Coisas nossas – e o mimo que faz a diferença

Sempre vale citar Milton Nascimento, em “Canção da América”: “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”...

Como se sabe, o substantivo mimo significa agrado, carinho, atenção especial de alguém, objeto que se dá a alguém; presente. E aí, um amigo (e leitor do Plural), o médico Paulo Mercer, grande profissional, pessoa muito estimada e de marcante presença, também pelos seguidos mimos, trouxe de Antonina uma pequena porção de balas de banana. Isso mesmo. Como um presentinho, ou melhor, um mimo para os amigos.

E, no caso do mimo com balas de banana Antonina, veio o interesse: como surgiu, qual a sua história? Afinal, tempos atrás, havia a bala Zequinha, consumida basicamente para colecionar as figurinhas e, paralelamente, praticar o jogo do bafo. A produção começou em 1928, em Curitiba; a embalagem trazia figurinhas para colecionar, com a finalidade de “popularizar o produto e divertir, um meio de propaganda”.

E aí, até porque tinha lido o (sempre) marcante texto de Andrea Torrente, no Plural, terça-feira da semana passada (13), e ficar sabendo que o “leve e cremoso doce de leite produzido em Curitiba rivaliza com os mineiros, graças ao trabalho da cozinheira Letícia Nogueira, e está à venda online e em lojas físicas”, há quem tenha ido à origem da tal Bala de Banana Antonina.

Após pesquisa no site Balas de Banana Antonina, pinçou o que se segue:

– Nossa história teve início nos anos 70 com o Sr. João Soter Corrêa e seu filho José Carlos Corrêa, conhecido como Zeca ou Zequinha e tem como data de fundação 24/12/1979. A família originária de Santa Catarina veio inicialmente para montar uma fábrica de conservas de palmito. Após um período de trabalho, o ramo começou a enfrentar dificuldades e pensando em outra atividade para sustento de sua família e colaboradores, João Soter e Zeca perceberam que existia demanda por balas de banana e que a nossa região era abundante em frutos de excelente qualidade. Assim, a família iniciou o negócio. Foi em Santa Catarina que encontraram o sr. Zezo, profissional experiente na área de doces de banana, que aos poucos foi desenvolvendo a receita. Ao longo dos anos, o Jair (já falecido) e o Osvaldo, que trabalha conosco até hoje, preservaram o “saber fazer” das nossas balinhas ao longo dos seus 40 anos de tradição.

O início da comercialização foi sem papel, vendas para as bancas da BR-277, entregues pelo próprio Zeca. Isso explica a “tradição” de turistas e viajantes que compram nossas balinhas quando passam pelo litoral, afinal, começamos lá e crescemos juntos com todas aquelas bancas.

Bala de banana de Antonina. Foto Gilson Abreu/AEN.

O papelzinho verde

Foi então que o Zeca e seu pai pensaram em um papel para embrulhar as balas. Idealizando e desenhando manualmente sua arte e cores, Zeca nem imaginou que justamente isso tornaria a nossa marca tão conhecida como BALAS DO PAPELZINHO VERDE. Inicialmente eram embaladas manualmente pelos funcionários, que levavam caixas para casa e traziam prontas no dia seguinte para empacotar. Trabalho demorado e muitas vezes não muito lucrativo, pois imaginem quantas balas ficavam pelo caminho? Mas foi assim até a compra de máquinas para embrulhar, acelerando e melhorando o processo de produção.

Banana caturra (ou nanica)

Tentamos embrulhar em embalagem plástica e com outro formato, mas não deu certo – nossa bala, produto natural, livre de conservantes precisa ser exatamente assim, embalada em papel, com este formato, preservando aquilo que temos de mais importante, nosso produto e nossa marca. A produção foi aumentando, o mercado foi se fortalecendo e a bala do Zequinha foi ganhando cada dia mais reconhecimento.

Nossa matéria-prima, a banana caturra ou nanica, vem do litoral do Paraná, dos arredores de Guaraqueçaba, uma das primeiras ocupações existentes no Paraná por conta de colonizadores portugueses, em 1545. E esse fruto tão especial vem de pequenos produtores locais, fomentando a economia local e fortalecendo as inúmeras famílias.

Mesmo nos adequando as novas leis, aumentando a produção, nossa bala ainda tem muito de um produto artesanal. O descasque da banana manual, os cuidados especiais com nossa massa, nosso saber fazer tem consigo uma família de funcionários que, há décadas conosco, traduz a nossa essência, a alma da nossa história.

Bala de banana de Antonina. Foto: Gilson Abreu/AEN.

Com o prematuro falecimento do Zeca em 2012, nossa empresa se reorganizou e mostrou que uma equipe de colaboradores forte, que trabalha com propósito, uma família unida e amigos de confiança é a base para manter a empresa fortalecida. Hoje ela é administrada pela esposa e filha do Zeca, que trabalham seguindo o mesmo propósito e construindo um novo e sólido capítulo nesta história. Nosso aniversário de 40 anos foi marcado pelo reposicionamento da marca no mercado e lançamento de novos produtos, pois entendemos que além de manter nossa bala sempre com o mesmo “gostinho”, ela se tornou uma troca de afeto.

– Nossos produtos traduzem esse amor, registram memórias e ajudam a contar histórias.

PS: voltando ao Zequinha – a figurinha mais difícil para completar o álbum era a de número 10. Zequinha músico. Com violão, fazendo uma serenata para uma moça na janela.

PS 2 (para mais um mimo): A Lei Municipal n.º 1.503, de 17 de outubro de 1996, criou o hino de Tibagi – letra: José do Carmo Silveira Junior; música de José do Carmo Silveira Junior:

Vale promissor, campinas e pinheirais. Sob a Santa Cruz nasceste a brilhar como o sol. Relva verdejante onde o fulgor resplandece gentil. As águas refletem o luar, tuas riquezas mil. Engastada joia de um povo trabalhador. Tua tradição entoa cantigas de amor. Entre muitos foste sempre o maior, a sorrir, a brilhar. Tens alvo peito, gloria e coração; teu nome és Tibagi. Altaneiro tu és sem igual; luz que brilha sem par. Vê-se, ao longe, o “Canyon do Guartelá”; Salto em cor: magia que a terra dá. Há “pedras” que cintilam no olhar; muitas riquezas plantaram.

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