Dois séculos depois, nasce uma sede para a prefeitura

O local onde se situa o Paço da Liberdade era o endereço do Mercado Municipal, que foi parcialmente demolido para a construção da prefeitura

Apesar de Curitiba ter sido fundada, ainda como vila, em 1693, somente 223 anos depois é que a capital paranaense foi contemplada com uma sede própria para a prefeitura. Hoje, pode parecer estranho, mas era uma prática comum na época.

Tanto que Curitiba foi considerada uma das pioneiras no Brasil a constituir uma sede própria para a sua prefeitura, com a inauguração do Paço da Liberdade, em 1916.

Durante dois séculos, o que existiu foi uma administração pública itinerante e sem sede própria. Durante muito tempo, a prefeitura chegou a funcionar em salões de igrejas e chegou até a dividir espaço com a cadeia pública. Em algumas sessões da Câmara, os vereadores chegaram a usar guarda-chuvas devido às goteiras existentes em alguns dos espaços que ocupou. A prefeitura “até então ocupara diversas casas alugadas”, ressalta o historiador Marcelo Sutil.

A vontade de construir uma sede própria era antiga, mas nunca havia dinheiro suficiente. Foi assim até o engenheiro Cândido de Abreu assumir o cargo de prefeito no começo da década de 1910.

Importante detalhar – de forma breve – algumas histórias curiosas. Antes de Curitiba ter prefeitos, teve uma Câmara de Vereadores. A primeira Câmara foi constituída logo em 1693. Conforme detalha a própria página virtual da Prefeitura, o cargo de prefeito passou a existir no século 19, em duas oportunidades bem distintas: “A primeira foi em 1835, durante o regime monárquico, quando o presidente da Província de São Paulo, da qual Curitiba era Comarca, assinou a Lei 18, nomeando José Borges de Macedo. Ele governou até 1838 – quando o novo presidente da Província de São Paulo assinou a Lei 95, extinguindo o cargo”.

A segunda vez que Curitiba teve prefeito foi em 1892, já no período republicano, quando foi eleito Cândido Ferreira de Abreu para o seu primeiro mandato. Na maior parte de sua história, portanto, Curitiba foi administrada pela Câmara Municipal.

Casa da Câmara e Cadeia

Foi em 1721 que aconteceu a construção da primeira Casa da Câmara e Cadeia de Curitiba, por ordem do ouvidor Raphael Pires Pardinho, no largo da Matriz, atual Praça Tiradentes, próxima ao pelourinho que existia naquela região. Essa edificação durou até 1897, quando desapareceu consumida por um incêndio.

Com o decorrer dos anos, especificamente entre 1835 e 1850, a Câmara Municipal de Curitiba passou a funcionar nos mais diversos espaços: ora nos corredores da Igreja Matriz ora na Capela de São Francisco de Paula. Em 1850, voltou funcionou temporariamente em algumas ocasiões no velho prédio da Câmara e Cadeia. Há registros, por exemplo, de que, “em 12 de março de 1851, reuniu-se na sala da casa do alferes Borges de Macedo, por se acharem ocupadas as duas salas do edifício que serve de Sessões, uma com o conselho de qualificação e outra com o Liceu”.

A partir de 1894, passou a funcionar em prédios alugados nos arredores da Praça Carlos Gomes e na Praça Tiradentes, por exemplo. De 1897 a 1900, a cadeia pública serviu de sede para a Câmara de Vereadores. Antes, em 1896, um terreno na atual Praça Santos Andrade chegou a ser destinado para a edificação da sede do poder público municipal. No entanto, as obras não avançaram e o projeto morreu antes mesmo de nascer.

“O Poder Executivo ocupou junto com a Câmara Municipal vários imóveis alugados. A necessidade de uma sede própria ganhou força na segunda administração de Candido de Abreu (1913-1916)”, explica a pesquisadora Elizabeth Amorim de Castro.

O Paço

O local escolhido para a edificação da sede da prefeitura curitibana foi a atual Praça Generoso Marques, próximo da Catedral. Em 1914, baseada no projeto arquitetônico do próprio prefeito, começou a construção do Paço da Liberdade – um dos mais imponentes prédios de Curitiba até hoje.

Até então, o local onde se situa o Paço da Liberdade era o endereço do Mercado Municipal, que foi parcialmente demolido para a construção da prefeitura. O mercado funcionou naquele espaço desde meados de 1870 e depois foi fixado em um chalé de madeira na atual Praça Dezenove de Dezembro.

Nessa época, Paranaguá já tinha prefeitura com sede própria. A necessidade era tamanha que o prefeito incluiu a obra do Paço da Liberdade como uma “necessidade urgente”.

Por aproximadamente dois anos, as obras do Paço da Liberdade seguiram a todo vapor, com a inauguração oficial em fevereiro de 1916. Por mais de meio século, o local abrigou cerca de 50 políticos que assumiram de forma definitiva ou interina a prefeitura da capital. O último dia de despachos do Executivo Municipal no edifício foi 13 de novembro de 1969, sob o comando do prefeito Omar Sabbag.

Depois

Em 1970, após ter abrigado temporariamente o Projeto Rondon, o prédio teve a restauração iniciada e interrompida em 1971, sendo retomada em meados do ano seguinte, após reformulação do projeto pelo arquiteto Cyro Corrêa de Oliveira Lyra.

Por quase cinco anos, o Paço ficou sem função. Até que em janeiro de 1974 o Museu Paranaense foi transferido para o espaço, onde ficou até 2002. Desde então, o local ficou abandonado, deteriorando com o tempo.

Os trabalhos de restauro iniciaram em 2007, por meio de uma parceria do poder público com o Sistema Fecomércio/Sesc. Bisturis foram usados para raspar as tintas que encobriam a pintura original nas paredes internas. A restauração do espaço durou dois anos, sendo reinaugurado em 2009 como o atual Centro Cultural, administrado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). Atualmente o prédio abriga bibliotecas, livraria, café cultural e musical, sala de cinema, estúdio e música e sala de exposições.


Para ir além

Prefeitura de Curitiba: https://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/sedes-do-poder-municipal-de-curitiba/184

Posse, Zulmara; Siqueira, Márcia Dalledone; Chiesa, Paulo. História e uso do Paço da Liberdade. Curitiba: Sesc, 2009.

Castro, Elizabeth Amorim de. Edifícios públicos de Curitiba: ecletismo e modernismo na  arquitetura oficial. Curitiba: Edição do autor, 2011.

Antonelli, Diego. Paraná – Uma História. Curitiba: Arte e Letra, 2016.

Sutil, Marcelo. Eixo Barão-Riachuelo. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba. https://pergamum.curitiba.pr.gov.br/vinculos/monogr/Texto/sutil_eixo_barao.pdf

Patrimônio Cultural do Paraná: http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=198

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