De volta ao século VIII – isso mesmo

Diante da omissão do governo, só restou aos professores a greve de fome, o que nos remete a sua origem, Ghandi e outros episódios históricos

Houve época em que professor merecia o devido respeito – por parte de todos, todos, do cidadão comum aos governantes. Ou uma reduzida parcela destes. Tanto que, para elogiar alguém de outro ramo de atividade, era comum, em ato de pura simpatia (e ainda o é), chamá-lo de professor.  

– Jogo de xadrez? Ele é um professor, mestre no assunto…  

– Física quântica? Pergunte para aquele nosso amigo que domina a matéria como se fosse um professor.  

Para alguns, o caos seria o cáus  

O que seria do mundo sem os professores? É fácil imaginar. O cáus, como, certamente, afirmaria o tal do Olavo, autoproclamado filósofo e considerado guru intelectual do supremo mandatário da nação. Ou, segundo este último, fazendo uma corressãoçupremo mandaotário da nassão…  

E aí temos uma situação inusitada, absurda, para não dizer que é algo estrambótico. Isso mesmo, conforme aprendi com professores indo à escola: estrambótico – desarrazoado, esquisito, estranho, ridículo, fora do comum.  

Jejum como protesto  

Como a própria fome, a greve de fome é coisa antiga. Remonta ao século 8. Na Irlanda, as pessoas cobravam dívidas e reparações de injúrias “jejuando na porta do autor da ofensa”. E, a partir de 1917, o objetivo era outro: a proclamação da república. O Exército Republicano Irlandês (IRA), grupo católico que lutava pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, adotou a tática contra o governo britânico.  

O corpo como arma de luta  

Consumindo apenas água, uma pessoa pode sobreviver por um período de, no máximo, 80 dias, quando ocorrerá a morte por inanição. Participando de greve de fome a pessoa coloca seu próprio corpo como arma de luta, um instrumento político.  

O objetivo de uma greve de fome é provocar um debate em toda sociedade sobre uma determinada decisão política e causar impacto sobre tal decisão influenciando o “oponente político” de forma radical e extrema. Diante da greve de fome, o “oponente político” é forçado a repensar seu posicionamento: se ele decidir rever sua decisão, os grevistas atingem o objetivo. Mas, caso ele deixe os grevistas morrer, “a greve de fome também cumpre seu objetivo, que é o de radicalizar os instrumentos políticos mediante decisões que podem vir a comprometer os destinos de toda a sociedade”.  

Os protestos de Gandhi  

Gandhi. Crédito da foto: arquivo.

Em todo o mundo, a história registra exemplos de greve de fome que foram chave para decidir questões políticas. O caso mais famoso foi o de Mohandas Karamchand Gandhi, que ficaria conhecido como Mahatma Gandhi. Mahatma significa grande alma. Gandhi, líder popular na Índia, fez sua primeira greve de fome em 1932. Objetivo: manifestar seu protesto contra a decisão do governo britânico de separar o sistema eleitoral da Índia por castas. Isso mesmo. O governo recuou, mas Gandhi voltaria a recorrer à greve de fome outras vezes, “como forma de resistência popular e desobediência política ao governo britânico que sempre recuava diante da pressão pública neste tipo de protesto”.  

Responsabilidade do Estado  

No Brasil, a Constituição de 1988 assegurava em seu artigo 196, que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”. Ou seja, o que quer que aconteça com um grupo em greve de fome é responsabilidade direta do Estado.  

Voltando a Curitiba  

Governador Ratinho Jr e secretario Renato Feder. Crédito da foto: Rodrigo Felix Leal / AEN.

Como registrou o Plural, o movimento – que durou 8 dias – não sensibilizou o governador Ratinho Jr. (PSD) nem o secretário da Educação, Renato Feder, que insistem na realização de um teste seletivo presencial para a contratação de professores por meio do Processo Seletivo Simplificado (PSS). No total, 47 mil candidatos se inscreveram para as provas, caminho para a escolha de apenas 4 mil profissionais que deverão lecionar em 2021.  

PS: e vale citar o poeta, jornalista, advogado e etnólogo Gonçalves Dias – Viver é lutar.  

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Curitiba começa a sua semana da francofonia 2024

De 20 a 28 de março de 2024 acontece a Semana da Francofonia em Curitiba. Um evento organizado para celebrar a língua francesa e toda sua multiplicidade. Dentro da programação estão gastronomia, mostra de filmes, debate de ideias e muito

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima