Das balsas à sonhada ponte de Guaratuba   

A travessia voltou a causar transtornos e remete a uma velha questão que, embora importante, ainda não motivou uma decisão a respeito

Breve diálogo num certo bar de Curitiba, quando alguém entra e é saudado por um amigo:  

– E aí, tudo bem? Gostou do passeio?  

– Adoramos, na ida… Na volta, um tremendo pesadelo.  

Diante do silêncio, a explicação:  

– Na falta de uma ponte, eu e a família estávamos numa balsa do ferry boat de Guaratuba.  

Foi na noite de domingo passado: duas balsas colidiram durante uma travessia, causando pânico e prejuízos (10 carros danificados), mas não houve feridos. A balsa que ia atracar em Caiobá foi atingida por outra, que chegava. E, para complicar ainda mais, a maré estava agitada. As duas balsas ficaram à deriva.  

Voltando no tempo  

E a ponte de Guaratuba? Sobre a viabilidade técnica, ambiental e financeira da obra, a Revista do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) abordou o assunto, anos atrás. Construir ou não construir? Na edição 82, com texto de apresentação de Ana Maria Ferrani, temos que a questão se arrasta há 30 anos.  

Sobre a importância da ponte de Guaratuba para o litoral do Paraná, a revista “participa da discussão sobre as opções e viabilidade da ponte e a construção da BR-101, obras que, apesar de distintas, estão umbilicalmente ligadas. Questões relacionadas à logística de transporte são searas da Engenharia e a expertise do CREA-PR dá condições ao Conselho de se tornar um fórum de debates dos problemas de infraestrutura do Estado, visando a minimizar os gargalos que tantos prejuízos trazem à economia estadual. A construção da ponte de Guaratuba foi apontada como prioritária no Plano Estadual de Logística e Transporte para o Estado do Paraná (PELT) 2020, cuja elaboração contou com o apoio do Conselho. No PELT foram indicadas as soluções para a logística de transporte, servindo como ferramenta para o planejamento estratégico do Estado”. Os 3 pilares da ponte  

A ponte de Guaratuba é a solução? Com este título, a Gazeta do Povo publicou dia 10 de janeiro artigo do presidente do CREA-PR, engenheiro civil Joel Krüger. Alguns trechos:  

– A viabilidade da construção da ponte de Guaratuba precisa ser analisada em três pilares fundamentais: técnico, ambiental e financeiro. Do ponto de vista técnico, não há dúvidas da viabilidade da construção da obra. Afinal, nossa engenharia já construiu obras significativas, como a Ponte Rio Niterói ou a ponte estaiada (um tipo de ponte suspensa por cabos constituída de um ou mais mastros) em São Paulo. Um projeto executivo bem elaborado nos dará os subsídios necessários.  

– Em relação às questões ambientais envolvidas, a solução dos problemas requer uma ampla discussão.  

– A grande equação é a engenharia financeira necessária para a construção da ponte. Sabemos que o governo do Estado não dispõe dos recursos necessários para um investimento desse porte. Além disso, devemos considerar que a obra não pode ser entendida somente como a construção de uma ponte no local onde hoje operam as balsas, mas sim a formação de um corredor viário para a construção da BR-101 no Paraná, no trecho que vai de Garuva à Variante do Alpino (BR-116). Essa intervenção inclusive foi descrita no Plano Estadual de Logística e Transporte do Paraná (PELT), publicação lançada pelo CREA-PR em 2010 que identificou os principais gargalos que impedem a aceleração do desenvolvimento paranaense.  

– Por isso, a localização da ponte deverá ser precedida de um estudo de novas linhas viárias nas áreas urbanas em Matinhos e Guaratuba que sejam capazes de canalizar o tráfego de veículos sem provocar conflitos com o tráfego local urbano ou provocar degradações no tecido urbano. Ou seja, não podemos construir uma ponte desembocando na praça central de Guaratuba, na forma que hoje são efetuados os acessos às balsas.  

– Enfim, é importante que os setores envolvidos considerem as variantes e que apenas a construção da ponte não resolverá os problemas logísticos do Litoral do Paraná.  

PS: o jeito é aguardar, batendo 3 vezes na madeira para que não ocorram novos problemas na travessia.  

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