De bar em bar – e as coisas de quase todo dia

Há quem afirme que, para dirigir um bar, é preciso carteira de motorista – ou seja, estar com o exame psicotécnico em dia para encarar imprevistos

Voltando no tempo: bar vem da palavra francesa barre, barra em português. É que, em meados do século 18, na França, as tabernas possuíam uma barra que ocupava todo o comprimento do balcão, impedindo que a clientela ficasse bem perto das bebidas. Mas, com o passar do tempo, as coisas foram mudando – nem todas, porém, tanto lá como aqui. No Japão, pedir uma cerveja é fácil: basta dizer biro. O complicado é pronunciar a marca de cerveja. O jeito, então, é ficar calado, escolher pela cor do rótulo da garrafa e apontar com o dedo a sua opção.  

Ainda do Japão: foram japoneses que inventaram o karaokê, cantar com a música instrumental tomando umas e muitas outras. Assim, há bares com salas especiais, à prova de som.  

Do Japão ao Juvevê  

Bar Luzitano, no Juvevê. Foto: reprodução.

Voltando ao Brasil, ou melhor, para um concorrido bar no Juvevê. Como sempre houve, há e continuará existindo, existem fregueses de todos os tipos possíveis e imagináveis. Tanto que o gerente chegou a confessar, de certa feita:  

– Aqui, você precisar estar com a carteira de motorista em dia.  

Breve pausa e a justificativa:  

– Com ela, o exame psicotécnico evidencia o seu nível de habilidades necessárias também para tocar um bar – raciocínio lógico, tomada de decisões, processamento de informação, tomada de informação, comportamento, concentração e memória. E, endossando as palavras de quem está do outro lado do balcão: semanas atrás, um cidadão, todo apressado, entrou no bar e foi direto ao balcão:  

– Salta um Velho Cardoso!  

Após breve silêncio, a resposta, que encerraria o papo:  

– Não temos. Serve Velho Barroso?  

– Sendo velho e de Minas Gerais, tudo bem…  

Depois, paga, agradece e confessa: por hoje chega, já estou meio torradobafo de onça…  

João Bafo de Onça  

Como se trata de um animal carnívoro, que se lambuza na hora de comer a caça e, por isso, fede muito, a onça (com seu bafo) rompeu fronteiras. Por aqui, pessoas que possuem o hálito fétido passaram a ser chamadas de “bafo de onça”.  E chegamos ao (famoso) João Bafo de Onça, personagem de histórias em quadrinhos e até de desenhos animados de Walt Disney. Como ladrão de bancos ou político corrupto, o Bafo enfrentava Mickey, Pato Donald e o Tio Patinhas. Ao lado de Mancha Negra, dos Irmãos Metralha e outros, ele compunha a bandidagem de Patópolis.  

Bafo surgiu em 1925, em desenho animado de Walt Disney. Em 1927, passa a vilão contracenando com o Coelho Osvaldo. No ano seguinte, já enfrentava Mickey em Steamboat Willie. E se consagrou como o mais antigo dos personagens da Disney.  

Breve episódios  

Voltando ao bar em Curitiba: um freguês, consumindo um pastel e tomando um refrigerante, fica meio intrigado ao ler no rótulo da garrafa:  

– Um refrigerante de Cola.  

Cola? Claro, posto que não seria de coca.  

De Curitiba para o Rio de Janeiro  

Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Foto: reprodução.

E temos um episódio com Vinícius de Moraes e Tom Jobim. Depois de tomar uma e muitas outras num boteco, a dupla embarca no carro e vai em frente. Algumas quadras depois, Vinicius, meio preocupado, dá um conselho/sugestão a Tom:  

– Vai devagar. Temos de dobrar na próxima esquina…  

Tom responde:  

– É, mas é você quem está dirigindo…  

O episódio faz parte do livro Faíscas Verbais: A Genialidade na Ponta da Língua, de Márcio Bueno, Editora Gutenberg, 2016.  

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