A celebração de Ivana Kupala atraiu a atenção dos curiosos nos últimos anos. A série “Desalma” da Globoplay popularizou uma das principais festas da cultura ucraniana que no Brasil acabou sendo adaptada e “cristianizada” aos festejos de nascimento de São João Batista, no dia 24 de junho de cada ano.
Entretanto, no Brasil, a única cidade que realiza a Ivana Kupala tal qual ocorre em território ucraniano é Mallet, localizada a aproximadamente 200 quilômetros de Curitiba. Como a Ucrânia segue o calendário Juliano (com treze dias de atraso com relação ao nosso), a festa é celebrada, em geral, na noite do dia 6 para o dia 7 de julho. Neste ano, os festejos, organizados pelo grupo folclórico Spomen, foram marcados para o dia 9.
A palavra Kupalo vem do verbo kupaty, que é traduzido como “lavar alguma coisa” ou “tomar banho”. Na religião antiga, acreditava-se que, neste dia, o deus do sol supostamente tomava banho, imergindo nas águas ao horizonte, o que saturava a água com o seu poder. Assim, todos os que tomassem banho neste dia absorveriam alguma força especial.
Dessa forma, dois elementos são essenciais para o ritual: a água (que representa o feminino) e o fogo (para simbolizar o masculino).
A festa, na antiguidade, era essencialmente ligada à juventude e, também, na busca dos casais para manterem um bom casamento. É importante ressaltar que as uniões costumavam acontecer ao final do período das colheitas (no mês de outubro, levando em conta o calendário do leste europeu), o que tornava o período propício para os acertos sobre futuros casamentos.
Na noite de Ivana Kupala os jovens se reuniam fora da aldeia, próximo a um riacho ou a uma lagoa, onde acendiam fogueiras e aproveitavam para queimar ervas especiais abençoadas para atrair sorte no amor e na colheita.
Ao som de canções chamadas de kupalny, os jovens preparavam os vinotchky (guirlandas de flores) e dois bonecos de palha, um representando a força masculina (Kupalo) o outro a feminina (Marena). Em algumas regiões, os bonecos eram substituídos por árvores decoradas.
Ao longo da festa, os casais deveriam pular a fogueira de mãos dadas com a finalidade de garantir uma união duradoura. Ao final da celebração, os bonecos eram atirados na fogueira ou nas águas, pois o povo acreditava que dessa maneira seus espíritos se reuniriam em outro plano e garantiriam a perpetuação da espécie humana.
Há ainda muitas outras tradições e rituais específicos envolvendo a data, como atirar as guirlandas ao rio ou na fogueira, como uma oferta à Kupalo, para pedir um grande amor; buscar flores “mágicas” que florescem apenas nessa noite e o encontro com seres fantásticos, como as russalky (sereias) e mavky (ninfas das matas).
NOTA: Parte desta coluna foi publicada no livro “Ucrânias do Brasil – 130 anos de cultura e tradição ucraniana”, escrita por Andreiv Choma, Talita Seniuk e Diego Antonelli.
Sobre o/a autor/a
Diego Antonelli
jornalista formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e tem mestrado em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná. Atuou nos jornais Diário da Manhã e Jornal da Manhã, ambos de Ponta Grossa. Em 2011, começou a escrever para o jornal Gazeta do Povo. Na Gazeta, Antonelli assumiu a página semanal que o veículo mantinha
sobre História. Em 2008, lançou seu primeiro livro – Em Domínio Russo. Em 2016, lançou a obra Paraná – Uma História. Participou, como coautor, do livro Vindas – Memórias de Imigração e escreveu ainda Jornal Voz do Paraná – Uma história de resistência. Publicou também a obra TJPR -130 anos de História.