A outra face da libertação dos escravos

A expressão “pra inglês ver”, que se tornaria comum, surgiu em Paranaguá; era o falso bloqueio a navios negreiros só para driblar a vigilância inglesa em 1831

Aventuras na História, da Editora Caras, de São Paulo, faz parte daquelas publicações para ler, recomendar e guardar junto aos livros, ao alcance para consultas. Na edição do mês passado, temos como principal assunto o fim da escravidão no Brasil. Ou, como destaca a revista, já na capa, a lenta abolição no país.  

– O processo que previa o fim da escravidão em terras brasileiras foi gradual e não eliminou o problema no país.

E temos ainda, do texto assinado por Diego Antonelli, a “Abolição em conta-gotas”, posto que “o Brasil foi o último país do Ocidente a dar fim à escravatura e não criou nenhum mecanismo de integração dos ex- escravos na sociedade – provocando os altos níveis de desigualdade e de racismo que caracterizam a nação brasileira até os dias de hoje”.

Do litoral a Curitiba

Ainda do texto de Diego Antonelli: nele, temos um episódio com Paranaguá como cenário e a origem da expressão “para inglês ver”. Isso mesmo, expressão que por muito tempo marcou presença em textos e diálogos. O motivo?

– Em 1831, o Brasil, sofrendo pressão, editou a Lei Feijó, que proibia a importação de escravos. E desse ano em diante, parte da costa brasileira passou a ser vigiada por navios ingleses. Mas a vigilância não impediu que o crime continuasse. Além disso, a fiscalização por parte do governo brasileiro fazia tanta vista grossa que deu origem à expressão “para inglês ver”. Ou seja, um faz de conta.

Ainda do texto de Antonelli:

– Retirado à força de sua pátria, na África, quando tinha entre 10 e 12 anos, Luís jamais voltou a ver seus pais e irmãos. Ele chegou ao Brasil nos primeiros meses de 1850 e, durante 27 anos, foi escravizado em Paranaguá, no litoral paranaense, até que, em janeiro de 1877, entrou com um processo pedindo a alforria ao seu proprietário Jacinto Luís Figueira. Somente em 1879 a justiça prevaleceu e Luís passou a ser um homem livre. O processo, movido pera libertá-lo, encontra-se no acervo do Museu do Tribunal de Justiça do Paraná.

Enfim, a Lei Áurea

O que é a Lei Áurea? Foi a lei sancionada pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888, abolindo a escravidão no país. Lei Áurea ou Lei Imperial número 3.353. E no dia 13 de maio passamos a comemorar o dia da libertação dos escravos. Pelo menos no papel. Mas era o fato histórico mais importante após a Proclamação da Independência, em 1822.

Como bem assinala Antonelli, depois de muita mobilização e pressão da população negra brasileira, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, legalizando a libertação dos escravos do país. Infelizmente, o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravatura. Por mais de 350 anos, o Brasil foi o destino de mais de 4,5 milhões de escravos africanos – foi o maior território escravagista do Ocidente, mantendo este sistema tanto no campo como na cidade – o lugar de trabalho era o lugar do escravo.

E vale insistir, ressaltar, como o fez a publicação Aventuras na História:

– Processo que previa o fim da escravidão em terras brasileiras foi gradual e não eliminou o problema do negro no país.

PS: terra de todas as gentes? Sim, mas cada um no seu devido, ou indevido, lugar.


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