Da carne de cavalo à carne de onça (mais a vaca atolada)

Francisco Camargo fala de curiosidades sobre iguarias culinárias

Essa aconteceu com um cabôco de Curitiba. Durante visita ao Japão, foi atraído de modo especial pelo cardápio dos restaurantes. Em especial pelo prato chamado basashi. E dá-lhe basashi todo o santo dia. Aí, conversando com um brasileiro que atuava junto a turistas como intérprete, quis saber o que era, afinal, basashi. Quase caiu duro.

– Carne de cavalo.

Afinal, o consumo de carne de cavalo crua é comum no Japão. Ela pode ser chamada de sakura ou sakuraninki. No primeiro caso, significa carne de flor de cerejeira, em virtude da cor rosada. Normalmente é servida crua como sashimis, em fatias bem finas, para serem molhadas no shoyu (molho de soja), mas também pode ser temperada com gengibre e cebola – e aí passa a ser basashi.

Já por nossas bandas…

O cidadão entra no boteco, dá uma geral no recinto e, diante de um aviso afixado na parede, exclama para o freguês mais próximo, abrindo um baita sorriso:

– Oba! Aqui em Curitiba também tem carne de onça. Eu vim do interior e pensava que carne de onça só tinha por lá…

Carne de onça

E não é de hoje. Conforme texto do jornalista João José Werzbitzki, publicado em 2014, a carne de onça é um prato típico de Curitiba desde os anos 1950. Trechos pinçados de seu texto:

– Meu pai, o Onha (Leonardo Werzbitizki), que a criou, a preparava no seu primeiro restaurante, o Embaixador, nos anos 50, para os fregueses que vinham para o aperitivo das 18 horas (muito antes disso se chamar happy hour). Lá se vão mais de 60 anos…

Havia outras delícias que ele preparava todos os dias. A carne de onça, no entanto, era a mais pedida.

Ainda do texto de João José:

– Ninguém sabe ao certo a origem do nome do prato – que, na verdade, é preparado com carne bovina -, mas, dizia meu pai, é que o nome ficou assim porque o bafo é de onça, depois de comer aquela iguaria, preparada com carne crua. Isso mesmo: crua… Com cebolas e iguarias… É saborosíssimo!

Vaca atolada

E a conversa passou para outro prato que (ainda) pode causar algum espanto pelo nome: vaca atolada. Consta que os tropeiros do Vale do Paraíba (SP), em suas incursões, levavam carne banhada em gordura, garantindo assim que as carnes durassem mais. Em suas viagens, colhiam mandiocas para mais tarde cozinhá-las com a carne. Quanto ao nome, a versão mais corrente é de que surgiu no tempo dos bandeirantes, por volta do século XVII, quando tropeiros partiam em busca de ouro e outras riquezas em Minas Gerais. Para a longa viagem, a carne era imersa em gordura, processo que preservava o alimento. Mas, como era comum encarar uma chuva e o gado ficar atolado num banhado, era esse o momento para interromper a aventura e traçar uma boa comida. Daí o nome vaca atolada. As coisas mudaram, é claro. Hoje vai pra panela a costela bovina com osso.

Pra alegria de muita gente.

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