Ainda é o melhor remédio…

George Orwell, Stálin, o general Figueiredo e as piadas sobre o poder

No livro A Revolução dos Bichos, George Orwell – aliás, Eric Arthur Blair, 1903-1950, nascido na Índia e educado na Inglaterra -, deu uma tacada de mestre já no prefácio. Escreveu sobre a liberdade de imprensa. Liberdade de imprensa, isso mesmo. Não saiu publicado.

Quanto à revolta dos bichos, temos um grupo de animais revolucionários que toma o poder dos donos de uma fazenda e organiza um regime igualitário e justo no local. O equilíbrio, porém, é ameaçado por uma dupla de porcos totalitários. O original datilografado só foi encontrado anos mais tarde. Nele, o autor de 1984 e outras obras, aponta que “o inimigo é a mentalidade de gramofone, concordemos ou não com o disco que está tocando agora”. Apesar da aposentadoria do (instrumento) gramofone, Orwell continua atualíssimo.

Ainda dele, o George dos bichos:

– Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.

– Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.

Ainda sobre grandes autores, temos Foi-se o Martelo – A história do comunismo contada em piadas, de Ben Lewis, lançado pela Record em 2014. Fica-se sabendo, inclusive, que Stalin recorreu ao humor (dele) para tentar popularizar o regime stalinista. Depois, é claro, viu-se forçado a despachar para a Sibéria quem fazia piadas contra ele. Em 1953, quando Stalin bateu as botas, havia 2,5 milhões de presos no Gulag – quase 200 mil por contarem piadas. Que, é óbvio, não agradaram os donos do poder.

No início, pipocavam denúncias por escrito às autoridades superiores com o teor das piadas. Tiro pela culatra: mais gente tinha acesso ao anedotário e se encarregava de passar adiante a “cultura cômica do mundo comunista, em torno de filas, escassez de alimentos, burocracia, culto da personalidade” e etc.

Três piadas, reproduzidas no livro. Uma, que circulou em 1962, não perdoa Nikita Kruschev, apontado como um falastrão:

– É possível embrulhar um elefante com um jornal?

– Sim, se o jornal trouxer um discurso de Kruschev…

A outra: na corrida espacial, acelerada pela descida dos norte-americanos na Lua, em 1969, Leonid Brejnev convoca todos os astronautas da União Soviética e anuncia ter um plano para ultrapassar os EUA:

– Camaradas! Vocês vão pisar no Sol.

– Mas, camarada Brejnev, nós vamos pegar fogo!

– Você acha que eu sou bobo? Vocês vão pousar à noite!

A terceira: Stalin vai inspecionar a instalação de uma antena no topo de um edifício, em Moscou. Ele e alguns asseclas. Aí, nota que se formou multidão lá embaixo, gritando e acenando. Quer saber o que eles estão gritando. Um assessor, meio constrangido, responde:

– Pula! Pula! Pula!

Apelido de caserna

A propósito de rir da própria desgraça alheia e da própria, como um lenitivo para as agruras do momento, há quem recorde um lance do tempo da ditadura civil/militar de 64. Desfile de 7 de setembro. E eis que surge à frente de uma tropa o general Newton Cruz. Montado num cavalo branco. No palanque oficial, nem o general Figueiredo resistiu, revelando inclusive o apelido do já temido militar:

– Olha o Nini! Ele pensa que é Napoleão…

E Guernica – quem foi o autor?

Tem ainda o caso de Guernica, graças a Pablo Picasso. Bombardeada pelos nazistas em 26 de abril de 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, Picasso produziu o quadro desolador da pequena cidade arrasada, que servira de teste para os bombardeiros alemães. Nazistas já se antecipando ao que seria a II Guerra Mundial.

Conta-se que, já na Paris ocupada, um oficial nazista, diante do grande mural, grande em todos os sentidos, quis saber de um funcionário do museu:

– Foi você quem fez isso?

– Não, foram vocês.

Sobre o/a autor/a

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