Os portugueses subiram a serra

Os primeiros passos e os primeiros povoadores de Curitiba

Era final do século 17 quando a futura capital paranaense começou a chamar a atenção da Coroa Portuguesa. Até então, como escreve o professor e historiador Ruy Wachowicz, o território que atualmente integra Curitiba era tomado por garimpeiros esparsos que viviam em abrigos improvisados cobertos por folhas na tentativa de faiscar ouro por essas bandas.

Além deles, os tupis-guaranis marcavam presença na localidade. Os indígenas jê meridional e os caingangues também possivelmente habitaram territórios que compreendem a região de Curitiba, recorda o historiador Renato Mocellin. Nunca é demais lembrar que antes de qualquer colonizador ou imigrante pisar em terras brasileiras, esse solo já era ocupado e habitado por diversas etnias indígenas.

Esse era o retrato de uma Curitiba que sequer sonhava em se transformar na cidade que é hoje. As coisas começaram a mudar quando o administrador de minas nos distritos do sul do Brasil, Eleodoro Ébano Pereira, comunicou oficialmente a descoberta de ouro na região às autoridades portuguesas entre 1648 e 1651. Nessa época, ele era o único representante das autoridades governamentais na localidade que hoje faz parte do território curitibano. Vale lembrar que nessa época nem o estado do Paraná existia oficialmente – muito menos Curitiba.

Apesar de ser um emissário do governo, Ébano Pereira não era propriamente um povoador da região. Pereira havia organizado, a partir de Paranaguá, uma expedição em direção ao planalto curitibano em busca de ouro.

Motivados, sobretudo, pela exploração do minério e, também, para prear índios a fim de servirem de escravos, alguns bandeirantes lusitanos vinham a Curitiba. Porém, essas bandeiras – em geral – passavam sem deixar povoadores. Apenas um ou outro era atraído – a primeira povoação surgiu na margem do rio Atuba e foi chamada de “Vilinha”. Por volta de 1654, os poucos que ali se situavam abandonaram o local, transferindo-se para onde hoje é a Praça Tiradentes. “A causa mais plausível é a intensa umidade do terreno antigo”, escreve Mocellin.

Primeiros povoadores

O cenário mudou por volta de 1661, quando já há registros dos primeiros povoadores que se estabeleceram em terras curitibanas: Baltazar Carrasco dos Reis e Mateus Leme. Segundo registros históricos apontam, ambos já tinham residência fixa no vale do rio Barigui. O historiador Romário Martins adverte em seus livros que é muito difícil precisar uma data exata do início da povoação na região. Leme, inclusive, recebeu o título de capitão povoador de Curitiba em 1668 (neste ano, a vila passou a ser formada praticamente por um agrupamento de casas em torno de uma capela).

O capitão paulista Baltazar Carrasco dos Reis era um importante bandeirante. Ele esteve presente na bandeira de Antônio Domingues e percorreu os Campos de Curitiba. Em 1661 obteve do então governador Salvador Corrêa de Sá e Benvides uma sesmaria (um grande lote de terra) na localidade do Barigui.

Ele tinha como vizinho Mateus Leme, que se fixou na região na mesma época. Leme é descendente importante de uma nobre família paulista, também era bandeirante e participou das investidas comandados pela bandeira de Fernão Dias Pais Leme no Sul do Brasil. O genealogista Fernando Negrão pontua que tanto pelo lado materno quanto paterno, Matheus Leme descendia de famílias de “nobreza comprovada”.

Carrasco dos Reis e Leme ainda eram aparentados e os seus lotes faziam divisa: as terras de um começavam onde acabavam as do outro. Tanto um quanto outro são considerados os povoadores de Curitiba, sendo que os seus descendentes fizeram, durante anos, parte elite política da cidade.

Esse é o passado de uma Curitiba que sequer existia. Somente em 29 de março de 1693, o capitão povoador Mateus Leme promoveu a primeira eleição para a Câmara de Vereadores e as instalações da vila. Estava fundada a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, depois Curitiba.

A partir desse sobrevoo histórico é possível perceber como muita coisa ainda se assemelha a um passado que parece tão distante. A busca pelo lucro e pela riqueza foram as razões que falaram mais alto durante todo o processo de colonização e exploração portuguesa no Brasil – por esses lados a situação não foi diferente, com a busca desenfreada por ouro e a corrida por capturar indígenas. Já as relações interpessoais e políticas sempre privilegiaram, desde aquela época, famílias abastadas e tidas como “nobres”. Um passado que, parece, insistir em se fazer presente na atualidade.

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