Alô, alô, donde falam?

Antes dos celulares, quem estava na rua precisava apelar para o orelhão para fazer uma ligação telefônica

Cena que se tornou mais do que comum, até mesmo em velório: todo mundo ligadão (ou abduzido) no celular enquanto não chega a hora do último adeus, ao vivo, à beira do túmulo. Vai daí que um amigo, das antigas, embora não seja tão antigo assim, volta e meia chama a atenção de terceiros.

– Nossa… Você está sem celular? Perdeu ou roubaram?

– Nem uma coisa nem outra. Sou do tempo do orelhão…

Diante do espanto do interlocutor (“Orelhão? Que diabo é isso?”), abriu uma exceção (ou, como escreveria o ministro, excessão), já que se aposentou (por tempo de serviços, sem nunca ter sido funcionário fantasma) na CTN – Companhia Telefônica Nacional.

E, antes que o interlocutor voltasse a orbitar em torno do celular (ou seria smartphone?), tratou de explicar:

– Orelhão, oficialmente Telefone de Uso Público (TUP). Nome dado ao protetor para telefones públicos. Projetado pela arquiteta e designer brasileira, nascida na China, Chu Ming Silveira, foi lançado em abril de 1972. Inicialmente, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, ainda encontramos orelhões em todo o Brasil, em países da América Latina e outros cantos do mundo.

Os primeiros alôs

Data dos anos 1920 a instalação no Brasil dos primeiros telefones de acesso público, os orelhões. A população do país era de 30.635.605 habitantes. Com caixa coletora de moedas, adaptada a um aparelho comum, esses aparelhos eram instalados em estabelecimentos comerciais que firmavam contrato com a Companhia Telefônica Brasileira, empresa de capital canadense. Na época, a CTB era responsável pela telefonia nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Relatam os estudiosos do assunto que os telefones realmente públicos só chegaram às calçadas brasileiras em meados de 1971, “quando mais de 93 milhões de pessoas já habitavam o vasto território nacional e nem se sonhavam em carregar um telefone no bolso ou bolsa. A telefonia móvel era algo apenas do imaginário e o telefone celular só seria lançado em 1973, e acessível a bem poucos”.

Vandalismo, sempre presente

Ainda de livros de história, que imprecionam o ministro da educassão, temos que, dos quase 100 milhões de habitantes do Brasil, 52 milhões viviam em áreas urbanas, segundo dados do IBGE. “O resultado disso é que, em muitos locais, ouvir e ser ouvido a partir de um telefone público, instalado no meio da rua, representava um verdadeiro desafio”. Assim, a CTB desenvolveu cabines circulares de fibra de vidro e acrílico e, para testar a novidade, instalou 13 delas na cidade de São Paulo. “O resultado não agradou à companhia que detectou utilização inadequada do equipamento, alto índice de vandalismo e concluiu ainda, que a espaçosa cabine, além de abafada, acabava por disputar com os transeuntes o exíguo espaço das calçadas”.

A arquiteta Chu Ming Silveira foi a idealizadora do orelhão brasileiro.

Coube à arquiteta Chu Ming Silveira o projeto que resultaria num dos grandes ícones do design brasileiro: o orelhão. Chu Ming, que chefiava a seção de projetos do Departamento de Engenharia da Companhia Telefônica Brasileira, encontrou a solução: um design e acústica adequados às condições climáticas brasileiras. “A solução proposta por Chu Ming atenderia, com grande sucesso, a toda a série de necessidades elencadas por ela”.

Atenderia, até que o vandalismo e o furto de fios, moedas e outras peças vieram destroçar os orelhões. Ainda estão espalhados por Curitiba e outras cidades, mas aos pedaços. Não bastasse isso, temos ainda nas calçadas de Curitiba o furto de hidrantes, o tal registro de recalque da Sanepar, que contêm peças de bronze. Para utilização de água em casos de emergência, as peças são arrancadas para comércio clandestino ou trocas em pontos de tráfico de drogas, conforme tem sido noticiado.

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