A grande peste

Em 1686, uma outra epidemia se alastrou pelo litoral brasileiro e deixou muitas vítimas em Paranaguá

Um “castigo divino” que matou famílias inteiras no litoral do Paraná. Era, ainda, época do Brasil Colônia e o Paraná já vivia a sua primeira epidemia registrada pela História. O ano de 1686 entrava para os registros históricos como um dos mais calamitosos do país. Nessa época, o Paraná sequer existia oficialmente (só passou a existir legalmente em 1853, após a sua emancipação).

Se a pandemia da covid-19 preocupa o mundo todo há mais de dois anos, naquele ano uma peste atravessou o litoral brasileiro e atacou impiedosamente os moradores de Paranaguá. Conforme aponta o historiador João Pedro Dolinski, em sua dissertação de mestrado, os habitantes locais batizaram o mal de “peste grande”.

Antônio Vieira dos Santos, considerado o primeiro historiador paranaense, registrou o episódio em sua obra “Memória Histórica de Paranaguá”: “A justiça divina quis enviar um severo castigo a todos os seus habitantes, a mais espantosa peste de que não há memória, denominada ‘bicha’. Apareceu neste continente, caminhando ao longo da costa, chegou até Paranaguá, onde a denominaram a ‘Peste Grande’. Esse peste era tão ativa e mortífera que em breve dias dava a morte a famílias inteiras”. O médico francês José Francisco Xavier Sigaud escreveu que os portugueses também deram a denominação de ‘bicha’ à doença devido à disenteria que ela provocava.

Os sintomas descritos eram: calor excessivo, pulso fraco, intensas febres seguidas de delírios e escarros de sangue. “A população local combateu a doença mediante o cozimento da erva do bicho que fazia os doentes vomitarem e/ou evacuarem bichos cabeludos análogos a lagartas das hortas”, escreve Dolinski. A erva do bicho é também conhecida como cataia, é uma planta utilizada como estimulante, diurético e para tratamento de hemorroidas. O fato de os doentes expelirem lagartas pode estar relacionado ao fato de eles tomarem o chá com a erva mal higienizada.

Vieira dos Santos revela que a doença havia surgido em Pernambuco durante o ano de 1680 e que teria se propagando por causa da abertura de barricas contendo carne podre e que eram originárias de São Tomé, no continente africano. “De Recife teria se alastrado para Olinda e territórios da Bahia”, escreve Dolinski. Devido ao pânico gerado pela doença, muitos recorreram à fé e passaram a realizar preces pedindo intervenção de Nossa Senhora do Rocio.  

Após o surto da Peste Grande em Paranaguá, só depois de 102 foi registrada outra outra epidemia na região, quando a chamada ‘disenteria de sangue’ matou cerca de 300 pessoas na região litorânea do Paraná.

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