio de Janeiro e Manaus, em 1905, foram brindados com a chegada do mosaico, graças aos portugueses que para lá imigraram.
E a calçada com mosaicos passou a fazer parte da história de Curitiba na década de 1920. Temos como exemplo um trecho da Rua Conselheiro Laurindo, em frente ao Teatro Guaíra, e que remete a ondas do mar, lembrando calçadas de Copacabana. Não demorou e os pinheiros, pinhas e pinhões, estilizados pelo pintor e desenhista Langue de Morretes, ganharam seu devido espaço.
Na Praça Tiradentes, inclusive, encontramos temas indígenas. E, a alguns passos dali, imagens modernistas, com motivos geométricos criados pelo arquiteto Osvaldo Navaro.
Ainda do nosso caminhante – que gosta de saber onde pisa: segundo o dicionário, calceteiro, substantivo masculino, é o operário que trabalha no calçamento de ruas ou de outras superfícies com pedras ou paralelepípedos. Trabalhador que faz o revestimento de calçadas com pedras portuguesas, pedras em forma de cubos que formam mosaicos.
Pra ele, o nosso caminhante, o dicionário deveria acrescentar que o operário é mais do que um trabalhador, é também um artista